quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Tudo o que é pequeno tem graça.



"...que um grande amor, não é
coisa pequena
que nada é maior que amar."

Coisas pequenas - Madredeus

O chá deve ser sempre bebido em boa companhia*

Há coisas perfeitamente inúteis que tem montanhas de piada. Esta é uma delas. 



* (ou, Cá em casa, no Natal tal como nos outros dias, não há monotonia.)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

180 dias de inverno



Volto a ouvir o Elvis Costelo e fico com a sensação que ele se adere como um velcro à memória que tenho da tua presença.  Sinto o corpo a esvaziar-se da energia necessária para viver todos os dias. A escassez de recursos, apregoada em todos os meios de comunicação, entranhou-se-me nas células que decidiram entrar em greve e se recusam a transformar nutrientes em força vital. Sinto necessidade de poupar o pouco que me resta. Faço uma lista e começo a desligar, aos poucos, tudo o que me consome. Tu vens já a seguir.

O amor no Natal


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim...*

Da minha mãe veio o gene da generosidade, que nela se encontra exacerbado até ao infinito, de tal forma que a torna capaz de dar a camisa que traz vestida mesmo a quem não a trata com a cordialidade que merece. Do meu pai herdei a convicção arreigada de que acima do eu nada existe e que, lado a lado com ele, apenas convivem aqueles que por decreto ele jurou proteger. A mistura resultou num cocktail que não raras vezes consegue harmonizar-se com o mundo, e que propicia a aceitação de diversas posições face ao binómio altruísmo-egoísmo, desde que as mesmas comportem alguma flexibilidade e capacidade de escutar e aceitar o outro. Nesses casos, a herança materna salta para a arena e a capacidade de me dar torna-se quase inesgotável. Para os discursos fundamentalistas reservo a visão egotista que o meu pai tão carinhosamente me ofertou, coloco um sorriso nos lábios, mando o sujeito discursante para o "raio que o parta" e abandono a discussão.
Assim por assim, a tolerância às posições extremas está apenas reservada para os progenitores. Afinal, em última instância, foram eles os ilustres criadores.


* Modinha para Gabriela - Gal Costa

Perdoa-me lá o plágio, ó Godinho.

Esta será recordada como a semana antes do Natal em que uma caneta preta, grossa, daquelas para escrever em acetatos começou a fazer riscos indeléveis em cima de palavras, em que o novo ano, o ano da ausência, começou mais cedo, em que a fénix já não renascerá das cinzas porque desperdiçou a última vida. Esta será recordada como a primeira semana do resto da tua vida.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Só faz falta quem está

Explica, àqueles que ainda não perceberam mas também não desistiram, que a rudeza que por vezes lhe invade o trato não é mais do que o contrapeso da generosidade que a caracteriza, e que é no equilíbrio entre ambas que se mantém funcional o seu sistema emocional. Explica que é necessário dar-lhe tempo para que o contra ciclo entre em funcionamento e o mais esperado possa emergir de dentro de si. Explica que aqueles que tiverem paciência serão os recompensados.

domingo, 18 de dezembro de 2011

sábado, 17 de dezembro de 2011

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Eu não posso ir a lado nenhum #2

No meio anamnese e da explicitação da sintomatologia associada a uma gastrite crónica superficial, dou comigo a discutir as propriedades gastronómicas do queijo da ilha de S. Jorge e dos enchidos de Trás-os-montes, assim como do melhor vinho tinto para acompanhar cada um deles.
Com este nível de conversas, estou a um passo de me tornar hipocondríaca.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O sol também nasce para quem anda nas nuvens



Einsteigen bitte

Recebe-nos de braços abertos e com o coração nas mãos. Pede-nos para a percorrermos, centímetro a centímetro, premiando a nossa obediência com pequenos tesouros que esconde dos olhos menos atentos. Arrebata-nos com a grandiosidade dos seus marcos e comove-nos com a opulência dos mais ínfimos pormenores. Não nos conquista pela beleza, que quase poderemos dizer que é banal. Cativa-nos pelo suave aconchego que, desinteressadamente e sem pressas, nos cola à pele e aos sentidos.
Mais do que tirar a respiração, Berlim consegue pôr-nos a respirar mais devagar.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Chamem-me parola à vontade...

...mas esta continua a ser a minha música de Natal.

Definições

Vivo a minha vida à boleia dos pretextos. É sempre necessário mais um para que algo aconteça, para que o passo seja dado. Mas depois, posta em movimento a engrenagem, já nada a faz parar. Não sou pró-activa, sou simplesmente activa.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Os meus vizinhos velhotes andam ali a ameaçar-se de tiros de caçadeira

Num esforço para compreender os pontos de vista alheios, persisto em escutar atentamente até ao momento em que o cansaço provocado pelos discursos egocêntricos me vence. Nessa altura, adquiro um género de surdez histérica e passo a ouvir apenas música na minha cabeça. Trálálá. Trálálá...

O John Huston já tinha feito bem melhor

Prefiro um Cronenberg atormentado, atento ao mais ínfimo pormenor da construção das personagens, obsessivo com  rigor das metáforas e das ambiguidades e mestre na manuseio das imagens (ao ponto transformar as manchas de humidade em potenciais placas Rorscharch), a este David totalmente resignado, pouco rigoroso na estruturação das figuras, descuidado com a fotografia e incapaz de aludir ao simbólico. Gosto da memória que tenho do Cronenberg. Não gosto daquilo em que ele se tornou.

... now I take Berlim.


"They sentenced me to twenty years of boredom
For trying to change the system from within
I'm coming now, I'm coming to reward them..."

Leonard Cohen - First we take Manhattan

domingo, 4 de dezembro de 2011

Tudo serve de desculpa.

Em frente à televisão, a ver uns episódios da Anatomia de Grey, num daqueles canais por cabo, percebo que apanhei a história a milhas de distância do momento em que a deixei. Não sei o que aconteceu aos personagens entretanto, mas estou a diverti-me à grande a imaginar. A coerência temporal das narrativas é definitivamente o pormenor menos importante.

Amor #2

Reconciliei-me ao fim de quase 6 anos de desculpas esfarrapadas e de manobras de fuga aos meus deveres de acompanhamento e vigilância, para os quais encontrava sempre um substituto à altura, que me livrava das duas horas que antecipava como um massacre à boa utilização do meu tempo.
Reconciliei-me ontem quando, à força da falta de alguém que fosse no meu lugar, te acompanhei a contragosto e de mau humor, esperando que o tempo corresse rápido e sem dor.
Reconciliei-me um pedacinho quando me entreguei ao espaço e dei conta que a zanga não se tratava de mais do que uma birra datada dos tempos da pré-adolescência,  provocada pelo tempo de antena que era ocupado na televisão, no período natalício.
Reconciliei-me definitivamente, quando senti o teu riso sonoro entrar-me pelos ouvidos, e dei por mim a rir contigo à custa das piadas simplistas, ou quando murmurámos Ohs! de espanto em sintonia, cada vez que os artistas temerários arriscavam uma proeza mais audaciosa.
Reconciliei-me enfim, porque não poderia deixar de o fazer, porque não consigo ficar zangada com o que te faz feliz.
Reconciliei-me de vez, e no próximo ano quero voltar ao Circo, contigo.

sábado, 3 de dezembro de 2011

És teimosa como uma mula.

Comprei-o pela terceira vez, a preço de saldo, que é como quem diz mais barato que um bilhete de cinema, na versão original e em tamanho pequeno. Entro na corrida com atraso, mas com a certeza que chegarei à meta vencedora. No final, afirmarei com propriedade: "- Foi feito em termos!"

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Círculos viciosos

No período de um ano, a história deu uma volta completa e retornou ao seu início. Num mesmo espaço, os personagens principais repetiram os mesmos rituais. Por desleixo, deixaram a Zubrówka chegar ao fim e tiveram que recorrer a Siwucha para atear o lume. Iniciaram um novo ciclo. Sabem que o caminho não poderá ser percorrido de forma igual. Descobriram que os pormenores determinam a diferença.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Kanye rules in the West

Era suposto ser um momento de entretenimento

Sem paciência para um mundo de imbecis que chegam tarde ao cinema e ainda se põem a discutir com quem está sentado quieto e direito no lugar que lhe foi atribuído. Sim, porque de certeza que se eles não têm lugar livre, a culpa é da gaja que está sentada sozinha e até lhes mostrou o bilhete que estava de acordo com a cadeira em que se sentou, e não dos outros anormais que tal como eles também não conhecem as letras nem os números. Bem, às tantas até têm razão. Quem manda à gaja ser idiota e ir ao cinema na véspera de feriado à noite?

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Estrelas cadentes



(e estes também)

Arrepio na espinha

Condimentamos a vida quando aprendemos a escutar com mestria o que se diz nas "entre falas" e nos silêncios.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Kaffeehaus Cafe

Há homens assim... #2

Receber lições de psicanálise vindas de um engenheiro electrotécnico é algo capaz de lhe perturbar o sono, por dias e dias, com sonhos no mínimo entusiasmantes, principalmente quando os referidos ensinamentos permitem a integração estruturada da teoria psicanalítica no seio dos restantes conhecimentos de psicologia que possui.
Há homens assim e ela quer um só para si.

Não gosto dos U2, mas isso pouco interessa.

Sei. Já o sabia e o tempo continua a confirmar-me. E sabes como descobri? Ao observar a clarividência com que ainda compreendes que é hora de deter o desejo que te invade as mãos e, com os teus dedos enormes, e em gestos únicos, me alisas os cabelos para que se me encha o coração.

Quem disse que o Jesus tem sempre razão?

domingo, 27 de novembro de 2011

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Anticonceptivo

- O teu cabelo cheira mesmo bem hoje.
- É do champô para os piolhos...

A minha cidade é "cool"


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sou incapaz de me arrepender da minha vida.



(hoje soube-me tão bem ouvir isto dentro da cabeça)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Não tens emenda.

"- Apetecia-me beijá-la.
Rochela ficou calada, mas afastou-se um pouco.
- Já estragou tudo - disse ela. - É como todos os homens.
...
Rochela sentia uma vontade imensa de que Ana a beijasse, mas primeiro tinha que ensiná-lo. Não se pode deixá-los à vontade."

O Outono em Pequim. Boris Vian, pp. 75.
( a mesma página que eu acabei de descolar da capa do livro antigo que com tanto carinho me ofereceram...)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Plantas


(eu até poderia ensinar-lhes, mas a minha arrogância não me permite a maçada)

Depois do Inverno



domingo, 20 de novembro de 2011

Paradoxos

La perspective de ta bouche

Ta bouche tout près de l’oreiller
Loin et lointaine
À deux doigts de la mienne
Le rêve s’amuse
Et nous sépare
Avec les pas minutieux de l’oubli
Tes lèvres bougent à peine
J’ai le couteau qui brille
Propre à quelques millimètres
De ta joue sèche
Comme du papier
Prêt pour tuer
La perspective du pardon
Je voudrais l’enfoncer
Dans la chair de ta bouche
En biais dans la plénitude
Lente dans sa jouissance
Crève crève
Je susurre et ton bonheur endormi
Me rends jalouse
De la beauté de ton horizon vertical
Dans la perspective de ta langue.

Zoé Valdès
2008

Empire State

Foi-se aproximando, lentamente, com a discrição que o distingue do resto do mundo. Chegou à entrada da porta e, sem se fazer anunciar, esperou. Contra todas as probabilidades e para espanto de quem os rodeava, ela deixou-lhe a porta aberta para que entrasse quando fosse seu desejo. Durante algum tempo ele deambulou pelo átrio. Aos poucos, perdeu os receios e começou a ascender na escadaria, passo a passo, muito devagar, porque não é homem de pressas, parando em cada patamar para descansar, para a deixar descansar. Sem alarido ele foi subindo e ela, aventureira, foi acolhendo e reforçando cada um dos seus progressos.
Na última noite de tempestade resolveram aquecer-se com bebidas quentes, num local que ela há já muito queria dar-lhe a conhecer. E enquanto iam trocando entre si os sabores e brincavam aos fotógrafos com telefones móveis e riam à gargalhada captando a atenção e o espanto dos olhares indiscretos, ela compreendeu que, durante a viagem que demorou cerca de dez anos, ele se tinha instalado na penthouse do arranha-céus que ela usa para metaforizar a amizade e que, perto ou distante, já nada nem ninguém de lá o conseguirá desalojar.

sábado, 19 de novembro de 2011

Chá perfumado com cerejas



Porque as ideias também são como as cerejas.

"Tea for two and two for tea..."

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Desejo(s)

Liberta-te do casulo,
ainda larva
ou já borboleta.
Arregala os olhos,
para o céu
ou para os meu ser.
E se o sol,
com a sua intensidade,
te ferir as pupilas,
encerra as pálpebras,
e volta a ler-me,
em voz alta,
de olhos fechados,
com a ponta dos dedos.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Haveremos de dançar o Tango no seu país.



Roubado ao Vegan para oferecer à Su.

Era uma vez uma rapariga, era uma vez...

Já chamaram muita coisa ao meu mau feitio, mas "simpática directividade" é inédito.

E a ela também.



Um Postal de Lisboa 

Monumentos a eventos que nunca se deram: 

Às guerras sangrentas nunca travadas. 
Às grandes tiradas engolidas ao soar 
a voz da prisão. À consagrada união 
do corpo nu com o pinheiro anão 
que deu o São Sebastião. 
Aos aviadores que subiram às nuvens 
num piano alado. Ao inventor do motor 
que usa como carburante 
o lixo das recordações. À esposa do navegante 
ensimesmado sobre um solitário ovo em omoleta. 
Às Constituições desnudadas. Às independências 
de opulento seio. Aos cometas 
que à Terra passaram tangentes 
(perseguindo um infinito, cujos sinais 
são em parte os das nossas paisagens). 
Ao coito interrompido, nas barbas do preso, 
entre a ideia de autoridade 
e a vegetação. Ao achamento 
da Infártica, bairro ignoto 
do outro mundo. Ao cubista doidivanas 
que captava nos telhados o soprano 
do telégrafo. Ao suicídio do Tirano 
por amor não correspondido. 
Ao terramoto – sublinha um contemporâneo – 
com deleite pelo povo recebido. 
À mão que nunca pegou em dinheiro, 
para não falar em membro viril. 
Ao total de folhas verdes com direito 
inato a desprezar a sua diversidade. 
À felicidade. Aos sonhos que impuseram à realidade, 
à custa das pessoas, a sua própria arbitrariedade.

1988

Пейзаж с наводнением. Иосиф Бродский

A crise, senhores, a crise...

Trio assalta ourivesaria em Alcochete e foge a pé com vários artigos.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Lisboa outra vez




Os empréstimos que se tornam surpresas, as surpresas que se tornam presentes.

"...já temos uma rapariga, uma linda rapariga. Outras virão, e, em tais condições, nada há que possa durar.
Senão tudo isto seria sempre muito mais divertido; mas com as raparigas é preciso haver tristeza; não é que elas gostem do que é triste - pelo menos é isso que afirmam - mas é uma coisa que nasce com elas. Com as bonitas. Das feias pouco há para dizer: já basta que existam."

O Outono em Pequim. Boris Vian, pp. 57

Desta vez vens para ficar?

Duvido da minha capacidade para compreender o tempo, quando descubro que apesar da tua presença sempre se ter medido em dias, as tuas ausências continuam a medir-se em anos.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Há dias assim.

"Love, love will tear us appart again..."

A crueldade das certezas mais que absolutas reside na capacidade de, quando se instalam ou reinstalam, reduzirem ao relativo toda realidade que as rodeia.

domingo, 13 de novembro de 2011

Le désespoir

Escrevo, apago, volto a escrever e volto a apagar, escrevo de novo. Aproveito todas as desculpas para me distrair e não trabalhar: o gato que se deita ao meu lado e a quem emaranho as mãos no pêlo; a música francesa que toca no leitor de CD's e conduz a minha atenção para os poemas debitados pelos cantores; o Google Reader que teima em actualizar as minhas leituras de eleição quase ao minuto; a sede que, apesar de imaginária, me impele a levantar e reabastecer a caneca com chá conservado quente pelo termos de metal...
O tempo que me foi dado esgota-se e eu, que não sei senão cumprir prazos, continuo árida de ideias e palavras e intenções. Sei que sou a única responsável pelo atraso iminente, e ainda assim começo a distribuir culpas ao mundo e a ele, porque, apenas com o olhar, foi capaz de me lançar para cima o desesperante peso da perfeição.

Eu nem sou destas coisa, mas hoje apeteceu-me "repostar"

(as coisas em que me fazias pensar, mesmo antes de de eu sequer imaginar...)

Mode d'emploi

Queres mesmo saber? Tens a certeza? Então eu ensino-te.



Começas por dar-lhe um pedaço de atenção. Não poderá ser em excesso, mas terá que ser em dose suficiente para que repare em ti. Depois de te certificares que foste sinalizado, começas a distribuir atenção por outras, com grande alarido, mas aleatoriamente, para que não pense que desviaste o interesse. Assim captarás a sua atenção. De seguida, e agora que ela já te viu, necessitas de tomar medidas para te distanciares, de forma a que te vislumbre como uma figura misteriosa, quase inalcançável, montada num pedestal. Por breves segundos, e em momentos escolhidos criteriosamente, podes descer à terra e tornar-te quase acessível, quase corpóreo. Nesses instantes aproxima-te dela, até que ela sinta que quase pode tocar-te, e quando estiver quase a chegar a ti, sobes de novo as escadas e voltas à tua torre. Durante estas viagens mostra-lhe que, perto ou distante, a cordialidade é o fio condutor da tua conduta e que nada te desviará dela. Durante estas viagens estuda-a ao pormenor, aprende-lhe todas as vontades e propensões e depois de a saberes de cor, num dia escolhido através de cálculos matemáticos complexos, atira-lhe com um elogio à característica que ela mais valoriza, e depois ignora os agradecimentos dela. Desaparece de novo da sua vista, para que sinta a tua falta. Deixa-a a pensar que foi esquecida. Quando ela pensar que desististe, reaparece e volta a elogia-la e mais que isso, mostra-te interessado pelas suas coisas. Mantém a tua posição de inatingível, mas através de mensagens encriptadas, mostra-lhe que é apenas para o resto do mundo, porque para ela estás à distância de um toque. Basta, para isso, que ela te queira tocar. Deixa-a aproximar-se devagarinho. Deixa-a chegar até ti. Deixa-a sentir que não vais arredar pé dali. E pronto! Ela acabou de render-se e entrega-se a ti. Agora só terás que aprender a mantê-la...

De céu espantada? #3

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Na tua pele

O estafermo do inconsciente brinca às associações livres e, à revelia da sua vontade de ferro, cola as músicas que ela ouve, com super cola 3, àquilo que lhe vai acontecendo na vida. Com algumas faz um trabalho tão bom, que nem a famosa benzina com os seus poderes dissolventes consegue reparar.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

De céu espantada? #2

Eu não posso ir a lado nenhum.

Uma hora inteira de consulta com o pneumologista, dividida da seguinte forma: cinco minutos a auscultar e passar receita de remédios para a asma, para seis meses; cinquenta e cinco minutos a discutir a organização social do mundo ocidental e o colapso iminente dos mercados financeiros. E tudo isto por causa do Slavoj  Žižek.



segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Amizade?

Abro a caixa de correio electrónico de que me vou esquecendo amiúde. Dou de caras com mais um dos paradoxos da minha vida a encimar a tela verde. Sou, de novo, transportada para um quadro de Dali. E eu que só queria que me deixassem viver num Turner.


(imagem retirada daqui)

Sometimes...

domingo, 6 de novembro de 2011

Filósofos da vida # 6

"A razão e o amor falam línguas diferentes e que não são traduzidas com facilidade [...] O amor não se reconhece nas palavras, que parecem ser propriedade da razão, sendo um território estrangeiro e hostil ao amor. Como um réu no tribunal da razão, o amor está destinado a perder o caso, que na verdade já estava perdido antes de o julgamento começar. Como o herói de O processo de Kafka, o amor é culpado de ser acusado; e mesmo que possamos nos inocentar dos crimes de que somos acusados de cometer, não existe defesa contra a acusação de ser acusado."

A sociedade individualizada. Zygmunt Bauman.  pp. 205-206

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Where are you?

E não é que o cabrão do reader, com a mania das modernices, fez desaparecer o meu DJ favorito? Bem me parecia que me andava a faltar qualquer coisa...

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Restaurador Olex?

(Imagem retirada daqui)

Agora só falta o Moutinho aparecer de carapinha.

ah! o doce sentimento da sensatez...

Questiona-a ironicamente acerca da sua alma vadia. Ela, sempre possuída por um  espirito rebelde, reafirma-se totalmente nómada, alto e bom som. Mas internamente coloca uma questão silenciosa: - E se ela ficasse quieta, o que faria ele dela?

Porque deixaste de vir?

Ela, que as utiliza com mestria para obter toda a informação de que necessita, que as têm como ganha-pão, que com elas consegue manipular meio mundo, não lhes permite que saiam do reduto profissional a que as confinou, e recusa-se  a deixá-las corromper a imaculada rede de princípios que teceu para a sua vida privada. Ela engana-se a si própria quando diz que não faz perguntas porque é assim que as coisas devem ser. Até porque toda a gente sabe que o que a detém é apenas o medo do que lhe possam dizer as respostas.

– Meu corpo, que mais receias?
– Receio quem não escolhi.


– Na treva que as mãos repelem
os corpos crescem trementes.
Ao toque leve e ligeiro
o corpo torna-se inteiro,
todos os outros ausentes.


Os olhos olham no vago
das luzes brandas e alheias;
joelhos, dentes e dedos
se cravam por sobre os medos...
Meu corpo, que mais receias?


– Receio quem não escolhi,
quem pela escolha afastei.
De longe, os corpos que vi
me lembram quantos perdi
por este outro que terei.


Jorge de Sena - Pedra Filosofal, Poesia I

Baby

Com alguma falta de jeito, ele interpela-a e pergunta-lhe se gosta da música do seu país. Ela responde-lhe que sim, que gosta, mas que apenas conhece aqueles interpretes que correm o mundo, os mais evidentes, e começa a nomeá-los. Ele procura calmamente os auscultadores pendurados na gola da camisola, coloca um no seu ouvido e o outro no ouvido dela e programa o leitor de mp3 para que comece a libertar de dentro de si a voz rouca da cantora que ela prefere. Ela arregala os olhos, admirada. Ele arqueia as sobrancelhas, vaidoso. Ficam a sorrir um para o outro, enquanto se cantam beijos e carícias e desejos e delícias.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Segunda-Feira

O grilo delirante, que tranca com fortes cadeados nos porões da sua mente, conseguiu, durante a noite, tirar a mordaça que o cala e dirigir-se a ela. Durante o sono fê-la acreditar que, se "lesse" as ultimas palavras com atenção, encontraria no nonsense subliminar, um sinal declarado. Quando acordou de manhã, ela ainda se sentiu tentada a escutar um som antigo, enquanto tomava banho. Mas recordou-se a tempo que os grilos fazem sempre muito barulho por pouca coisa. E como este teimava em não se calar, enfiou-lhe pela goela abaixo dois comprimidos de Haloperidol e quando ele sossegou, mudou-o para uma nova cela. Mas desta vez escolheu uma à prova de som.

domingo, 30 de outubro de 2011

Saber a mar

Mandamos às urtigas o objectivo definido e arrumamos o "discurso psicanalítico em educação" nas mochilas. Saltamos para a areia porque te apetecia cheirar o mar de perto. Não sei o que te deu para resolveres correr desenfreadamente e enfiares-te no mar. Tu que tens sempre tanto frio, que reclamas pelo calor do teu país tropical.  "Eu djissi que me ápiticia cheirar o mar dji pérrto." - justificaste-te tu. Não sei o que me deu para te seguir. Eu que tenho sempre tanto frio, mesmo sem conhecer o teu clima tropical. Rimo-nos como uns doidos, enquanto tremíamos, molhados até à cintura. Agarrei-te na mão, puxei-te pela areia até ao carro e conduzi-te a casa, com o aquecimento no máximo. Quando estacionei, ordenaste-me que subisse para me secar. Obedeci. Enquanto procuravas a toalha, não resisti a dizer: "-Tu és completamente louco." Respondeste-me fazendo o beicinho com que habitualmente te diriges a mim, enquanto me entregavas a toalha com a mão direita e me agarravas a nuca com a mão esquerda : "Ué! Cláro qui sou. Por isso qui tenho você dji minha psicóloga, né."

sábado, 29 de outubro de 2011

Or dance mood

Grandes ensinamentos #2

A propósito do post anterior, assomou-me uma recordação à mente. Era inverno e, apesar de ser ainda cedo, já tinha anoitecido. Ela estava num estado de embriaguez avançado, confirmado na plenitude pelo conjunto de palavrões que, com a voz arrastada, já tinha proferido. Eu decidi que seria melhor deitá-la e tentar que adormecesse. Ajudei-a a vestir o pijama e tentei enfiá-la na cama sem que fosse causado qualquer acidente. Antes de me permitir que a deitasse, sentou-se na cama e olhou-me fixamente. Sem pestanejar, disse-me em voz alta, quase em jeito de ordem:
"- Nunca compitas com nenhuma gaja por causa do teu homem. Se ele te puser numa situação dessas, manda-o foder com puta que o quer e arranja outro. Não há nenhum gajo no mundo que mereça que desperdices um pingo que seja da tua dignidade. "
Disse-lhe que sim, sem perceber o verdadeiro alcance do que me estava a dizer, e fiz com que se deitasse. Na altura era muito miúda e as suas palavras soaram-me a conversa de bêbado. Hoje faço disso filosofia de vida.

Reencontros

Reencontrei-a ao fim de 6 anos. Apesar de envelhecida, mantém o ar de menina mal comportada que sempre lhe conheci. Cambaleava quando a via aproximar-se ao longe. Lancei-lhe um grito em forma dos seus dois primeiros nomes. Ela avistou-me e gritou também: "- Ó gaja! Que fazes aqui?". Aproximou-se de mim ainda a cambalear. Verifiquei que não tinha bebido nada, mas percebi que, nos dias de hoje, já só sabe caminhar desta forma. Demos um abraço sentido e sentamos-nos a fumar o cigarro da praxe. Eu senti-me transportada para o tempo em que quase vivíamos juntas. Mais uma vez conversamos sobre gajos e copos e vidas e merdas. E foi como se retomássemos a ultima conversa que tínhamos tido, há muito, muito tempo atrás. Separamos-nos ao fim de algum tempo para darmos seguimento aos nossos afazeres. Ambas nos afastamos a sorrir, satisfeitas. E eu fiquei com a agradável sensação de que há coisas que nunca mudam e de que há coisas que sempre nos farão felizes.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O xadrez é um jogo que se joga a dois.

Ela preparou-se para dormir. O cansaço acumulado e as baterias descarregadas pedem-lhe cama, muita cama. Estava prestes a desligar todos os aparelhos electrónicos quando a curiosidade mórbida a atacou e a impeliu a carregar numa das teclas do canto. A folha em branco encheu-se de letras e ela começou  a lê-las. E de repente deu de caras com a afirmação, ali, escarrapachada, salientada com pontuações simétricas, a confirmar tudo o que ela já conjecturara. E mais uma vez, apesar das dúvidas que se coloca e que permite que os outros lhe coloquem, soube que a sua capacidade de leitura se mantém intacta. E regozijou, porque percebeu que isso ninguém lhe poderá tirar, porque hoje vai dormir mais descansada.

Se eu te oferecesse um poema, fazias as pazes comigo?

Dias

Se tens por vezes desses dias
em que as montanhas se confundem 
ou com a neve que as oprime
ou com as nuvens que as circundam

também eu tenho destes dias
em que as montanhas me seduzem 
desde que a neve as não agrida
nem vogue em torno uma só nuvem

Mas temos ambos outros dias
em que as montanhas são de lume
É quando a neve se expatria
mesmo que as nuvens não sucumbam

David Mourão Ferreira - Obra poética

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Explicações

Há quem diga que sou fria. Outros apelidam-me de anti-social. Há quem diga ainda simplesmente que tenho mau feitio. É  tudo verdade. Isso e o facto de não querer na minha vida gente que não me interessa, da mesma forma que não quero estar na vida de gente a quem eu não interesso. E por isso, apenas vou dando espaço aos poucos a quem chega e mostra que veio por bem, e vou aumentando esse espaço a quem fica e vai ficando por bem. Mas em situação alguma deixo que me tomem de assalto, que usurpem mais do que tenho disponível. E da mesma forma e num exercício de equidade e coerência tento, a todo o custo, não me impingir aos outros, e não ocupar nem mais um milímetro para além do espaço que me colocam à disposição. E por isso, quando sou ausente e distante e fria e anti-social é porque sinto que não há lugar para mim naquele terreno. Por vezes engano-me. Nessas alturas, basta apenas que me convidem de novo a entrar.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Descompasso

Não sei como hei-de domar
Este orgão desobediente
Que teima sempre em galopar
Assim que te sente iminente.

Na primeira noite do Outono


domingo, 23 de outubro de 2011

Se há democracia, comemos todos!

http://www.publico.pt/Pol%EDtica/ministro-da-administracao-interna-renuncia-ao-subsidio-de-alojamento-1517844?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+PublicoRSS+%28Publico.pt%29

Parece-me bem. Até porque, muitos de nós também terão que renunciar ao subsídio de Natal e de férias. E pasmem-se! Esses também estão na lei...

Porque andamos por aqui?

"...à travers le récit on apprend à analyser la réalité, à organiser et à comprendre le monde dans lequel on vit, le monde naturel autant que le monde social."

Porquoi nous racontons-nous des histoires? Le récit au foundement de la culture et de l'identité individuelle. Jerôme Bruner

Já falta pouco

As desculpas pintam-se sempre de amarelo



(ou Há coisas que nunca mudam.)

sábado, 22 de outubro de 2011

Ninguém a compreende

Ainda se ri à gargalhada quando recorda da expressão estupefacta de ambos, quando lhes disse que apenas a atraem os homens que a fazem sentir pouco inteligente, apontando um dos alvos da sua atenção. Que é muito velho, que tem um ar assustador, que não conseguiria satisfaze-la, defendem eles. Refutou todos os argumentos, mesmo o de que estariam ambos dispostos a chamar-lhe ignorante, se isso a fizesse direccionar para eles. Replicou que a sua auto-estima é suficientemente sólida para não ser beliscada com tal caracterização, mesmo que fosse efectuada de forma convincente.
Ainda se ri à gargalhada quando recorda a expressão de desânimo de ambos, quando lhes confirmou  a veracidade da afirmação retórica: "Então nós não temos qualquer possibilidade."

Sem tradução.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Deixem-se de ilusões

A escolha é uma palavra que se diz no feminino.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Dúvidas existenciais ou Podias ser o meu Menino Jesus

Há dias em que ela não consegue decidir se o preferiria deitado (na cama) ou estendido (na chaise-longue do consultório).

Inocência

Diverte-a que, após algum tempo de interacção verbal e quando já lhes mostrou que nada mais há a acrescentar, eles inventem todo o tipo de artimanhas para passar mais alguns minutos na sua presença, como se  o passar do tempo auxiliasse a atingir o impossivel objectivo de a seduzir. Diverte-a ainda mais que, após tanta encenação, ainda se deixem apanhar desprevenidos quando lhes indica a porta de saída e, ao despedir-se, faz questão de lhes dizer que não voltarão a encontrar-se.

Não quero que te falte nada*

...

(exceptuando o sono, é evidente)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Não sei se ria ou se chore.

Diz ele "...há vida para além da austeridade..."

(uma coisa é certa. se não ganhar a vida a ajudar na des(construcção) do país, pode sempre tornar-se comediante.)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Até mudar de opinião

A minha persistencia transforma-se em teimosia sempre que me recuso a abdicar de algo que me é precioso.

***

E os senhores, às tantas, até nos estão a fazer um favor...

Quem pensas tu que és? (exorcismo à caixa de rascunhos)

Ela pediu-me com carinho e eu acedi prontamente. Pedi uma frigideira emprestada à avó dela, porque a que existe cá em casa não serve o propósito. À hora definida chamei-a para me ajudar a misturar os ingredientes inscritos na receita retirada da internet. Era uma estreia. Nunca antes tínhamos cozinhado tal coisa. Liguei o fogão e tratei de cozinhar a massa viscosa. A primeira ficou com um ar algo desarranjado e demasiado tostada, mas as seguintes adquiriram um tom caramelo e mantiveram a forma redonda adquirida aquando do contacto com a frigideira. A pedido dela, enquanto cozinhávamos, ouvíamos a Cristina Perri a perguntar-lhe quem pensa ele que é para coleccionar jarros de corações. Na minha mente apenas surge a mesma questão:
- Quem pensa ele que é?
Na minha mente paira apenas uma inquietação, a de descobrir como escapar, sabendo que é para ali que os pés me levam sem qualquer hesitação.As panquecas estão prontas e a sua ingestão apazigua as traças que me roem o aparelho digestivo, a infusão de erva príncipe amaina o tropel que me invadiu o peito. O sossego voltou ao meu ser. Até quando?

O seu estado mental é definido pelas músicas que a atormentam #3



(o rapaz que canta, tivesse ele idade e cantasse música em termos, e não seria nada de se deitar fora)

There is a God!

Bonnie "Prince" Billy, no domingo, na primeira fila.

domingo, 16 de outubro de 2011