Foi-se aproximando, lentamente, com a discrição que o distingue do resto do mundo. Chegou à entrada da porta e, sem se fazer anunciar, esperou. Contra todas as probabilidades e para espanto de quem os rodeava, ela deixou-lhe a porta aberta para que entrasse quando fosse seu desejo. Durante algum tempo ele deambulou pelo átrio. Aos poucos, perdeu os receios e começou a ascender na escadaria, passo a passo, muito devagar, porque não é homem de pressas, parando em cada patamar para descansar, para a deixar descansar. Sem alarido ele foi subindo e ela, aventureira, foi acolhendo e reforçando cada um dos seus progressos.
Na última noite de tempestade resolveram aquecer-se com bebidas quentes, num local que ela há já muito queria dar-lhe a conhecer. E enquanto iam trocando entre si os sabores e brincavam aos fotógrafos com telefones móveis e riam à gargalhada captando a atenção e o espanto dos olhares indiscretos, ela compreendeu que, durante a viagem que demorou cerca de dez anos, ele se tinha instalado na penthouse do arranha-céus que ela usa para metaforizar a amizade e que, perto ou distante, já nada nem ninguém de lá o conseguirá desalojar.
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