quarta-feira, 27 de julho de 2011

O mundo (e a RTP) conspira(m) contra si ou Há homens que nunca a deixam dormir

Estava tudo bem encaminhado. A conversa fora suspendida, para tristeza de ambos os interlocutores. Os aparelhos de comunicação encontravam-se em off, para que nenhuma tentação a desviasse do caminho. A chávena da infusão tranquilizante estava ma mesa de apoio à cama, pronta a ser ingerida. Faltava o último retoque no quadro do Morfeu, o seu valium tecnológico. Premiu o botão e ligou o dispositivo. Carregou nos botões até encontrar a imagem pretendida, marcou o relógio e deitou a cabeça na travesseira. Estava quase a fechar os olhos quando ele apareceu no quadrado. Um gigante poderoso de feições rudes e movimentos desengonçados. Ainda tentou fechar de novo os olhos, mas a imagem do homem que poderia ser "dos seus sonhos" ficou a bailar na escuridão das pálpebras. Abriu-os de novo e resignou-se. E permaneceu com os olhos postos nele até as letras tomarem o seu lugar no écran, já passava muito das 2 da madrugada.

sábado, 23 de julho de 2011

Não se controem abrigos em qualquer buraco de rocha

I find shelter, in this way
Under cover, hide away
Can you hear, when I say?
I have never felt this way

Maybe I had said, something that was wrong
Can I make it better, with the lights turned on

Could I be, was I there?
It felt so crystal in the air
I still want to drown, whenever you leave
Please teach me gently, how to breathe

And I'll cross oceans, like never before
So you can feel the way I feel it too
And I'll mirror images back at you
So you can see the way I feel it too

Maybe I had said, something that was wrong
Can I make it better, with the lights turned on

Shelter - The xx

Constatação #9

O amor é uma espécie de agradecimento permanente àquele que com a sua presença nos transforma numa pessoa melhor.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Transmissão de pensamentos?

Acabado de chegar.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A vida dela é tão colorida

Ao longe ou ao perto, nenhum dos dois consegue bem dizer com toda a certeza, uma vez que os ouvidos estão apenas direccionados para as palavras que saem da boca do outro, ouve-se "Before you close your eyes" dos Tindersticks. O céu está escuro e a chuva ameaça começar a cair a qualquer momento. A conversa entre ambos flui, saltando de tema em tema. Ela olha-o com um misto de admiração e desdém. Admira-o porque ele conseguiu cativar-lhe a atenção por mais do que os dez minutos protocolados. Desdenha dele apenas porque ele é homem e portanto um ser inferior. Apesar de ela o considerar um espécime com alguns atributos interessantes, ao longo do serão fez questão de lhe mostrar que não tem interesse em agradar-lhe ou satisfazer qualquer dos seus desejos. Aliás, salienta que está a borrifar-se para aquilo que ele quer ou necessita e que o que a move são apenas a vontade própria e a satisfação dos caprichos que vai inventando. À medida que a conversa vai avançando ele começa a aperceber-se que, apesar de ela não fazer qualquer esforço nesse sentido, está a transformar-se em tudo o que ele quer. Abruptamente, ele corta a conversa e despede-se utilizando a chuva miudinha que começa a cair como desculpa para abandonar o local. Ela fica e observa-o a afastar-se enquanto aposta consigo própria quanto tempo demorará ele a voltar.


Como homem inteligente que é, ele finalmente compreendeu o perigo que correrá se ela resolver que quer agradar-lhe.

Como homem que é resistirá quanto tempo à atracção pelo abismo?

domingo, 17 de julho de 2011

"Não se ama alguém que não ouve a mesma canção"

"Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic 'til I'm gathered safely in
Lift me like an olive branch and be my homeward dove
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
Let me see your beauty when the witnesses are gone
Let me feel you moving like they do in Babylon
Show me slowly what I only know the limits of
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
Dance me to the wedding now, dance me on and on
Dance me very tenderly and dance me very long
We're both of us beneath our love, we're both of us above
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
Dance me to the children who are asking to be born
Dance me through the curtains that our kisses have outworn
Raise a tent of shelter now, though every thread is torn
Dance me to the end of love
Dance me to your beauty with a burning violin
Dance me through the panic till I'm gathered safely in
Touch me with your naked hand or touch me with your glove
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love
Dance me to the end of love

Dance me to the end of love - Leonard Cohen

sábado, 16 de julho de 2011

Outro tijolo na parede

Palavras com as quais poderia concordar

"Acho que todas as pessoas são mais ou menos infelizes", disse subitamente Mister DeLuxe, "mas os artistas são infelizes de outra maneira, talvez de uma maneira dramaticamente infeliz". "Isso é muito agudo, Mister DeLuxe", disse Austin com um olhar brilhante, "a isso apetece-me mesmo chamar uma definição."

O que diz Molero, Dinis Machado, pp. 78

Hoje já...

...realizei um desejo antigo;
...operei uma ressurreição;
... poupei quase metade do vencimento.

E tudo isto ao som do Murder Ballads.

Sou a prova de que algumas mulheres sabem realmente seguir instrucções.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Exorcismo à caixa de rascunhos #4

Ela não consegue explicar o que a atraia nele. Apenas sabe que a sua presença a transformava numa imbecil, incapaz de raciocinar logicamente. Quando ele chegava, o seu coração começava a bater com mais força, um sorriso irrompia-lhe nos lábios, e as suas defesas caiam, deixando-a abúlica face às suas vontades.
Mas nem sempre tinha sido assim. No início ela apenas se sentia curiosa. Ele era um ser silencioso, de sobrolho carregado e com um olhar profundo, marcado pela tristeza e pelo desafio. Quando se cruzavam ela observava-o, sentindo que o silêncio a que ele se votava escondia algo de muito intenso. Parecia-lhe que ele queria ser transparente, invisível e ao mesmo tempo exibir-se e conquistar o mundo.
Com o passar do tempo, foi compreendendo que a sua aparente simplicidade apenas escondia uma complexidade que ele encerrava a sete chaves, para que não fosse visível a olho nu.
Aos poucos ela começou a procurar a sua companhia com mais frequência. E no vai e vêm de encontros começou a perceber que ele escolhia sempre os caminhos mais difíceis, quando os mais fáceis se colocam a sua frente para o aliciar, que ele defendia as suas convicções até ao limite, mesmo que isso implicasse sofrer. Aos poucos começou a gostar da companhia dele. Gostava dele quando ele abria um bocadinho a sua vida e a deixava entrar ao de leve, gostava do sorriso de menino maroto e do olhar triste de homem feito, gostava de sentir que o conquistava um bocadinho quando ele chegava, mesmo que soubesse que o iria perde quando ele saísse, gostava de lhe sentir o coração, que era tão grande numas vezes e tão pequenino noutras, gostava de o ouvir falar das suas coisas com o tom de voz grave e o acento regional, gostava dos olhos dele.
E agora à distância, num tempo em que ele não é mais que uma lembrança, gosta de saber que foi um dos batedores que abriu o caminho para lhe mudar a vida.

Constatação musical

Ao fim de milhares de audições, o Requiem de Mozart ainda é a única peça musical capaz de me arrancar umas quantas lágrimas.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Exorcismo à caixa de rascunhos #3

Passeio na praia ao final da tarde.
Frio do inverno.
Riso de uma criança.
Amor quase que com laços de sangue.
Oceano revolto.
Brilho do sol.
Navios que passam e deixam um rasto de espuma na água escura.
Gaivotas a planar vertiginosamente, com as asas esticadas.
Casacos quentes.
Voltar atrás para sossegar as lágrimas.
Café, leite e água sem gás.
Um livro.
Mais de um ano.
Aventuras e desventuras.
Desventuras.
Silêncio total.
Lugar e tempo a que nunca se pensou chegar.

Sou eu quem tem mau feitio

Como se já não bastasse a palavra troika andar na boca de toda a gente, ainda temos que levar com a expressão "mais troikista que a troika" que a malta de esquerda teima em espalhar por aí. E a língua portuguesa que é tão rica.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Exorcismo à caixa de rascunhos #2

"Quero contar-te uma coisa. Provavelmente já percebeste isto sozinho, mas mesmo assim preciso de o dizer. Preciso que o oiças da minha boca, ou melhor, que o leias da ponta dos meus dedos. Tenho um grave problema. Não sou capaz de guardar segredos. Não estou a falar dos segredos que me confiam. Esses, guardo-os a sete chaves e recuso-me a revelá-los, mesmo até a quem me é mais íntimo. O meu ponto fraco não é os segredos dos outros. O meu calcanhar de Aquiles são os meus segredos. Não consigo mantê-los muito tempo escondidos. Tenho necessidade de os dizer. Sou demasiado transparente e não sei esconder o que me faz rir, chorar, vibrar ou sossegar. E quando me perguntam o que quer que seja, dificilmente consigo responder com algo que não seja a verdade, mesmo que a verdade seja algo que deveria ser ocultado dos ouvidos indiscretos. E sabes porquê? Simplesmente porque sei que a realidade só deixa de ser sonho quando é gritada bem alto."


(e o sonho desvanece-se quando teimamos em calar o grito na garganta)

domingo, 10 de julho de 2011

Exorcismo à caixa de rascunhos.

Entrou-lhe pela porta adentro acompanhado pela mãe. Era mais um, no meio de muitos outros, no meio de todos os que lhe passam pela frente dia, após dia, após dia. Pediu à mãe que aguardasse, pois tratava-se de um homem feito, um matulão, que não necessitava que falassem por ele. A ele pediu-lhe que a acompanhasse e que se sentasse. Ele timidamente seguia-a e sentou-se, acedendo ao pedido.
Começou a conversa com uma das perguntas que habitualmente os põe a falar e lhe facilitam o trabalho. Tal como os outros, ele começou a responder e o processo seguiu como sempre acontece, sem percalços ou perturbações. A dada altura ela sentiu no ar um odor que a perturbou, um odor que lhe pareceu familiar. Aos poucos, enquanto decorria a conversa, os seus olhos e ouvidos começaram a desligar-se da realidade. Centrou toda a sua experiência cinestésica no olfacto. Tudo o resto parecia ter desaparecido. Via-o à sua frente, ouvia as palavras que ele lhe dizia, mas a única informação que processava era o cheiro que ele emanava. O perfume que tão bem conhecia, que combina especiarias, lavanda e citrinos, misturado com o cheiro de quem acabou de fumar um cigarro. A custo, conseguiu reaver a conexão neuronal com os outros sentidos e recompor a compostura. Fez as perguntas essenciais e logo que lhe foi possível deu por concluída a conversa. Despediu-se dele e acompanhou-o à porta. Antes de o fazer, teve o cuidado de fechar a porta da sala onde tinham estado. Regressou, sentou-se na sua cadeira, trancou de novo a porta da sala e sozinha, inalou duas ou três golfadas de ar, fechando os olhos. Mentalmente foi transportada para um local feliz, onde ficou por breves segundo, porque as suas divagações foram interrompidas pelo toque do telefone. Era o recepcionista a anunciar a marcação seguinte e a fazer com que voltasse à realidade, impedindo-a de saborear aquele pedaço de felicidade artificial. O indivíduo seguinte entrou. No corpo e na roupa trazia o cheiro acumulado de vários dias, o odor que a faz amaldiçoar várias vezes a sua sorte, o único que naquele momento seria capaz de lhe acalmar o peito e a fazer voltar completamente à realidade.

sábado, 9 de julho de 2011

O mundo do futebol nunca mais será igual

Depois do Paulinho Santos, do Paul Gascoigne e do Peter Schmeichel, este é o derradeiro desgosto. O futebol acabou de perdeu todo o interesse.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Apetites

Comprar uma motosserra; sinalizar as figuras geométricas que se instalam no cérebro humano, aquelas que rodeiam a análise dos conceitos de forma hermética fazendo-os criar bolor; fazer-lhes um pequeno corte que permita a entrada de ar puro; nos casos mais agudos, retalhá-las à moda do "Massacre no Texas".

quinta-feira, 7 de julho de 2011

(e já agora. a bolinha pode estar verde, laranja, vermelha, azul às riscas ou cor de burro quando foge que não serei eu a clicar-lhe em cima. não é necessário ter medo)

Desafios

Chegar a casa depois da aula de pilates. Comer no sófá na companhia do gato. Ligar o PC. Voltar ao sofá para a sobremesa. Devorar meia caixa de palitos de chocolate. Voltar ao PC e abrir o mail. Ligar a televisão. Abrir um .pdf. Receber a notícia de que se foi o primeiro. Sorrir. Ter a certeza que a vida, tal como se conhece, acabou de mudar.

Na vida real como no cinema

Elas ficaram indignadas quando lhes disse que não, que não gostava assim grande coisa, que me parecia que era muito rastilho e pouca pólvora. Eles olharam-me incrédulos quando referi que para mim teria que ser o contrário, muito pouco rastilho e muita pólvora.
É que aquilo de que eu gosto mesmo, é de ver tudo a explodir.

(E isto tudo, porque o rapaz está outra vez solteiro)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

domingo, 3 de julho de 2011

sábado, 2 de julho de 2011

Dúvida

Cada vez que leio as notícias interrogo-me se estaremos a ser governados por imbecis, por seres cuja inteligência tão elaborada é inacessivel à minha compreensão, ou por gente meramente ingénua.