sábado, 31 de março de 2012

Através da montra da vida

"Calculei que a minha ausência os deixasse felizes ou que pelo menos os fizesse esquecer que não eram nem jamais viriam a sê-lo."

O jogo do anjo - Carlos Ruiz Zafon (pp. 59)

Falida, mas com um sorriso nos lábios.


quinta-feira, 29 de março de 2012

quarta-feira, 28 de março de 2012

Mefistófeles

"Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita umas moedas ou um elogio em troco de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente no sangue o doce veneno da vaidade e acredita que, se conseguir que ninguém descubra a sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de lhe dar um tecto, um prato de comida quente ao fim do dia e aquilo por que mais anseia: ver o seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente lhe sobreviverá. Um escritor está condenado a recordar esse momento pois nessa altura já está perdido e a sua alma tem preço."

O jogo do anjo - Carlos Ruiz Zafón (pp.11)

domingo, 25 de março de 2012

O Sr. Fonseca estraga-me com mimos.

Primeiro foram as videiras, que um dia irão proteger a pele do sol;


depois vieram as framboesas, que me deliciam o paladar no verão;


entretanto convenci-o de que era necessário o cheiro das alfazemas;




e, não tarda nada, serão os meus olhos os presenteados.


Uma manhã de domingo

Acordo, mais cedo do que deveria, com o patrocínio da vizinha de baixo que bate com as portas e grita com os cães. São 10 da manhã e as míseras 5 horas que dormi não chegam para atenuar a ressaca das três cervejas que bebi durante a noite. O estatuto de "amiga cool" que me foi conferido durante anos, quase à revelia da minha vontade, aniquilou a resistência das minhas células ao álcool e transformou todas as manhãs "a seguir" num estertor dilacerante. Exagero, é certo, mas a discussão em voz alta dos vizinhos do lado, potencia a minha já conhecida tendência para o excesso trágico-dramático. Tomo banho a custo, e depois de vestida com o primeiro trapo que me aparece, resolvo comer o pequeno-almoço no jardim. Empanturro-me de hidratos de carbono que, se não me atenuam os martelinhos que ainda tenho dentro da caixa craniana, pelo menos confortam o estômago e preparam-no  para a dose dupla de cafeína que lhes seguirá. Transporto comigo o portátil e sentada entre as almofadas, com o sol a aquecer-me o rosto e os pés, resolvo pôr em dia as leituras. Qual não é o meu espanto quando, a meio de um post, num dos blog que sigo com toda a atenção, tal é a qualidade, quer da escrita, quer das fotos que vão sendo publicadas, verifico que o mesmo é sobre uma Maria, uma mulher que tem o privilégio de ser única a ler as palavras do autor, uma mulher que ele descreve como perturbante, uma mulher que perturba, apenas porque perturbar lhe dá prazer. Releio as palavras escritas e aceno afirmativamente com a cabeça, concordando com cada uma delas. Questiono o mundo que me rodeia em voz alta:
- Serei assim tão transparente?

sexta-feira, 23 de março de 2012

Quando te fores.

Perguntas-me, num tom intimista e indicador de que estás cheio de vontade de me confidenciar, embora te sintas tolhido pelo dever da confidencialidade que te é imposto, se não me interrogo acerca das razões porque me solicitas tais informações. Respondo-te que não sou muito curiosa e que sei que há perguntas que devem aguardar por resposta sem serem proferidas. Acrescento, ainda, com o olhar provocador com que a ti me dirijo habitualmente, que vou lendo nas entrelinhas. Atiro-te com um sorriso enigmático e entrego-te mais um papel para assinares. Enquanto aguardo, projecto o futuro e prevejo que o que aí vem não será bom para mim ou para ti, mas será certamente o melhor para nós.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Girls just wanna have fun!

No meu mundo...

Percebe que ainda vive num mundo de pessoas maravilhosas quando, ao passar de carro na rua abaixo da sua, é recebida com um aceno e um sorriso genuíno, vindos do senhor idoso a quem espatifou, num momento de distracção, um dos farolins do carro. 


(Claro que não conseguiu resistir e teve que parar o carro só para dizer olá e mandar cumprimentos à esposa.) 

domingo, 18 de março de 2012

Poesia em prosa

"A aguardente de arroz soltava a língua daquele artesão taciturno, e nessa noite Wang falava como se o silêncio fosse um muro e as palavras cores destinadas a cobri-lo."

Marguerite Yourcenar - A salvação de Wang-Fô e outros contos. (pp. 12)


I'm in love with a swedish



O melhor do Indie pop. Escutar com atenção!

sexta-feira, 16 de março de 2012

Não deixarei que me imortalizes pregada com alfinetes num quadro.


XXXV

Oiço o rumor das águas todo o dia
A lançar queixumes,
Tal qual ave marinha de tristeza,
Que, ao partir sozinha
Escuta o vendaval ao mar bramindo
Monotonia.

Sopra, de gelo e cinza, a ventania
Por onde eu avanço
De muitas águas o rumor escuto,
Pela profundura.
Oiço fluir correntes, noite e dia:
Maré-baixa- alta maré.

Música de Câmara - James Joyce

quinta-feira, 15 de março de 2012

A quatro mãos

Enquanto come um coração de chocolate de leite, olha para o ecrã e sorri. Já foi apanhada duas ou três vezes nestes propósitos, à custa desta brincadeira, o que levou a que a questionassem sobre o motivo porque estava a sorrir para o telemóvel ou para o PC. De todas as vezes, optou por ignorar o interlocutor e continua a ler, concentrada em cada palavra do pequeno texto que ele escreveu só para si. Neste momento está sozinha e pode rir-se à vontade. Apenas o gato lhe faz companhia, deitado próximo dos seus pés, a dormir com os olhos entreabertos, como que a guardá-la. E ao gato pouco importa se ela se ri ou não. Deambulando com o olhar, afasta-o do ecrã do computador e dirige-o para o copo com água onde "ele" repousa. Fecha os olhos e viaja no tempo, em reverse, até ao final da tarde do dia anterior. A imagem que forma na sua mente pára e recomeça a andar, desta vez para a frente, em câmara lenta. Vislumbra o seu ar de aborrecimento fingido quando ele lho entrega. Observa a aflição com que ele lhe tenta responder, quando o interpela e lhe comunica que não foi aquilo que pediu. Entrevê a forma como, sem perder a postura de mulher decidida, o tenta sossegar, informando de que terá que servir até que o seu desejo lhe seja concedido. Vislumbra a candura com que ele recebe o beijo que lhe deposita na face. O beijo que ele não percebe que tem por móbil a absolvição do crime que com palavras ela condenou; o beijo que é um convite velado, que se sabe jamais será aceite; o beijo que é um depósito de promessas que ela nunca poderá cumprir; o beijo que lhe marca nos lábios a textura da pele dele, que lhe aloja na memória olfactiva o seu cheiro; o beijo que poderia ser a chegada, mas que apenas lhe dá o mote para a partida... Ouve-se a mentir-lhe, a dizer-lhe que o devolverá logo que ele lhe escreva. Vê-se, a si própria, a caminhar para longe, sem rodar o pescoço para um último adeus, com os dedos médio e indicador da mão direita pousados nos lábios e a mão esquerda fechada, a apertar o pedúnculo.
Reabre os olhos e volta a olhar para o copo. Ele não sabe disso, mas ela jamais abdicaria de qualquer um dos seus girassois.

Prazeres envoltos em culpa





Não fosse a minha obstinada capacidade de auto-censura, e ontem teria deixado aqui esta música...

segunda-feira, 12 de março de 2012

Para quê o esforço se os outros o dizem bem melhor #2





Her green plastic watering can
For her fake Chinese rubber plant
In the fake plastic earth
That she bought from a rubber man
In a town full of rubber plansTo get rid of itself


(Radiohead - Fake plastic trees)

quinta-feira, 8 de março de 2012

quarta-feira, 7 de março de 2012

Atenção!

Li na imprensa uma frase que juntava o nome desta senhora a "Songs of Love and Hate" e tive que vir espreitar. Gostei da energia negra que as musicas carregam. Gostei da simplicidade que se solta guitarra.


segunda-feira, 5 de março de 2012

Multiculturalidade


(os presentes dos meus amigos são insuperáveis)

domingo, 4 de março de 2012

Puerilidades

Entro no carro mais pequeno, naquele que não gosto de conduzir, que apenas conduzo por imposição, porque me sinto dentro de uma caixa de fósforos e ligo a ignição. Movimento-me no modo piloto-automático que me caracteriza antes da primeira dose de cafeína começar a circular no sangue e atingir as sinapses. Não consigo vislumbrar a rua e percebo que a humidade da noite cobriu o para-brisas e imediatamente agarro o botão que comanda as escovas para me livrar da camada de gotículas de água que me impedem a visão. Antes de ter tempo de accionar o botão, o vislumbre de um pedaço de papel paralisa-me. Deixo escapar um palavrão em surdina, que a garota ouve e maquiavelicamente guarda para me cobrar mais tarde. Penso que o dia começa mal e que já me deram cabo do carro. Saio e agarro no pequeno recado que alguém colocou debaixo da escova esquerda. Dou a volta ao carro para avaliar o estrago e como não encontro qualquer mossa nova, abro o bilhete. Em segundos passo do sisudo aborrecimento, à espantada perplexidade e finalmente começo a rir à gargalhada. No pedaço de papel arrancado de um caderno de linhas, leio "Sou teu admirador, mas não me perguntes porquê." Penso de mim para mim que nem que quisesse muito perguntar, não saberia a quem. Penso de mim para mim que mesmo que soubesse a quem, não perguntaria. Respondo-lhe em silêncio que não necessito de perguntar, que já sei a resposta, que sou uma rapariga admirável.

Para quê o esforço, se os outros o dizem bem melhor.


я скажу тебе и ты увидишь
жиз прекрасна но опасна
но я не боюсь
и я одна ещё вернусь

Rodrigo Leão - A mãe

Eu digo-te e tu verás
A vida é bela, mas perigosa
Mas eu não a temo
E mais uma vez, a ela, estou de volta.

(Tradução não completamente literal).



sábado, 3 de março de 2012

Para acabar de vez com a credibilidade da dona disto #2



Os presentes dos meus amigos são impagáveis.

quinta-feira, 1 de março de 2012