domingo, 26 de janeiro de 2014

O seu estado de espírito é definido pelas músicas que a atormentam #23



Comme le chien de monsieur Jean de Nivelle
Tu ne viens jamais à moi quand je t'appelle
Qu'importe le temps
Qu'emporte le vent
Mieux vaut ton absence
Que ton inconséquence
Quand par hasard dans mon lit je te rencontre
On n' peut pas dire que tu sois pour ni qu' tu sois contre
Qu'importe le temps
Qu'emporte le vent
Mieux vaut ton absence
Que ton impertinence
Dans tes yeux je vois mes yeux t' en as d' la chance
Ça te donne des lueurs d'intelligence
Qu'importe le temps
Qu'emporte le vent
Mieux vaut ton absence
Que ton incohérence
En d'autres occasions je chanterais les transes
De l'amour mais aujourd'hui je m'en balance
Qu'importe le temps
Qu'emporte le vent
Mieux vaut ton absence
Que ton indifférence 

Era uma vez.

"Estava mais que sabedor, quem é amado percebe-o sempre, se estiver no seu perfeito juízo e não estiver ansioso por isso, porque o ansioso não distingue, e interpreta erroneamente os sinais. Mas ele estava livre disso, não queria que eu gostasse dele, pouco fizera para me encorajar, justo era reconhecê-lo."

Javier Marías - Os enamoramentos, pp.294

Compulsões


(janeiro ainda não acabou e já temos menos 20 cm de espaço na estante)

domingo, 19 de janeiro de 2014

Relâmpagos







 
 

Mis Mejores Deseos

Que la vida te sea llevadera.
Que la culpa no ahogue la esperanza.
Que no te rindas nunca.
Que el camino que tomes sea siempre elegido
entre dos por lo menos.
Que te importe la vida tanto como tú a ella.
Que no te atrape el vicio
de prolongar las despedidas.
Que el peso de la tierra sea leve
sobre tus pobres huesos.
Que tu recuerdo ponga lágrimas en los ojos
de quien nunca te dijo que te amaba.

Amalia Bautista

Personagens urbanas

"Passou muito tempo até tornar a ver Luisa Alday, e durante esse longo período comecei a sair com um homem de quem gostava mais ou menos e apaixonei-me estúpida e silenciosamente por outro, pelo seu apaixonado Díaz-Varela, com quem me encontrei pouco depois num lugar improvável..."

Os enamoramentos - Javier Marías, pp. 121.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

sábado, 11 de janeiro de 2014

O silêncio e a multidão

Num acesso de rebeldia, resolvo abandonar o estado de letargia em que tenho vivido. Pego no telefone e marco o número da única amiga que amiúde me recrimina a ausência. Informo-a de que passarei em sua casa às 22:00 para bebermos um copo de vinho no sítio do costume. Dá uma gargalhada e responde-me apenas: "Até mais logo". Chego a casa já tarde, como qualquer coisa rápida e nem sequer penso em trocar os jeans e a camisola meio desbotada que usei durante o dia.  Hoje não tenho tempo para minudências. Amanhã talvez. O sítio do costume tem um vinho sofrível e o rapaz das bebidas mais giro dos arredores. Fica numa esquina e serve de poiso aos artistas underground da cidade, que transitam diretamente do teatro vizinho para a esplanada em construção. Pedimos dois copos de vinho e sentamo-nos à janela. Adivinha-se mais uma noite regada com conversa fiada e gargalhadas aos molhos. O barman mete-se connosco, mas não lhe damos trela. Hoje não permitimos intrusos. Amanhã talvez. Vejo, no meio da multidão alguém que me observa. A alguns passos de distância está um homem a fumar em silêncio. Ignora as duas acompanhantes verborreicas que o ladeiam e vai espreitando timidamente para a janela que nos emoldura. Não resisto à curiosidade e devolvo o olhar. Num segundo vislumbre reconheço-lhe as feições. Por instantes, deixo de ouvir as peripécias educativas da minha companhia e vagueio pela memória à procura de um nome para atribuir ao semblante. Não encontro. Conheço demasiadas pessoas e a idade começa a roubar-me a capacidade de as contextualizar. Regresso à conversa, certa de ter perdido dois ou três boas histórias e desisto de tentar situar aquele olhar que não nos larga, certa de que serei apelidada de malcriada, num futuro encontro. A noite faz-se já longa e a conversa amorna. Decidimos regressar a casa. Logo que entro no meu espaço, rumo à cozinha, cruzando-me pelo caminho com a estante dos livros. Um estímulo em tons de azul activa as sinapses e faz-se finalmente luz na memória cansada. O dono daquele olhar escreve livros e eu tenho uns quantos na estante para assinar. Hoje não lhe fiz a pergunta que há muito me atormenta: "Haverá cura para este permanente aparvalhar que acompanha o amor?" Amanhã talvez...

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Coisas que me deixam para lá de feliz #2



(Já não bebia leite achocolatado de pacote há anos. Tão bem que me soube.)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Laboratório experimental

Armada em fada do lar aparentada de Maria de Lurdes Modesto, no domingo, resolvi dar rumo aos restos de frutos secos e cristalizados sobrantes das festas, e confecionar uma espécie de bolo-rei. Escrevo espécie, porque ao que parece, a massa do bolo-rei deve ser feita com fermento de padeiro e deixada a repousar por uma série de horas. Na falta do fermento de padeiro usou-se o famoso e antiquíssimo Royal e o descanso da massa terá sido de uma hora, no máximo, que eu cá não tenho paciência para grandes esperas. Dizia também a receita, retirada da internet pois claro, que a iguaria natalícia deveria ser condimentada com duas colheres de sopa de aguardente velha e outras duas de vinho do Porto. Olhando para a quantidade de massa (e pensando no meio quilo de farinha acabado de despejar), quatro colheres de liquido pareceu-me muito pouco e portanto tratei de dobrar a dose e acrescentar mais um bocadinho, crente de que a humidade na confeitaria nunca caiu mal. Acabado de sair do forno e quebrando mais um dos preceitos, tratei de imediato de cortar uma fatia. Era o meu primeiro bolo-rei, e a impaciência não me permitia aguardar nem mais um segundo. Fiquei alcoolizada só com o cheiro. Tinha exagerado na humidade, estava visto. Só faltava saber se estaria minimamente comestível. Estaria? Estava. Minimamente diria eu. Consideravelmente disseram os meus quatro homens, que se foram guerreando para distribuir entre si as dez fatias que levei comigo hoje de manhã. Não fugindo ao seu habitual registo, fartaram-se de tecer elogios sarcásticos acerca do grau de embriaguez em que iria desembocar a experiência, mas isso não os impediu de discutirem até ao fim quem ficaria com a nona fatia, visto que eu não abdiquei da décima.
Acabam o lanche repetindo que casariam comigo, bastava para isso que eu me limitasse a cozinhar. Faço cara feia e respondo-lhes que sou quase a carochinha. Cozo, varro e passo a ferro, mas ninguém me apanha nisso de casar.


domingo, 5 de janeiro de 2014

Impressões digitais

Diz-me quem sentiu o coração a rasgar-se milhares de vezes, só porque durante tanto tempo acreditou em almas siamesas, que a complementaridade não é mandatária, que na diferença também se encontra a união. Diz-me quem aprendeu porque deu o peito às balas, porque é catedrático nas dores do coração, que há outras formas de amor mais calmas, menos pungentemente egoístas. Recuso-me a acreditar que o sentimento supremo possa tomar uma forma diferente desta que me atinge. Ainda que todo o espaço que o meu olhar consegue alcançar me prove que estou errada, não desisto da fórmula que construí, e não há quem me convença que existe outra diversa. Tal como as botas alheias não cabem nos meus pés, também o amor de outros seria incapaz de me servir, de me consolar corpo e alma. Necessito desta fogueira para onde a ideia da nossa existência simétrica me atira. Não consigo viver senão embrulhada nas labaredas da tua imagem, que me consomem desde o acordar até ao adormecer, e que reacendem, todas as noites, durante o sono quando, sem aviso ou convite, me invades e equilibras o universo onírico. Sou avessa à tepidez, à moderação, ao comedimento. Sou uma criatura de extremos, de tudo ou nada, de excessos. Não sei senão existir no borboletear do estômago, no bater descompassado do músculo cardíaco, no sufoco dos alvéolos pulmonares. Não sei senão viver deste amor singular.