quinta-feira, 31 de maio de 2012

Eu já tive uma máquina fotográfica analógica e muito pouco jeito para tirar fotografias.

Uma das coisas que mais me agrada nisto de ler blogs é o potencial de associação de ideias que me vai provocando. E se algumas vezes me dá preguiça e deixo passar sem referência, noutras não resisto e toca de dar a conhecer ao mundo aquilo que me veio à alma. 
Eu também lá estive. Já lá vai há tanto tempo.







segunda-feira, 28 de maio de 2012

Hoje o dia correu-me bem. Não se vê?

Eu sou mulher pouco dada a ódios ou vinganças, como aliás já afirmei anteriormente. No entanto, nos últimos tempos tenho dado comigo a ter pensamentos pouco meigos e a desejar coisa menos simpáticas a todas os inúteis que maltrataram ou se esqueceram, por muito que sejam recordados, de me devolver os livros que lhes emprestei, àqueles frustrados que teimam em minorar ou anular as vitorias atingidas por mim ou pelos meus e, mais recentemente, ao cabrão do gajo que teve a ideia peregrina de espetar um prédio de 15 andares entre o meu jardim e o sítio exacto do horizonte onde o sol se põe na primavera.

domingo, 27 de maio de 2012

Conto-te como foi!

Sobrevivo, ancorada na ordem com que inundo o meu agir, e que torno mais e mais rígida com o passar dos tempos. Qual animal das profundezas marinhas que foge da luz, aninho-me na escuridão. Nas entranhas do ser mantenho activas apenas as funções vitais. Cumpro, dia após dia e escrupulosamente, o plano que tracei num passado remoto, na esperança de manter intacta a morfologia do músculo principal. Uma noite, ludibriada pela ausência da luz que o sol reflecte na lua, sou vencida pela curiosidade e ouso emergir à superfície. Convenço-me que posso escapar ao fado do sangue gelado que me corre nas veias e deixo-me transformar em anfíbio. Fecho as guelras, adquiro a posição bípede e, pelo menos para a vista, assumo uma constituição semelhante à de um mamífero terrestre, aproximada à de um ser humano. Percorro as ruas frenética,em passo de corrida, sem sentir o chão debaixo dos pés, como que a flutuar num mundo onírico. Não sei o que procuro. Não sei sequer se procuro ou se apenas vagueio. Avisto-te. Permito que te aproximes até quase me tocares. Passeio em teu redor, sem pudor, o olhar inquisitivo da indiscrição. Incito os teus dedos para que me percorram a silhueta. Necessito de descobrir, através da pele, que não és apenas a miragem que me atormenta as noites. Afasto-me e reaproximo-me pelas tuas costas. Introduzo os dedos entre os fios prateados que te cobrem a cabeça. Lentamente, mapeio-te as funções neuronais. À medida que te submetes aos meus gestos, começo a sentir o sangue que me percorre o corpo a aquecer, lentamente. O calor que me traz de volta à vida aniquila as defesas que demorei anos a fortificar. A tua entrega depriva-me de rumo, absorve-me o querer. Quebro a regra principal. Deixo-te acontecer e esqueço que as horas passam enquanto aconteces. O dia começa a clarear. A luz fere-me a íris e recorda-me que sou um animal noctívago. À pressa, recolho do chão os meus despojos e mergulho de novo rumo à escuridão. Abrando o ritmo cardíaco até ao minimo necesário à sobrevivência. Regresso ao estado habitual de hibernação.

Um homem, uma guitarra.

A prosa que rende

"- Em geral é assim. E é desconcertante verificar que o sentimento mais belo deste mundo, o amor, é precisamente aquele que menos suporta a verdade."
Ismaïl Kadaré - O Acidente, pp. 149

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Yes! Oh yes! I definitely do.

Relato(s) Urbano(s)....

(exorcismo ao inverno na caixa de rascunhos)

Ruídos humanos, animais e da natureza em fúria não me deixam pregar olho a noite toda. Levanto-me de manhã a desejar que seja de novo noite. Saio de casa e chove torrencialmente. O guarda-chuva não consegue deter a fúria da água despejada pelas nuvens. Fico molhada da cabeça até aos pés. Nem a pele que se encontra debaixo do casaco e das botas supostamente impermeáveis se safa.  Atravesso de carro a estrada que circunda a minha cidade e que se encontra coberta por um mar. Fico à espera que o carro deixe de circular, pois faltam-lhe as guelras, as barbatanas, o equipamento de mergulho.  Sem saber muito bem como, chego ensopada mas incólume ao meu destino. Aterro em frente ao computador e de cenho carregado, numa apologia ao pleonasmo, imploro  ao relógio para que escoe as horas com rapidez. O inútil objecto, pendurado na parede qual enforcado, ignora-me o pedido e, numa atitude de desafio, opta por lentificar os ponteiro. Vou-lhe deitando o olho, através do vidro do aquário que me cerca, e amaldiçoo-o enquanto  suspiro pela noite. Os seres que me passam pela frente são demasiado simpáticos e pacientes, mas ainda assim farto-me de os olhar, de os escutar, de lhes indicar caminhos através do verbo. A hora da saída chega. Regresso a casa. Os candeeiros da rua onde habito estão sem vida, apagados. A lâmpada das escadas do prédio não acende. Abro a porta de casa, às apalpadelas, usando como guia o visor do telemóvel. Não há luz dentro de casa. Acendo velas em todas as divisões. A minha capacidade de lidar com a contrariedade extingui-se. Decido pegar no telefone e ligar-lhe, pedir-lhe que  me salve. Do outro lado, uma voz formatada de mulher responde que o número para o qual liguei não se encontra atribuído. Volto a tentar mais uma e outra e outra vez. Sempre a mesma ladainha. Finalmente toca a campaínha. Abro-lhe a porta e começo a desfiar um rosário de maldições contra si e o aparelho inútil. A música dos Black Keys confirma que está tudo dentro da normalidade. Volto a tentar ligar-lhe. A mesma resposta. Informo-o que preciso de interromper a vida por algumas horas. Meto-me entre os lençóis e adormeço. Necessito de abandonar a 5ª dimensão que hoje me tomou conta do dia.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Dores do crescimento

A ausência que impões ao teu ser confere-lhe um carácter etéreo, incorpóreo, desprovido de forma ou volume. Num estado gasoso, invades-me através de cada poro da pele, através de cada orifício do corpo. Impregnas-me as funções sensoriais com as tuas emanações, contagiando-me de febres convulsas. Procuro no léxico palavras para te gramatizar, para te tornar palpável, para te solidificar. Acredito no tratamento pela rendição ao discurso. Confio na cura através da causa. Sei que apenas o teu corpo poderá salvar-me a alma.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Procuro outro mas é a ti que encontro.

"A caminho do Bransa perguntei-lhe se começava a a trabalhar sempre tão cedo e ripostou-me que, no seu caso, diferentemente de outros "criadores", a inspiração era proporcional à luz do dia.
- Amanhece com o Sol e com ele vai aquecendo - explicou-me, musicalmente, enquanto à nossa volta, um rapazito sonolento varria a serradura cheia de beatas e sujidades do Bransa. - Começo a escrever com a primeira luz. Ao meio-dia o meu cérebro é uma tocha. Depois vai perdendo fogo e à tardinha paro porque só restam brasas." 
A Tia Júlia e o escrevedor - Mário Vargas Llosa, pp. 44

sábado, 19 de maio de 2012

Incompreensível

Não mostraste qualquer interesse em agarrá-la enquanto permaneceu. Não fazes tenção de largá-la, agora que partiu.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

...é só juntar os lábios e soprar.

Sedução

Hoje, vindo quase do nada, recebi de presente um conjunto de chaves de fendas de ponta magnética.

(os meus homens têm, sem sobra de duvidas, as ideias mais originais do mundo)

sábado, 12 de maio de 2012

Vamos brincar #3




But I don't care if you don't
And I don't feel if you don't
And I don't want it if you don't
And I won't say it
If you won't say it first

sábado, 5 de maio de 2012

As (in)certezas da vida.

"Em certos dias, parecia-lhe que o que acontecera tinha a ver, de qualquer modo, com o famoso dilema que consiste em saber se o amor deveras existe ou é apenas uma chama doentia, uma alucinação recente aparecida na Terra há apenas cinco ou seis milénios, e da qual ainda se ignora se o planeta vai assimilá-la definitivamente ou rejeitá-la como a um corpo estranho.
O alarme soara a propósito da diminuição da camada de ozono, do avanço do deserto, do terrorismo, mas ninguém ainda se preocupara com a fragilidade do sentimento amoroso."

Ismail Kadaré - O Acidente. pp. 42

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Sem regresso.

Aderiu às novas tecnologias e mandou instalar um sistema de sensores que, ao mais pequeno movimento, acciona o mecanismo de encerramento das duas valvas que lhe servem de moradia. Aproveitou e aperfeiçoou o processo de abertura retardada, introduzindo como senha a solução de uma equação de segundo grau com raízes complexas. Assim consegue garantir que mantém preso no exterior qualquer potencial invasor, que apenas o sono lhe fará companhia quando chegar a noite.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

quarta-feira, 2 de maio de 2012

É que nem me apetecia nada escrever sobre isto.

Nunca me passaria pela cabeça ir às compras num dia em que as lojas, fossem elas quais fossem, tivessem uma promoção de 50%. Não porque considere que sou melhor que os outros, mas porque não necessito efectivamente de o fazer, e porque actualmente, o bem mais precioso que possuo é o tempo livre de que disponho. Por isso não costumam ver-me nas filas dos primeiros dias dos saldos, por isso, ninguém me viu ontem a entrar no supermercado que anda nas bocas do povo. Mas esse distanciamento de atitude, não me impede de perceber que nem todos os que ontem optaram por gastar o dia inteiro num supermercado sejam predadores consumistas ou zombies acéfalos. Acredito que algumas das pessoa, compraram mais do que aquilo que necessitavam, porque a compra por impulso nestes casos é inevitável, mas também sei, porque convivo diariamente com a pobreza, que para muitas daquelas pessoas ontem foi Natal e que graças ao "Menino Jesus" poderão comer com menos restrições nos próximos dias. Da mesma forma que sei que na cantina da instituição onde trabalho alguns encontram manobras de diversão que lhes permitem comer duas vezes ao almoço, porque necessitam de compensar o que não irão comer ao jantar. Assim como sei que no inicio do mês de Setembro esses mesmos chegam com a roupa a sobrar-lhes no corpo, porque Agosto é mês de férias e à sopa do jantar, tem sempre de ser acrescentada água, para sobrar para o almoço do dia seguinte. Perguntam-me como sei estas coisa? É fácil. Eu sou uma privilegiada. Tenho o condão de não viver numa redoma.