quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Porquê?

Porque não sopra o vento quando tenho calor?
Porque não vens quando te chamo?

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Regressos

Encontrei-me de novo com o Mar.
Sentei-me virada para a praia. Observo.
A maré está vaza. O sol começa a pôr-se. Centenas de gaivotas deambulam por perto, em voos rasantes, preguiçando na areia, embalando as ondas...
Na mesa ao lado estão um homem e uma mulher. A mulher narra um drama.
Duas crianças brincam na areia, junto à linha de água. Correm na direcção da agua, fogem das ondas, riem, gritam.
Um baloiço abana com o vento. As correntes rangem ritmadamente.
A mulher na mesa ao lado continua a falar ininterruptamente. O homem mantém-se em silêncio fingindo estar atento ao seu discurso. Tem um ar cansado. Não quer ouvir mais. O som das palavras está a tortura-lo. Quer apenas leva-la para a cama.
Ouve-se ao longe um ruído abafado. Um grupo de gaivotas levanta voo. Dezenas de asas batem simetricamente. Num rádio perto toca uma música latina que faz recordar tardes de verão ao sol.
O sol põe-se. Anoitece. As sombras reduzem-se até ao nada.
A mulher calou-se finalmente. O homem suspirou, aliviado pelo silêncio. Levantam-se e saem.
Estou sozinha.
A maré começa a encher. O ruído das ondas relembra-me o sabor do Mar. Sabor a sal e a peixe.
Observo-o embevecida. Sinto o seu odor. Escuto as palavras doces que me murmura. Enalteço as suas virtudes. Esqueço as suas imperfeições.
Enamorei-me de novo pelo Mar. Voltei a senti-lo em mim.
Porque não consigo voltar a enamorar-me por ti?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Sou...

Sou
eléctrica,
irritante, entediante, oscilante,
histérica,
carinhosa, ambiciosa, curiosa,
frágil,
honesta, pouco modesta, indigesta,
temível,
obcecada, ensonada, imponderada,
robusta,
traiçoeira, verdadeira, inteira
perturbante,
estridente, luminescente, carente.
O meu eu uno.
Em tudo igual, em tudo diferente...

The end

Vivemos momentos mágicos.
Acabou.
Perguntas-me se te amo, se me sinto feliz.
És o meu melhor amigo.
Não te amo. Não me sinto feliz.
As espécies evoluem, os sentimentos também.
Fui errada, magoei-te...É difícil viver e conviver comigo. Também tenho virtudes.
Também fui magoada, também tive desilusões.
Fechei-me numa concha, isolei-me, afastei-me.
Não quero desistir. Quero começar a abrir a concha em que me enfiei.
Socorro!
Preciso que cuides de mim, que me protejas, que me mostre que não sou feliz sozinha.
Quero voltar a desejar amar, amar-te. Quero pensar em ti todos os momentos do dia.
Quero voltar a não poder viver sem ti.

Pensamentos soltos

Estou perdida na escuridão dos meus sentimentos.
Apanho do chão os cacos do meu eu fragmentado.
A minha única companhia é a ausência.
Acerca-se dos meus pés a vertigem do vazio.
A minha fragilidade causa-te náuseas.
Vomitas desprezo e compaixão.
Anuncias em néon a tua dona.

Muralha

Isolo-me, crio uma parede entre mim e o mundo, entre mim e ti.
Aproximas-te devagar, sorrateiramente e fazes-me começar a desmancha-la.
Diriges-me palavras doces, gestos afectuosos.
Começo a esquecer-me de tudo o que já vivi. Tenho a memória de um colibri.
Aos poucos, a minha capa protectora derrete.
Sou um bloco de gelo. Tu és o meu sol.
Deixo-te aproximar demasiado. Começo a sentir o calor.
Recordo-me que não me queres para além da necessidade que tens de ser desejado. Por isso te aproximas. Por isso não nunca libertas totalmente.
Quando a muralha está vencida, atacas. Comparas-me. Diminuis-me. Ignoras-me. Mostras-me que sou nada, que para ti sou o vazio.
A minha pele começa a queimar, o teu veneno a circular-me nas veias.
Coloco de novo os tijolos. Quando amanhecer estará de novo formada a barreira que me protege. Então poderá repetir-se o ciclo.

domingo, 27 de setembro de 2009

Fragmentos

É o meio da tarde. Estou sozinha em casa. Tu estás do outro lado do Mundo.
Vêm-me à memória fragmentos de ti.
O primeiro encontro. Um rapaz tímido, mas com fogo nos olhos. Um sorriso avassalador, que enchia o horizonte.
O último encontro. Um estremecer, o arrepiar de todos os pelos do meu corpo. Um abraço. Os teus lábios junto ao meu ouvido. O teu nariz junto ao meu pescoço. E uma frase que acabou com qualquer resistência que eu ainda pudesse ter.
Um concerto de uma banda que já não ouves. As mãos dadas às escondidas. O roçagar clandestino dos nossos corpo, na escuridão.
Uma sessão fotográfica na cozinha. Um beicinho. Uma birra de menina que não queira ser fotografada.
Uma viagem à praia. As mentiras contadas, para te encontrar. Um beijo ao pé do mar. A satisfação do desejo que nos incendiava.
Os discos trocados. Os livros emprestados. As coisas que nos ensinávamos.
Um fim-de-semana no Minho. Os olhares que queimavam. A tensão que crescia, e que os outros não conseguiam ver.
Uma tarde de carícias com a tua mãe na sala ao lado.
Conversas trocadas durante tardes inteiras, em dias de trabalho. As vezes que te fui buscar à sexta, ao trabalho.
As confidências que me fizeste. As histórias negras que me contaste. A dor que tentava acalmar com as minhas carícias. Os teus fantasmas.
A tua cabeça deitada no meu colo. A tua expressão de criança abandonada.
A despedida. As lágrimas que a seguiram.
O desejo que sentia quando estavas longe. Os teus beijos.
Ontem voltei ao local do nosso último encontro. Procurei-te por todo o lado. Sabia que não te encontraria, mas não pude deixar de procurar. Queria um sinal da tua passagem por lá, um indício de que estavas perto. Sentei-me no banco onde te vi. Acariciei-o. Imaginei que te estava a tocar. Senti o frio da pedra.
Deixo escapar uma lágrima, que leva consigo a certeza de que nada voltará a ser igual.

sábado, 19 de setembro de 2009

Rituais da madrugada

Há já tanto tempo que partiste.
Mas ainda acordo a meio da noite. Nos primeiros momentos, tenho dificuldade em perceber onde estou. Estendo o braço e sinto o frio dos lençóis abandonados. Demoro a perceber que estou sozinha, que não estás ao meu lado. Não volto a adormecer. Fico atenta aos sons da madrugada. Oiço um carro a passar ao longe. O galo canta, anunciando que a hora de levantar ainda vem longe. Dou voltas na cama. Não consigo deixar de pensar em ti, em nós, naquilo que éramos, que fomos e no que nos tornámos. Lágrimas de nostalgia caem-me sobre o rosto. Limpo-as com as costas da mão. Levanto-me, vou até à janela e observo o nascer do sol. Nunca vi o nascer do sol contigo. Eras demasiado preguiçoso, para me acompanhar. Acendo um cigarro e penso na minha mãe a dizer: "Faz-te mal fumar em jejum". Sorrio. Penso no paradoxo. Nunca me diz que me faz mal fumar, diz-me que me faz mal fumar em jejum. Talvez um cancro no estômago seja pior que um cancro nos pulmões. As mães têm imensos conhecimentos de medicina, que aplicam principalmente nos seus filhos. Mal sabe ela que, efectivamente, desenvolvi uma doença grave. Uma insónia crónica, este acordar de madrugada, que se repete todos os dias e que ninguém consegue curar.
Os sons da madrugada, o nascer do sol, a lágrima, o cigarro... Rituais que me sossegam o espírito e me preparam para mais um dia sem ti.
Tenho 25 anos, mas parece-me que tenho 255. Vivo rodeada de gente, por todos os lados, mas sinto-me a criatura mais solitária do Mundo. Tenho o emprego que escolhi, mas detesto-o. Nada do que me rodeia, me faz, nem que seja por um breve momento, sentir satisfação. A felicidade tornou-se numa desconhecida para mim. Arrasto-me desde que acordo de madrugada, até que me deito, de madrugada também. O meu pensamento está preso à tua imagem. Não consigo deixar de sentir o teu cheiro, impregnado na minha casa, no meu carro, na minha roupa. O som da tua voz ecoa nos meus tímpanos. Quero livrar-me de tudo isto. Quero apagar todas as memórias que me esmagam, sufocam, destroem. Quero esquecer que um dia fui feliz.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Acordar

Sozinha em casa, oiço a chuva a cair lá fora. Sinto o cheiro dos primeiros pingos a cair na terra seca. Um odor familiar, a chuva de verão. Um odor de dias felizes.
Abro os olhos. Uma luz ténue entra pelos orifícios da portada.
Fecho de novo os olhos. O gato ronrona, abre os olhos e move-se para se enroscar de novo. Sinto o calor do seu corpo, junto aos meus pés. Ao longe toca uma música hipnotizante, música de carrossel, de feira de diversões.
Não me apetece acordar. Passam-me milhares de pensamentos pela cabeça. Quero deixar de pensar. Quero esvaziar o pensamento e flutuar no vácuo. Não consigo.
Abro de novo os olhos. Olho para o relógio. Ainda é madrugada. O novelo de pensamentos adensa-se. Quero voltar a dormir e não consigo. Recordações de momentos felizes flutuam na córnea. Quero esquecer a felicidade que já senti. Ou que julguei sentir. Não consigo esquecer. A dor torna-se ainda mais aguda.
Levanto-me da cama. Deambulo pela casa. O gato segue-me miando. Tem fome. Está a ordenar-me que lhe dê de comer. Despejo os biscoitos na taça. dou meia volta e regresso à cama.
O músculo cardíaco bate descompassado, a um ritmo ora lento, ora veloz. Sinto uma vertigem. O chão foge-me debaixo dos pés.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Há...

Há um lado negro em mim,
que ri face à desgraça, que troça dos infelizes.
Há um lado negro em mim,
que quer controlar o mundo, o meu e o dos outros.
Há um lado negro em mim,
escondido, latente, dominado,
prestes a reagir ao primeiro estímulo.
Há um lado negro em mim,
que controlo com todas as minhas forças, que domino com todo o meu ser.
Há um lado negro...