quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ainda "a procissão vai no adro"

Se eu permitisse ao meu empedernido coração que se perdesse nas vielas da paixão, é quase certo que serias tu o primeiro passante a, por ele, ser chamado.
São as surpresas que a vida nos vai reservando.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Quando voltares

Como se não bastassem os estragos que tu foste fazendo, vêm os teus e arrasam novamente com toda a alma lusa. Quanto aos outros não sei, mas no que a ti diz respeito, vou somar todas as arrelias bem somadinhas e multiplicar o resultado pelos dias marcados no calendário. E depois apresento-te a conta. Prepara-te, porque se apareceres por cá, não vais fugir sem pagar.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Desde sempre

Como uma criança que brinca na areia, deixaste-me escapar por entre os teus dedos. Tentei voltar às tuas mãos, mas tu não percebeste, pois o teu olhar tinha-se distanciado até ao horizonte. Comecei a caminhar, à procura de me cruzar com os teus olhos. Misturei-me com a multidão. De repente perdi-te. Procuro-te, desde sempre.

Para sempre.

Como um punhado de areia fina, escorregaste por entre os meus dedos e foste misturar-te na multidão anónima. E desapareceste, para sempre.

sábado, 26 de junho de 2010

quinta-feira, 24 de junho de 2010

terça-feira, 22 de junho de 2010

Um desejo

Um distante génio, sem que em tempos teve uma lâmpada, adivinhou-lhe os pensamentos e, sem que ela tivesse que pedir, concedeu-lhe um desejo. E fê-la sorrir, porque se há coisa de que ela gosta, é do inesperado.

Apeteceu-me mudar a cara disto.

domingo, 20 de junho de 2010

As coisas que eu te diria se me permitisse falar contigo II



(os Eurithmics dizem-no melhor que eu)

As coisa que eu te diria, se me permitissse falar contigo I

Não consigo ler-te. Nunca consegui. Desde o primeiro momento em que te vi, que compreendi que estás escrito num idioma que não conheço, num língua que nunca ouvi antes. Tive o devaneio de te pedir que me ensinasses. Afinal, eu até sou boa nessa coisa das línguas. Mas rapidamente percebi que, apesar de não o admitires, nunca me ensinarias, pois tu não queres ser lido, e por isso te escreves nessa língua.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Da morte.



Hoje morreu o José Saramago.
Hoje, alguém que me conhece muito bem, disse-me que imaginava que eu estaria triste, porque não iria poder enriquecer a minha biblioteca com novas obras do José Saramago.
Hoje, essa afirmação fez-me recordar o momento e a forma como me apaixonei pela escrita do autor, fez-me recordar que, num repente, ele tornou-se um dos meus autores de eleição.
Hoje, apetece-me contar como foi.

A minha relação com a obra literária de José Saramago começou com a leitura da sua obra mais complexa "O Evangelho Segundo Jesus Cristo". O livro foi publicado, no ano de 1991, era eu ainda adolescente. Toda a polémica que a publicação gerou deixou-me cheia de curiosidade. Aliavam-se as duas coisas de que eu mais gostava, leitura e discussão. Era perfeito. Tratei de imediato de o pedir emprestado à minha melhor amiga e comecei a ler. No início tive muita dificuldade em seguir o texto. A forma era diferente de tudo o que já tinha lido e a narrativa era demasiado complexa e pachorrenta. Confesso que me apeteceu abandonar a leitura mais do que uma vez. Mas se o fizesse, seria a primeira vez que deixava um livro a meio, pelo que persisti, quase obrigada e muito devagar. De repente, mais ou menos a meio do livro, aconteceu algo de inexplicável. A narrativa começou a voar e a forma foi absorvida, integrada. Comecei a gostar muito do que estava a ler e a não conseguir parar. Cada pedaço de tempo livre passou a ser ocupado com a leitura do famigerado "Evangelho". Parei apenas quando foi virada a última página. Ou melhor, não parei, porque depois de terminar esse livro comecei a ler outro e depois outro e depois outro. Rapidamente, o José Saramago tornou-se no autor mais bem representado da minha biblioteca, no autor mais lido por mim, num dos meus autores preferidos, e o seu livro"Ensaio sobre a Cegueira" num dos livros da minha vida.

Hoje, eu estou triste, porque desapareceu um dos melhores escritores do mundo.
Hoje a pena foi pousada para sempre, e o mundo das letras ficou mais vazio.
Hoje morreu o José Saramago.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Experiências

Porque...

...nem só de futebol se fazem os dias e as noites (e os meus fazem-se cada vez menos);
...os devaneios, a curiosidade e a tentação por vezes trazem consigo surpresas;
...cada vez mais os meus auspícios se transformam em realidade;

A minha noite foi feita disto, na Casa da Música. E isto é muito bom.
Sem dúvida é uma experiência a repetir.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Encontrada

A claridade do amanhecer esbate os teus contornos difusos.
Devagar, vou-te perdendo nas pregas do tempo, nas dobras do caminho.
E em cada naco de ti que deixo para trás progrido e encontro-me.
Pedacinho a pedacinho...

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Dias de liberdade

Caminhada ao pé do mar, um café na esplanada de eleição, um livro surprendente a acompanhar.
Os cheiros, os sons, o vagar dos gestos...
Sem aviso, começam a esbater-se as cicatrizes causadas pelos desencontros. E os dias, à medida que avançam, tornam-se mais e mais livres.

Agora, resta apenas esperar que uma nova teia seja urdida, e que se caia nela, qual mosca distraída.

sábado, 5 de junho de 2010

Será que é o amor sem limites...

...que conduz à loucura, ou é a loucura que nos permite amar incondicionalmente.



(juntam-se uns copos de vinho com um filme poderoso e a asneira surge espontaneamente.)

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Magia

Estamos numa cidade de um qualquer país do Ocidente. A acção localiza-se dentro de uma casa. O cenário é uma sala decorada com excelente gosto e suavemente iluminada. Num dos cantos, sobranceiro à janela, está um sofá gigante. Da janela vê-se um parque e ouve-se, por uma pequena frincha aberta, o canto dos pássaros que habitam as árvores vizinhas, e que começam a acordar.
São dois os protagonistas da história, um homem e uma mulher, ambos com trinta e alguns anos de idade. Estão recostados no sofá, com os membros indolentes espalhados pelo tecido e os olhos semicerrados. São 4 da manhã. A noite já vai adiantada. O dia foi cheio de afazeres e emoções. Os corpos acusam cansaço e as mentes lentificam-se a cada pensamento que as atravessa. Os protagonistas têm estado a conversar sobre assuntos diversos, dizem banalidades, atiram piadas, jogam com as palavras...
De repente, ou não, porque nenhum dos dois consegue já lembrar-se dos pormenores, a conversa encaminha-se para o campo do existencial.
O homem resolve montar uma ratoeira à mulher. Ou então, procura efectivamente uma resposta, e considera que a actividade profissional da mulher lhe confere alguma sabedoria adicional. No seguimento do que estava a ser dito atira-lhe uma pergunta. Poderão não ter sido estas as palavras proferidas pelo homem, contudo, e uma vez que nenhum dos dois será já capaz de reproduzir com exactidão o conversa, estas terão que servir.

- O que leva alguém a acabar com uma relação que aparentemente é perfeita? Profissionalmente, qual é a tua interpretação? – pergunta o homem.

- Não te sei dizer. Se calhar é porque algo muda, porque a paixão acaba. Mas há pessoas que vivem juntas uma vida inteira. Não sei mesmo. – responde-lhe a mulher com alguma insegurança. Passa-lhe pela cabeça a ideia de que anos e anos de estudo se tornam inúteis quando necessitamos de uma resposta plausível.

- E para essas pessoas, que vivem juntas uma vida inteira, a paixão não acaba? – volta  à carga o homem, exibindo um sorriso desafiador.

-Se calhar são capazes de viver sem ela. Conseguem adaptar-se. As pessoas são todas diferentes. – remata a mulher usando uma das frases que servem sempre para explicar qualquer questão.

O homem não insiste. À primeira vista, a explicação parece satisfazê-lo, mas o seu sorriso torna-se irónico, deixando a dúvida no ar. A mulher percebe que ele sente que acabou de atingir uma pequena vitória, que ganhou a sua primeira batalha. A mulher tem um instinto competitivo arreigado e não baixa os braços perante uma derrota. Não vai descansar enquanto não organizar as ideias e produzir o discurso que apresentará ao homem, na próxima vez que o assunto vier à baila. E então, vai ao baú da memória buscar o que aprendeu nos livros, nos bancos da Faculdade e nos encontrões que a vida lhe foi dando, e começa a escrever.

“Há pessoas que conseguem viver juntas, mesmo depois da paixão se extinguir. Muito provavelmente vivem o dia-a-dia centradas noutros aspectos da sua vida, ou encontram a paixão noutros caminhos ou localizações.
Há, no entanto, pessoas que conseguem manter viva a paixão mútua que sentem, durante anos a fio, até que a morte os separe. E quando a morte os separa, fazem de tudo para que a morte os volte a unir, chegando mesmo a desistir de viver.
São muito poucos os casais que conseguem tal feito. Mas conseguimos identificá-los muito facilmente, no meio de uma multidão. São aqueles seres enrugados, que passeiam de mão dada, ou agarradinhos um ao outro, ou que à mesa do café, se olham como se se tivessem acabado de conhecer e apaixonar. São aqueles seres curvados que nos fazem ouvir violinos ou passarinhos a cantar, quando os vemos passar.
Há alguma fórmula mágica para se conseguir este efeito duradouro? Não, não há uma fórmula mágica, mas há certamente magia.
A magia começa quando ambos lutam contra a tentação de esconder pequenas verdades acerca de si, e as relatam ao outro, mesmo sabendo que correm o risco de o afastar para sempre. E continua, quando ambos compreendem que nada na vida é totalmente nosso, e que o que nos demorou anos a construir pode ser destruído em segundos, por uma qualquer força que está fora do nosso controlo, pois apenas conseguimos controlar uma ínfima parte daquilo que nos rodeia. E a magia cresce quando, todos os segundos de contacto com o companheiro visam a sua conquista e reconquista, mesmo que para isso tenhamos que esgotar todas as nossas forças.  E fortalece-se quando nos esquecemos que existimos e, nem que seja por apenas alguns segundos, o nosso mundo passa a ser aquela criatura que está à nossa frente, à qual vamos fazendo aproximações sucessivas, na tentativa de a incorporarmos, mas sem perdermos a nossa identidade, pois sabemos que foi essa identidade que a cativou.
E finalmente, a magia atinge o seu auge, quando conseguimos perder-nos nos seus olhos, nos seus braços, no seu corpo, mesmo sabendo que necessitamos, por uma questão de sobrevivência, de estar georreferenciados.”

Depois do discurso escrito, vem à mente da mulher um pensamento. Aquele homem não irá conhece-lo, porque ela, indo contra tudo o que colocou no papel, não terá coragem de lho mostrar.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Acabadas de colher no meu jardim.


Têm sabor a Verão comprido, passado na casa dos avós.

Dúvida

Acontece, por vezes, que quando caímos a pique, arrastamos juntamente conosco um amigo. Nessas alturas de pouca lucidez, há ainda quem coloque a si próprio a questão:
- Devo soltar as minhas lágrimas, ou devo guardá-las até que consiga ajudar a enxugar completamente as dele?