sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

domingo, 22 de dezembro de 2013

Prazo de validade

Pelo que consta por aí, a programação neurolinguística, apesar de ter mais idade que eu, é a ciência oculta do momento. Um dia destes dei de caras com um especialista na coisa, que me informou que bastam 21 dias para mudar um comportamento, bastando para isso que se vá repetindo uma espécie de mantra descritivo do hábito que se pretende abandonar ou adquirir. Como sou uma criatura altamente influenciável e, na falta de outras soluções para eliminar um vício que de mim se apoderou, tratei logo de experimentar. Tenho começado os dias com um "Não mais...". Até ao momento não reincidi. Fiz hoje as contas. A correr bem, no mesmo saco em que trouxer os presentes, o senhor das barbas brancas, na véspera de Natal, levará para longe o peso extra que carrego.  Só falta mesmo saber se eu estarei disposta a entregá-lo.



domingo, 15 de dezembro de 2013

Brincar com fogo


Delírios febris II

O corpo consumido pelos sintomas da gripe, ordena que já chega de cama. Levanto-me e trato da vida. Amonto-o aos pés da cama a roupa apanhada da corda, à espera que os braços esgotados recuperem a força necessária à dobragem. Na televisão passa um filme de qualidade duvidosa, que já vi pelo menos umas três vezes.  Decido despachar os pareceres que deverão seguir amanhã sem falta. Amanhã que é segunda e que por imposição exterior estarei a ouvir alguém a explicar-me como se gerem conflitos. Mas amanhã deverão seguir os pareceres. Hoje é domingo, e o tempo não pára. A voz que sai da televisão é rouca, uma espécie de trovão. O homem que a emite é uma espécie de colosso, um agregado de músculos bem definidos, descobertos ou cobertos em alternativa por uma camisola de alças justa. É o meu fetiche, o meu maior prazer proibido, a fonte da interrogação ilimitada.
Questiono-me se num dos seus semelhantes encontrarei a cura para todo o mal que me assola. Se assim não for, continuarei a procurar. Mas desta feita, sossegada pelos relâmpagos que me soprarão aos ouvidos, pelas tenazes que me cingirão o corpo, pela candura que me descansará a mente.

 
(foto gamada algures na net)

sábado, 14 de dezembro de 2013

Contemplações


Delírios febris

Quando penso que já nada resta para além do cinismo mútuo, deparo-me com uma qualquer puerilidade que, lançada com a perícia de um ataque bombista cirúrgico, me devolve ao estado de enlevo inicial. Quero partir, mas sei que não é chegada a altura. Vou ficando enquanto o encanto não se esgotar.

sábado, 7 de dezembro de 2013

O seu estado de espírito é definido pelas músicas que a atormentam #25


Realidade(s)


(uma garrafa de vinho, o meu quarto, uma câmara, um desejo, um beijo...)

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Metáforas no espelho retrovisor


Tributo à sabedoria rock-pop

Em 1992, e após o retumbante êxito de More than words (devido em parte à bandeira portuguesa a decorar o fundo do teledisco), os Extreme lançaram um álbum duplo, que eu decidi imediatamente que tinha que comprar. O Nuno Bettencourt, com as unhas pintadas de negro, o cabelo comprido que atirava para trás com um meneio de cabeça e o ar de bad boy com um coração pronto a derreter-se pela primeira que lhe aparecesse, tinha-se tornado na minha paixão adolescente do momento. Era lindo de morrer e eu necessitava de o ter a cantar para mim. Não podia esperar. Portanto, tratei logo de contabilizar as minhas poupanças e de fazer uma ronda pelos avós e tios para arrecadar o que faltava para comprar o vinil. E mesmo sem saber muito bem o que estava a comprar, corri à loja de discos antes que esgotasse. Chegada a casa com o objecto mágico dentro de um saco, tratei logo de o abrir e pôr a tocar no gira-discos. A audição do tão desejado quase provocou a apoplexia geral de quem vivia lá em casa, eu incluída. Aquilo nada tinha a ver com o êxito anterior e era apenas uma colectânea com uns tipos aos gritos e guitarradas e bateria. Socorro! Meu rico dinheirinho.  Com o tempo, fui ouvindo e aprendi a gostar moderadamente das músicas, quanto mais não fosse porque ia-me babando com enleio para cima das fotografias do guitarrista , e essa visão quase me faziam esquecer o escarcéu que ia sendo feito em fundo. Um dia destes, numa visita à biblioteca da casa dos meus pais, e enquanto procurava um livro antigo,  dei de caras com o vinil e resolvi dar uma espreitadela de novo nas fotos do fofinho do Nuno que, no final das contas já não me pareceu tão giro. A idade adulta provoca amiúde estas desilusões. Entretanto recordei-me que o disco tem um nome interessante, chama-se "III Sides to Every Story", e tem como subtítulo o fruto da divisão em três  partes:  1.  Yours, 2. Mine, 3. The truth.
Inconscientemente, sem me saber influenciada por uma banda moribunda, tenho tentado, nem sempre com êxito, confesso, fazer dessa frase uma máxima de vida. Não gosto de ver o mundo com linearidade. Tento procurar conhecer pelo menos três versões para cada história, a minha, a tua e uma intermédia, que é aquela que mais se aproxima da verdade.


         

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O seu estado de espírito é definido pelas músicas que a atormentam #24



(esta versão não é a melhor, mas é definitivamente a minha favorita)

domingo, 24 de novembro de 2013

Às postas

"Como é que se desmembra um corpo? Há dois caminhos fundamentalmente diferentes - o do cirurgião e o do louco Homem do Machado. Um é frio, calculista e progressivo, com a utilização de serra de ossos, bisturi e tesouras. O outro é um frenesim a cortar e a despedaçar, com sangue por todo o lado e o sabor a ferro na boca. Mas, seja qual for a forma de o fazer, o resultado é o mesmo - desmembramento."

Simon Mawer - A sala de vidro, pp. 184

Rendição efémera.


sábado, 16 de novembro de 2013

O Pedro Mexia está cada vez mais sexy, e o Nick Cave também.


Conselhos uteis ou nem por isso

Por muito que vos afirmem o contrário, a ignorância nem sempre é uma bênção.

domingo, 10 de novembro de 2013

Era uma vez...

"..., e para além do dinheiro que gasta em necessidades básicas, o único luxo que se permite é comprar livros, livros de bolso, na maioria romances, romances americanos, romances britânicos, romances estrangeiros traduzidos, mas, vendo bem as coisas, os livros são menos um luxo do que uma necessidade, e ler é um vício de que não tem o menor desejo de se curar."

Sunset Park - Paul Auster, p.10

sábado, 2 de novembro de 2013

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Tenho,

...gargalhadas a toda a hora, o melhor companheiro que existe, verão o ano inteiro e um castanheiro à janela.
Haverá melhor emprego no mundo?

 
(a fotografia não está grande coisa, mas foi o que se arranjou)

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Os inadaptados

Está a cortar as flores secas das alfazemas, para fazer aquilo que chama "um hospital de ervas curativas", enquanto eu arranco as ervas daninhas do jardim. De repente quebra o silêncio para me perguntar o que é uma metáfora. Páro uns segundos para pensar nas palavras que devo usar e respondo-lhe ilustrando com um ou dois exemplos, sem ficar com a certeza de que percebeu. Em jeito de pensamento em voz alta eu deixo sair: - Tenho que te mostrar o "carteiro"! Pergunta-me quem é o carteiro e eu trato de lhe explicar que é um personagem de um dos filmes mais bonitos que já vi, que um dia destes lhe mostrarei. Quer ver já. Resumo-lhe a história e resolvo mostrar-lhe um pedaço. Pergunta quem é o poeta. Digo-lhe que se chama Pablo Neruda e pergunto-lhe se quer ler um poema dele. Responde afirmativamente. Vou à estante, retiro uma antologia do chileno e escolho um poema para lhe dar a ler. Agarra no livro e segue lendo mais uns quantos com uma expressão de contentamento. Da ombreira da porta observo-a com um misto de orgulho e receio. Temo que ao satisfazer-lhe a curiosidade esteja também a fomentar a sua exclusão?


sábado, 26 de outubro de 2013

Isto tem chovido imenso, não tem?


 
 
Não sei muito bem como ou porquê, (embora suspeite que foi obra da passarada que invadiu o meu território e adjacentes), mas aqui há coisa de um mês começou a desenvolver-se no jardim cá de casa um rebento que eu achei por bem não arrancar quando fazia a limpeza periódica das ervas daninhas. Faço salvamentos destes amiúde, quando me parece que de um certo esboço de planta pode vir a desenvolver-se algo interessante. Com o crescimento desta, começaram-se a fazer apostas sobre a sua espécie. Eu afirmava que era uma aboboreira. O Sr. Fonseca, autodidacta da agricultura caseira, garantia que era um pepineiro. Andamos nesta discussão durante o mês, esgrimindo argumentos da mais diversa ordem e lógica, sem chegarmos a consenso, tendo até descoberto que a família, ao que parece é a mesma, a das Cucurbitáceas, o que legitimava qualquer das posições. Hoje de manhã, após quase uma semana sem aceder ao jardim, mal vi uns raios de sol tratei logo de ir inspecionar as culturas. Ficaram esclarecidas as dúvidas. Das flores amarelas que vão murchando brotam pequenos pepinos. O meu pai tinha razão.De acordo com o Google os pepinos estão a nascer completamente fora de tempo. Nada de estranho pois. Estas duas coisas já se tornaram uma constante na minha vida.

Original ou nem por isso.



Gosto muito dos senhores que criaram esta música, mas a voz de bagaço da Adele dá-lhe um encanto especial.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Vicio(s)*

Começou tudo porque eu resolvi oferecer o livro que andava a ler. Desengane-se quem pensar que foi um acto de altruísmo. A criatura presenteada confessou-me que nunca tinha lido o autor em causa, (um dos meus preferidos, por sinal), e eu já andava com urticária, só de  saber que existia alguém desconhecedor de (e resistente a ler) alguns dos melhores pedaços de prosa que por aí circulam. Vai daí, numa tentativa de reparar tal falha, não hesitei e impingi-lhe o livro que carregava na carteira. Chegada a casa, fui directa à estante à procura de um substituto à altura. Como um semáforo, vermelho e tudo, o último livro do David Lodge entrou-me pelos olhos dentro e foi imediatamente eleito. "Um homem em partes" já estava à espera desde março e, a bem da verdade, não havia titulo que melhor se adequasse ao momento actual. As quase seiscentas páginas de letra 11 a espaço e meio não foram elemento dissuasor, porque afinal, o David Lodge é outro dos meus preferidos. Em jeito de sinopse e sem estragar o suspense, posso desvendar que, aos poucos, vai sendo contada a história de Herbert George Wells. O crescimento, os casamentos, o activismo político, a vida social, os sucessivos casos amorosos... Tudo isto enquadrado num período tão conturbado política e socialmente como rico em criação literária, onde se passeiam Henry James, William James, Bernard Shaw e mais uns quantos de calibre igual. Li-o num ápice e fiquei certa de que a escolha não poderia ter sido melhor. Lodge apresentou-me Wells, criador brilhante, homem cheio de defeitos, mas com um magnetismo ao qual não apetece resistir. Ando fascinada  a descobrir-lhe a obra. A "Guerra dos mundos" está a torná-lo em mais um dos preferidos. Não consigo compreender como foi possível ignorá-lo por tanto tempo.

* ou "Como transformar um post sobre livros numa pescadinha de rabo na boca"

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O seu estado de espírito é definido pelas músicas que a atormentam #23



Ninguém me disse que ia ser fácil. Aliás, numa tentativa de me convencerem a não mudar de vida, todos me disseram que iria ser difícil, muito difícil. E eu, teimosa como sou, não ouvi quem me rodeava e saltei em frente. E eis-me agora aqui, com 16* equipas a cargo (compostas em média por 10 pessoas cada) quando ainda em Março deste ano andava na minha vidinha calma de psicóloga, e a bufar de ansiedade de cada vez que tinha que tomar decisões por conta própria. Soltei-me das amarras e comecei a voar sozinha. Foi a maior loucura que fiz. Mas apesar de todos os percalços e dificuldades, e do cansaço que me invade os ossos no final do dia, tenho dado conta do recado e feito um trabalho muito melhor que alguns que andam nisto há anos. Finalmente encontrei o meu caminho. Estou mais feliz do que nunca. Sou completamente louca.

*(no final do ano, a correr bem, o número já terá aumentado para 21. como dizia o outro, é só fazer as contas)

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

domingo, 13 de outubro de 2013

sábado, 12 de outubro de 2013

O seu estado de espirito é definido pelas músicas que a atormentam #22




Proverbial

Está finalmente declarado, publica e definitivamente, o meu azar ao amor. Acabei de constatar que ganhei o euromilhoes. Estou 3,93€ mais rica.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Segundas oportunidades

Recebo em casa um postal que me questiona sobre a qualidade da minha visão, e dirigindo-se a mim pelos meus dois nomes próprios, como se tivesse andado comigo na escola, me oferece descontos imperdíveis na compra de uns óculos novos. Nas letras pequenas, aquelas que lá os senhores que o mandaram pensam que eu não consigo ler, excluem uma série de situações nomeadamente protocolos convencionados. Ora, uma vez que os senhores me conhecem tão bem que quase me tratam por tu, seria de esperar, até porque tem lá a minha ficha, que eu usufruo de um protocolo convencionado e portanto que o papel que me enviaram serve apenas para dobrar e calçar uma mesa que esteja desequilibrada, porque para o resto é demasiado rijo. Sinto-me no dever, na próxima vez que os visitar, de informar que sou demasiado tinhosa e que este tipo de estratégia me dá urticária. Ah! Espera. Não vai haver próxima vez. Parece que vão ficar sem saber. Acabaram de perder um cliente.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Atrás de um dia vem outro

Saio de casa confiantemente pouco vestida para o vento que sopra agreste, mas a capa do amor próprio não me deixa sentir ponta de frio. Começo o dia segura de que sou imbatível só porque faço três coisas ao mesmo tempo. Viajo até ao Portugal que sinto profundo, mas que fica já ali, a meia hora da cidade quase grande. Transformo-me no Pai Natal que veio mais cedo e com uns fatos de trabalho e uns pares de botas faço a felicidade de vinte crianças crescidas. "Agora só falta o boné a condizer!". Prometo ver isso do boné. Dou duas ou três más notícias que roubam a alegria toda. "É a vida". Abandono o Portugal que sinto ainda mais profundo. Leio as notícias pelo caminho. Respondo ao jornal. "Não se pode assassinar o que já está morto". Volto à cidade e entrego mais uns presentes. Aqui a alegria é mais contida. A urbanidade impõe a maturidade artificial. Almoço. Tomo um comprimido para o cansaço disfarçado de enxaqueca. Bebo mais um café. Delego sem confiar.Transformo-me no padre da freguesia e dou um sermão. Não acredito em nada do que disse e portanto termino-o em quinze minutos para fugir de mim. Desmonto e monto um cronograma como se fosse uma construção de Legos. Não li as instruções. Não lhe reconheço estrutura. Vai desfazer-se não tarda nada. Penso em ti e faço-te saber. Refaço contas e percebo que fui enganada. Leio nas entrelinhas que não queres saber. São sessenta e não cinquenta. Já se desmontou. Perco horas ao telefone e nada se resolve. Bebo o terceiro café. Marco reuniões. Reformulo estratégias. Respondo ao correio. Reencaminho mensagens pela segunda e terceira vez. Olho pela janela e já é noite. É hora de regressar e ainda está metade por fazer. Penso em mim. Já passaram mais de doze horas quando entro de novo em casa. Foi o tempo necessário para sentir que me atraiçoei enquanto era traída. Sou demasiado egoísta. Perdi a fé em mim e na Humanidade. Em modo automático desço ao jardim, sem saber muito bem porquê ou para quê. A lua põe-se lá ao longe no mar. Enfeitiçada, espero que o quarto-crescente alaranjado desapareça e só depois olho em volta. Com surpresa adivinho uma tarde de trabalho. Está tudo tão bonito. Redescubro que sou excessivamente amada. Volto ao início. Está na hora de dormir. Confiantemente visto só metade do pijama. Já é quase amanhã. Não há ponta de frio que me pegue.

domingo, 6 de outubro de 2013

Descoberta musical



O resto da discografia do rapaz (giro que se farta), pelo menos a que me foi dada a conhecer, não tem nada de excitante, mas esta música é simplesmente arrepiante.

(não sejas teimoso. carrega lá no play. não te arrependes)

Constatações musicais

Entra pela porta adentro esbaforida e pronta a descrever o novo parque infantil que visitou com os avós. Passados alguns segundos de verborreia, cala-se e pergunta-me se estou a ouvir Leonard Cohen. Apanhou apenas alguns acordes de Darkness, que lhe permitiram imediatamente identificar o artista. Digo-lhe que sim, que estou, e pergunto-lhe como adivinhou. Responde-me com a firmeza de quem tudo sabe: - A voz dele é inconfundível! - e afasta-se, já esquecida da narrativa urgente, a trautear num inglês macarrónico e com um ar trocista de superioridade "so long, Marianne, it's time that we began to laugh and cry and cry and laugh about it all again".
E com isto fico a pensar que se há música que tem a capacidade de se nos entranhar no corpo e correr pelas veias, a do Leonard Cohen vai mais além, invade o núcleo celular, imprime-se no ADN. 

Eu, tu, ele...

Contrariamente aos últimos meses, acordo com a melhor das disposições. Nem a memória da provação a que fui sujeita poucas horas antes de adormecer, e que me deixou os nervos em franja, nem o facto de ter sido acordada por um telefonema perfeitamente inútil me conseguem alterar o humor eufórico e portanto trato logo de fazer uma ou duas travessuras pela manhã, ainda antes de abandonar o quente dos lençóis. Estou certa de que a inesperada exaltação que me invade é fruto dos psicotrópicos legais que médico-gnomo, que consultei durante um ataque de hipocondria, me receitou. Chamam-lhes pilulas da alegria. Merecem sem dúvida o epíteto. Decidi a partir de ontem que vale tudo, tudo o que me faça feliz.

He said "All men will be sailors then until the sea shall free them"


sábado, 5 de outubro de 2013

gladly keeping it spinning


E se um dia um desconhecido te oferecer um livro...

"Todas as conversas que desde então tivera com outras pessoas tinham-lhe parecido superficiais e banais, e desde aquele dia nunca mais tinha deixado de  se alimentar mentalmente das ideias e alusões que ele lançara para o ar com o mais espontâneo brilhantismo. Não suportava a ideia de que aquela experiência pudesse nunca mais se repetir, e escrevia para lhe perguntar, sem rodeios, se não podiam voltar a encontrar-se, só para conversar, como em Easton, antes que ele a esquecesse por completo."

David Lodge - Um homem de partes, pp.434

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

domingo, 29 de setembro de 2013

Medo

Estou siderada com a capacidade discursiva dos candidatos vencedores das eleições autárquicas. Nunca vi tanta gente a falar com tanta segurança e propriedade sem efectivamente dizer coisa alguma. Este país está cada vez mais assustador.



sábado, 28 de setembro de 2013

Egoísmo diletante


Aqui há uns dias comentava com uns amigos que estava descontente porque colocaram uma bolas vermelhas e brancas nos fios da eletricidade que ficam no meu campo de visão, quando vou à janela do quarto. Fartaram-se de rir com a minha observação, pensando que eu estava a gracejar. Não estava. Aborrece-me que tenham posto ali aquilo a tapar-me o céu. Já tenho a visão demasiado toldada. Não necessito de mais obstáculos. Quero que se fodam os helicópteros.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Se algum dia te perguntares porquê...


...o Bochner saberá explicar.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

terça-feira, 20 de agosto de 2013

domingo, 18 de agosto de 2013

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A vida (urbana) no seu melhor

Por esta altura, há oito anos atrás, sem consciência da revolução que aquele pequeno ser, que me depositaram nos braços, iria operar na minha vida, quase explodi de felicidade. Hoje, são o orgulho e a vaidade que quase me fazem estoirar, quando a minha cria me diz que, ao invés das bonecas, quer de presente uma máquina fotográfica e um leitor de mp3, quando me pede que lhe carregue isto na playlist, quando, sem qualquer ajuda, tira fotografias destas.

sábado, 10 de agosto de 2013

O sol, quando se põe, é para todos.


"One more time"


(pela derradeira vez,
suavemente, sem hesitar,
satisfaz este capricho tolo,
permite que o mar te invada o olhar)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Amores de verão


(estou convencida que estas criaturas, se assim o entendessem, seriam meninas para vencer todo e qualquer animal aquático, na missão de conquistar o mar. têm com elas despreendimento suficiente para virar as costas ao aborrecimento causado pela tempestade. não lhes causa pejo o abandono do lar. têm descaramento suficiente para, logo que a calmaria se instala, regressar)

sábado, 13 de julho de 2013

"todo o Mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades"

Termino mais um ciclo à roda de uma mesa coberta de francesinhas e cerveja. Enquanto jantamos, vamos desfiando o novelo catártico que os dias preenchidos mantem intacto. Dizemos mal e bem de todos os que nos rodeiam sem distinção, equilibrando as qualidades e os defeitos numa balança de precisão milesimal, até à união das ponteiras. Rimos à gargalhada como crianças despreocupadas e acabamos a noite com a percepção que, apesar de possuirmos olhares muito diferentes, observamos o mundo debruçados sobre o mesmo miradouro. Despedimo-nos com abraços numa esquina. Depois de nos separarmos, alguém pára, olha para trás e diz: "Eu adoro-te miúda". Pela primeira vez quebro e deixo-me invadir pela indecisão. Penso no que vou deixar para trás e no que me espera pela frente. Respondo enquanto caminho às arrecuas: "E eu a ti minha querida!". Aceno e rapidamente caminho para longe, com medo que me falte a coragem para seguir em frente. Na segunda-feira espera-me mais um "primeiro dia". Temo não possuir a energia necessária para o abraçar.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Reciprocidade(s)

A sua maior ingenuidade reside em acreditar que os outros estão disponíveis para dar com a mesma prontidão e na mesma proporção com que se apresentam para receber.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Adeus



(na vida há escolhas que nunca deveríamos ter que fazer)

sábado, 1 de junho de 2013

domingo, 26 de maio de 2013

quinta-feira, 23 de maio de 2013

"assim na terra como no céu"



(porque sempre foi assim, e jamais poderá ser de outra forma)

domingo, 19 de maio de 2013

sábado, 11 de maio de 2013

Ensinamentos a quem de direito

A felicidade e as noites bem dormidas são o segredo do sucesso e da produtividade.

(o primeiro capitulo fica pronto hoje)

sexta-feira, 10 de maio de 2013

quarta-feira, 8 de maio de 2013

O que vai ser de mim sem o Google Reader

Entristeço com as partidas, mas não desespero. Sei que nem sempre "é para sempre" e que o mundo dá muitas voltas para voltar ao princípio. Repouso e aguardo pacientemente enquanto o desejo de regresso desponta. Volta dada, circuito cumprido, rejubilo em silêncio. Permito-me apenas um sussurro: "- Já fazias cá falta!"

terça-feira, 7 de maio de 2013

Heartbreak


(o destino impõe um movimento circular aos dias. vou por aqui e venho por ali. a rodagem rotineira cruza os dois marcos. o vislumbre hipoteca o pensamento. aqui o mar galgou a terra e conquistou o olhar. acolá aprendeu-se a abdicar)

domingo, 5 de maio de 2013

sexta-feira, 3 de maio de 2013


terça-feira, 30 de abril de 2013

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Um, dois, três, partida...

Vou ali tratar de começar a ler aquilo, porque quer-me parecer que já terás avanço suficiente.

domingo, 28 de abril de 2013

Enquanto rebolava na relva


Surpresa(s)



(gosto da música destes rapazes, gosto do look destes rapazes e gosto principalmente do som que sai daquele espécie de viola redonda. anda por aí alguém que saiba como se chama aquilo?)

sábado, 27 de abril de 2013

De volta à realidade (continuação)

... isso, e esta vontade que hoje me deu, para isto. Nada que não passe, e amanhã já voltamos às fotografias de qualidade duvidosa com frases enigmáticas a acompanhar. Ajudará a compreender se eu disser que já estou assim mais ou menos a ficar com os copos, porque me decidi a abrir, finalmente, uma garrafa de rosé que veio cá parar há algum tempo, por altura de uma reunião de trabalho em Chaves, que foi bem alimentada e regada, ao ponto de, no caminho de volta, eu ter dito ao chefe, no tom de voz mais sedutor que consigo, que se ali ficássemos mais um mês, viria para o Porto a pesar o dobro. Ele, que não tinha bebido porque ia conduzir a seguir, e é um tipo  responsável, sorriu e mandou-me descansar, que bem estava a necessitar. Dizia eu do rosé, que habitualmente é bebida que parece xarope, e talvez por isso tenha aguentado tanto tempo na garrafeira, mas hoje não tinha branco e o tinto anda a dar-me cabo do estômago e das hemorroidas, que é bem bom. E bem bom  não é favor nem resultado de estar já meio tocada, é mesmo uma avaliação honesta que perdura desde o início da refeição e, nessa altura, ainda a coisa estava totalmente controlada. Para quem quiser saber, o rosé é da Quinta de Arcossó e pertence à colheita de 2007. Foi acompanhado de salmão grelhado com molho de azeite, alho, salsa e cominhos e arroz de brócolos e sucedido por pedaços de abacaxi e bolo de iogurte de mirtilos e amoras. O corrector do blogger quer à força que eu escreva de acordo com o acordo. Sublinha-me tudo quanto é palavra em que eu enfie um c e espera que eu clique no botão direito. Pois bem pode esperar. Porque eu quero que se foda o acordo, e já agora, os gajos dos impostos também, e vou passar a comprar os legumes todos à mulher. Alho francês que me faça chorar, [porra que ainda tenho os olhos vermelhos e o nariz a pingar] vale todas as multas que me queiram passar. Entretanto, aproveito para informar que as moças vão passar o fim de semana na esplanada da praia a levar com areia nas trombas e a adquirir a cor do camarão, e não querem saber de ti ou das tuas criancinha. Vais agradecer por eu não ter apostado, porque às tantas perderias. E isso se calhar não era mau, porque se há coisa que fazes bem é essa de perder. Já eu, sou boa é a espantar a caça. Como diz a outra, os bichos [homens] têm medo de mim, porque eu me coloco no mesmo patamar que eles e eles não sabem muito bem como lidar com isso, embora eu acredite que sou eu quem não tem competência para lidar com eles, e por isso nem sequer tento para não me cansar. Porra outra vez, que o raio do rosé é mesmo do melhor que há e parece-me que a garrafa já não verá o dia de amanhã.

De volta à realidade

Sou capaz de levar com o fisco em cima, porque me meti na economia paralela e fui comprar um alho francês e duas cebolas à mulher que vende legumes na beira da estrada e que até tem uma balança toda quitada, mas que faz as contas de cabeça e não passa recibo. Eu ainda tentei sacar do número de contribuinte, mas ela enfiou-me o saco na mão, pediu-me setenta e cinco cêntimos e mal recebeu, virou as costas para atender a outra cliente que lhe contava que vai todas as semanas ajudar a filha, e que aquilo lhe "dá cabo das mãos, que é tudo limpo com lixívia forte, mas a coitada da rapariga vai ser operada. Sabe como é, pelos filhos a gente faz tudo...". Em minha defesa acuso a "grande superfície", que estava a vender legumes colhidos há três semanas e meia ou mais e a cobrar o triplo do preço. Os legumes da mulher, disse-me entretanto a vizinha da frente, enquanto me ajudava a carregar as sacas pela escada acima, são cultivados no campo que fica atrás da banca, e são sempre muito fresquinhos. O que nos leva a constatar que isto de se viver na aldeia também tem as suas alegrias. Entretanto, salvou-se a lesma que vinha na couve [tenho cá para mim que o tipo da grande superfície também vai comprar legumes à mulher e também se balda aos impostos, ou então compra-lhe só as lemas para dar o ar de que vende coisa biológica com bichos e tudo, e justificar o facto de cobrar o triplo do preço]. Foi muito rápida a encolher os corninhos e a cabeça e conseguiu fugir à faca que se preparava para, inadvertidamente, a cortar a meio. Salvou-se e foi delicadamente depositada em cima do resto de um vegetal, no quintal do vizinho, porque no meu tenho os girassóis e não fosse dar-lhe ali a vontade de os roer e depois ter de ser assassinada e não ter servido de nada a rapidez. São sete em cada canteiro, os girassóis. Metade transplantados e a outra metade semeados, porque o senhor Fonseca conhece a atracção do gato pela terra remexida e portanto traz já alguns com uns centímetros para prevenir. E pronto, agora estou para aqui a fazer a sopa e a chorar como uma madalena à custa do alho francês da mulher, que é mesmo fresquinho e do bom, melhor que as cebolas, veja-se lá. Cá para mim, o Gaspar deve ter rogado algum tipo de praga ao povo que se furta a pagar os impostos e ajuda a enterrar ainda mais o país no buraco financeiro pelo qual ninguém é responsável. É, vai-se a ver e o choro é mesmo culpa dele...

Regressas?


(discutiam-se livros e músicas e parvoíces, e juntos, ainda que separados eramos felizes. eramos? sim, quero acreditar que sim, tu não eras?... hoje, um paradoxo em potencia, recordou-me. março despedaçou-me este abril.)

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Não cuspas para o ar...

Há dias em que me apetecia andar por aí fora a comentar, assinalando lapsos, desconstruindo argumentos, recordando contradições. Mas depois lembro-me que sou apenas uma mortal a quem o tempo escasseia e resolvo tratar da minha vida, porque só com essa já tenho muito para fazer.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Ofensiva(s)


(ordenei que se calassem por um momento, sem explicação mais detalhada que a necessidade absoluta de silêncio. nauseiam-me as vozes que sobrevoam os pensamentos. omito-o do discurso, por ser demasiado verdade. sou avessa à simultaneidade porque oblitera o prazer. recuso-me a ser sujeito e objecto de uma mesma acção.  não quero observar enquanto me observam, escutar, enquanto me escutam, sentir, enquanto me sentem. agora sou eu, daqui a nada serás tu. não perguntes. se queres mesmo saber apr(e)ende-me a ler. )

domingo, 21 de abril de 2013

Descobertas


Cipriano, yo pienso que el alfabetizador
no es sólo el que enseña a leer libros
de ciencias, historia, filosofía
y de tantas cosas exóticas
de que habla la gente.

Hermano, yo pienso que alfabetizar es enseñar
a leer en los ojos:
el dolor de los pueblos,
la enfermedad de los niños,
la angustia de la mujer que pare en la calle,
la tos del minero que escupe y mancha de sangre,
la estatua de la libertad neoyorquina.

Hay que aprender a leer
el hambre que toca a la puerta,
el frío que va por la calle,
la oscuridad del que busca
y no encuentra.

Cipriano, yo pienso que
primero debemos alfabetizar
a los que saber leer libros,
pero no saben leer el dolor de los hombres.


Julio Zabala - Cuadernos de Educación

Inoxidável


Afectos

Entra pela porta adentro a correr, acompanhada da avó. Traz o rosto afogueado, a respiração mais ofegante que o habitual e um sorriso capaz de contagiar o maior trombudo do mundo. Traz na mão esquerda, a dominante, um pequeno ramo com duas flores silvestres, uma espécie de camomilas, com pétalas amarelas. Estende-as no ar e declara: "É um presente para ti!" Agarra numa delas com a outra mão e continua: "Esta sou eu que te dou, e esta (referindo-se à que permanece na mão esquerda) foi o avô que mandou para ti. Ele não subiu porque está cansado." A minha mãe confirma que assim é, e prepara-se para sair. Eu sorrio e peço-lhe para lhe dar um beijo por mim. Olho para a flor e sei que é um pedido de desculpa por ter sido imprudente e teimoso e por me ter causado o pânico ainda ontem, sei que não subiu porque se sente envergonhado. O beijo que lhe não lhe dei é a confirmação de que já estava mais que perdoado, é o respeito pela sua reserva. Andamos nisto há anos. Entendemo-nos na perfeição no meio de tal emaranhado de comunicação disfuncional.


sábado, 20 de abril de 2013

quinta-feira, 18 de abril de 2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Nos dias em que sobram segundos aos minutos.




A propósito de tudo ou de quase nada.

[Esqueci-me do motivo da zanga. Foi lá atrás, muito atrás, quando eu ainda não era esta. A afinidade era avassaladora, assim como dolorosa era a sensação de me ver escrita por mãos alheias. Fechei os livros e recusei-me a abri-los sem motivo válido. Sabia que voltaria, que haveria de chegar o dia da reconciliação. Não maginei que demoraria uma eternidade.]

De Joelhos

“Bendita seja a Mãe que te gerou.”
Bendito o leite que te fez crescer
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama, pra te adormecer!

Bendita essa canção que acalentou
Da tua vida o doce alvorecer ...
Bendita seja a Lua, que inundou
De luz, a Terra, só para te ver ...

Benditos sejam todos que te amarem,
As que em volta de ti ajoelharem
Numa grande paixão fervente e louca!

E se mais que eu, um dia, te quiser
Alguém, bendita seja essa Mulher,
Bendito seja o beijo dessa boca!!

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"

terça-feira, 16 de abril de 2013

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Quando for grande, quero um Geoffrey Rush só para mim.



(a partir de certa altura a história torna-se secundária, tal é a beleza de tudo o que nos passa pela frente dos olhos, e quase nos esquecemos que, cedo, o desfecho se torna demasiado previsível. melhor, só mesmo se fosse falado em italiano)

domingo, 14 de abril de 2013

O seu estado de espírito é definido pelas músicas que a atormentam #18



(podia escrever tanta coisa a propósito, mas o som e a imagem falam por si)

(Des)Venturas urbanas


sábado, 13 de abril de 2013

Ainda não aprendi a mentir convincentemente.



(estes moços são gente para me fazer esquecer a promessa que fiz, no ano passado, de não voltar ao Optimus Alive)

sexta-feira, 12 de abril de 2013

quinta-feira, 11 de abril de 2013

O quê? Não sei...

Comprometo o conforto com que o silêncio me presenteia, para afirmar peremptoriamente a descrença na irreversibilidade. Convoco o Lavoisier como testemunha de defesa, para repetir, no julgamento da melancolia, o pedaço da lei que me convém: "...nada se perde...".  Reafirmo a confiança na transformação. Sou dona de uma certeza. Um dia, tudo voltará a ser.

domingo, 31 de março de 2013

sexta-feira, 29 de março de 2013

Chinesices

"Correram bastantes rumores sobre ela depois de enviuvar, mas hoje não se mostrara envergonhada na minha presença por verter lágrimas por aquele homem que estimava profundamente. Era do conhecimento geral que algumas mulheres tendiam a ficar efusivas, românticas e calorosas depois de estudarem uma língua estrangeira durante alguns anos. Talvez fosse por essa razão que as raparigas do Departamento de Línguas Estrangeiras eram geralmente mais atraentes do que as de outras áreas."

Os Alienados - Ha Jin, p. 72

quinta-feira, 28 de março de 2013

segunda-feira, 25 de março de 2013

Retalhos da cidade


(a máquina fotográfica dispara nas direcções menos prováveis acertando nos alvos mais inusitados. as provas da falta de pontaria, embora com frequência consideradas inúteis e desprovidas de qualquer interesse, são guardadas religiosamente. os interesses mudam amiúde de poiso e a beleza reconverte-se sem grande dificuldade à luz de um novo olhar. a negligência do passado converte-se na ribalta do presente. são diversos os retalhos. aparecerão sempre que a vontade ordene.)