domingo, 27 de fevereiro de 2011

Verdades absolutas

"As lovers, the difference between men and women is that women can love all day long, but men only at times"

W. Somerset Maugham. The moon and Sixpence. pp. 152

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Memórias

Estou sentada nas escadas à espera que a máquina de lavar roupa acabe o seu trabalho. Sinto uma vontade irreprimível de que a companhia de electricidade sofra um acidente temporário, e que um apagão geral me permita ver as estrelas. Recordo-me de uma noite de Tindersticks em Vilar de Mouros, com um céu sem lua, iluminado por milhares de pontos tão brilhantes que quase me ofuscam. Fico com a certeza de que, mais do que o ser que nos une, são memórias com estas que farão com que faças parte da minha vida para sempre. Fico com a certeza de que, por muito que me irrites, serás, para sempre, o amigo de quase todas as horas.

Fascínios

Acabada de chegar a casa, com o corpo cansado e uma dor de cabeça persistente, senti necessidade de vir aqui dar-te razão. Sim, estou a tratar-te por tu. À medida que o teu fim se aproxima, sinto que posso derrubar algumas barreiras e permitir-me esta familiaridade.
Tens razão. Nenhuma dessas coisas fascina uma Mulher. Faltou-te a maiúscula, mas esse é apenas um pormenor. Mas saberás tu o que nos fascina? Acredito que sim, acredito que conseguirás nomear algumas das coisas que nos deixam a rastejar. Mas não as saberás todas, por isso, desvendo-te esta, para que possas ensina-la aos teus netos.

Um telefonema que é feito exactamente às 8:59 da manha, na urgência de dizer um sim, que antes umas horas tinha sido um não. Dizerem-lhe que acordaram às 7:00, quando tinham adormecido depois das 2:00, sabendo ela que não tinham qualquer ocupação durante a manhã. Dizerem-lhe que não conseguiram dormir depois dessa hora, apesar das diversas tentativas. Esperarem pelas 8:59, para não a acordarem demasiado cedo. Perguntarem-lhe se o sim ainda iria a tempo. Explicarem-lhe que o não tinha sido obra de um cálculo matemático errado, apenas porque se esqueceram que o mês de Fevereiro tem apenas 28 dias em anos não bissextos. Esperaram com ansiedade pela resposta que ela teima em adiar. Sentirem um certo desconsolo porque a resposta dela foi pouco efusiva. Irradiarem felicidade ao ludibriar o mundo, para que a sua vontade seja satisfeita. Serem capazes de dormir ao som de um filme de animação, apenas após saberem que ela está feliz.

Tens toda a razão. Não são as encenações que nos fascinam, é a autenticidade.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Perigo!

A junção de duas obsessões num único objecto só pode originar alienação face ao tempo e ao espaço.

(ou de como não consigo parar de ler isto)

Fim de fim-de-semana

O som dos carros a percorrer a auto-estrada, entrecortado pela urgência de uma ambulância; os National, que eu não vou ver ao Coliseu porque me recuso a ficar nos piores lugares, a tocar no leitos de mp3; o frio da noite nas maçãs do rosto e nos glúteos que estão em contacto com as escadas onde me sento; um cigarro a aquecer a ponta dos dedos e os pulmões; a silhueta do gato, que perscruta a sua paisagem preferida, a cortar o horizonte; o tempo para estar sozinha comigo, as energias repostas no limiar do possivel e do desejável , uma leveza a invadir-me o coração e a dura certeza de que amanhã a vida recomeça no ponto em que foi interrompida.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Renovação

Os pensamentos disfuncionais fluíam há já algum tempo, infiltrando-se quais ervas daninhas, na linha de raciocínio. Aos poucos, foram-se-lhes juntando algumas crenças irrealistas que, delicadamente começaram a minar-lhe a razão. Bastou uma expressão infeliz, associada a uma realidade ambígua, para que se desse a catástrofe, para que o vulcão emocional entrasse em erupção.
Noutros tempos, o céu ter-se-ia enchido de faúlhas e cinzas e a lava escorreria, levando consigo tudo o que encontrasse à frente. Noutros tempos fora uma mulher radical, sem meios-termos, que sem qualquer pudor, numa atitude radical, arrastava tudo à sua frente, só para que a sua posição imperasse.
Hoje, apesar de activar a caldeira, não deixou que o vulcão expelisse mais do que uns fumos ténues, que indiciavam que a qualquer momento poderiam dar lugar quer a um mar de fogo. Calmamente, expôs as suas dúvidas, as suas questões, os seus medos e as suas necessidades. Fê-lo em voz baixa e com um discurso claro o objectivo. E nem a voz embargada pelas emoções que lhe saltavam por todos os poros da pele a desviaram do caminho que tinha traçado. Não deixou, claro está, de arriscar tudo, mas fê-lo sem sobressaltos ou imposições, deixando nas mãos do alvo, a difícil tarefa de tomar uma decisão.
Para sua surpresa, as suas palavras fizeram eco. As dúvidas foram esclarecidas, as questões obtiveram respostas, os medos foram atenuados. E as necessidades? Bem, quanto a essas, apenas conseguiu uma promessa, feita quase com a mão no coração, de que iriam tentar satisfaze-las. Gostou das palavras que ouviu, mas foi com o discurso implícito que lhe aplacaram a ansiedade.
Ela continua a ser uma mulher que vive em extremos, uma mulher de tudo ou de nada, de preto ou de branco, de dia ou de noite, mas uma mulher que hoje sabe, que os melhores resultados são obtidos com moderadas atitudes, e que as verdades mais doces se dizem sem palavras.

Guerra dos mundos

A distância entre o teu universo e o dela foi construida por ti, e portanto, só tu a poderás percorrer, só tu a poderás destruir.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Segredos

- Ai é lindo, não é? - perguntava a primeira.
- Lindo, lindo. Não achas? E alto. - retorquia a segunda.
- Não acho nada de especial. - respondia ela mostrando desinteresse.
- Ai! É o mais bonito de todos. E realmente é bem constituido.- acrescentava a primeira
- Sem dúvida. É mesmo o mais bonito. É lindo. - vibrava a segunda.
- É muito novo. - dizia ela, já cansada de as ouvir.
- Novo, mas bonito. -  voltava a primeira.
- Não é assim tão novo. E é lindo. - respondia a segunda.
- Então o Porto joga logo? - pergunta ela já ruborizada, tentando desviar a conversa, enquanto pensa:
"É pá, calem-se lá com isso! É lindo, é alto, e vocês não sabem, mas por agora vai estando ocupado."

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Interpretações

Hoje poderia comemorar-se o dia do Santo Valentim, não tivesse este dia sido transformado, há muitos anos, no aniversário de um diabo incendiário, o que, bem vistas as coisas, não será muito diferente.

E ainda estás aqui...

...

Haiku III

O meu céu enegrece
Bátegas molham a terra
Tenho o inverno ao peito

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Sentidos ao acordar

O som de vocábulos reservados
O cheiro de cigarros fumados;
A impressão dos abraços apertados;
O sabor de beijos roubados.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Constatação #5

A distância faz desabrochar o desapego emocional.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O mundo, no fundo, divide-se entre...

...
os menos afortunados que gozam com os pobres e os miseráveis que se riem à custa dos necessitados;
os presumidos e os pouco modestos;
os que se enganam e os que erram;
os que não são perfeitos e os imperfeitos;
os seres racionais e os humanos.

O mundo, no fundo, é um continuum ininterrupto
Ontem, aquela meia-hora teve mais tempo que um dia inteiro.

(...) Combinação de sentimentos

+
...

Desejo - s.m. 1 vontade; apetite; anseio; 2 aspiração; 3 intenção (Do lat. vulg. desidiu-, "desejo erótico", do lat. cl. desidia- "indolência; preguiça").

Dicionário da Língua Portuguesa 2003 - Porto Editora

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Paradoxo

Ela apaparica-te, adivinha-te as vontades, antecipa-te até os desejos mais fúteis.Trata-te como se fosses um bem de primeira necessidade, que é necessário preservar, do qual não se pode abdicar.
Tu, qual criança insubordinada atiras-lhe com uma frase cruel:
"- Pareces a minha mae, sempre preocupada comigo!"
Ela muda de direcção. Deixa-te entregue às tuas próprias mãos. Deixa de te transportar até ao destino e passa apenas a, negligentemente, indicar-te que sigas as tabuletas, deixando-te caminhar pelo teu próprio pé.
Tu, mudas de atitude e passas a ser um menino mimado e dizes-lhe com cara de amuo:
"- A minha mãe organiza-me os utensílios, preocupa-se com os pormenores, cuida de mim."
Confusa, ela decide colocar-se no lugar do tolo - no meio da ponte.

Combinação de sentimentos (...)

Estima - s.f. 1 acto ou efeito de estimar; 2 apreço em que se tem uma pessoa ou coisa; consideração; 3 afecto; amizade; carinho...

+

Paixão - s. f. 1 Sentimento intenso e geralmente violento que dificulta o exercício de uma lógica imparcial; ... 3 grande predilecção...

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Afeição - s. f. 1 sentimento de apego e ternura; afecto; 2 amizade; 3 simpatia...

+
...

Dicionário da Língua Portuguesa 2003 -  Porto Editora

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Filósofos da vida # 4

imagem retirada daqui

"Sport, truth, like art, is in the eye of the beholder. You believe what you choose and I'll believe what I know." - Jim Williams

Midnight in the Garden of Good and Evil.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Indignação

Enquanto engendravas estratégias para apanhar a tua presa, distraiste-te e não percebeste que afinal ela era um predador mascarado de "criatura quase frágil pronta a ser caçada". Acreditaste, em cada momento, que traçavas o caminho que era percorrido e que definias todos os meios de transporte utilizados. E agora, à distância, quando lês o diário da caçada, descobres que afinal foste tu o aprisionado. E como homem que és, não consegue sentir-te lisonjeado pelo estratagema perfeito que ela planeou até ao mais ínfimo pormenor, e no qual caíste, e centras-te na indignação que te provocou, não só a tua incapacidade para perceber que estavas a ser caçado como a sua argúcia e descaramento em tornar-te presa.

Não sei bem o que pensar acerca disto.

Hoje apercebi-me que estou linkada em mais blogs masculino do que femininos, o que, tendo em consideração a minha linha editorial, é uma descoberta para lá de intrigante.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Palavras que eu gostaria de ter escrito #3

Garden of Love - William Blake
I went to the Garden of Love,
And saw what I never had seen:
A Chapel was built in the midst,
Where I used to play on the green.
And the gates of this Chapel were shut,
And Thou shalt not' writ over the door;
So I turn'd to the Garden of Love,
That so many sweet flowers bore,
And I saw it was filled with graves,
And tomb-stones where flowers should be:
And Priests in black gowns were walking their rounds,
And binding with briars my joys and desires.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Também tu Brutus, também tu...

Acabada de chegar do cinema, vejo-me obrigada a concordar com o resto da manada.
O Black Swan ou Cisne Negro é o melhor filme que vi nos últimos tempos e a Natalie Portman fez a representação de uma vida. Poderoso!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Filósofos da vida # 3

"-Sabe, quando se está enamorado e as coisas correm mal, uma pessoa sente-se terrivelmente infeliz e pensa que nunca mais vai recuperar. Mas ficará maravilhada ao descobrir o que o mar é capaz de fazer.
- O que quer dizer com isso? - perguntou ela com um sorriso.
- Bem, o amor não é bom marinheiro e definha numa viagem marítima."

No fio da navalha. Somerset Maugham. pp.103

Dias de felicidade #2

Um telefonema não atendido. Uma mensagem enigmática. Um telefonema atendido. Um convite inesperado. Uma mudança de direcção. Excesso de velocidade para cumprir o horário. Estacionamento. Novo telefonema. Um carro que se aproxima. Uma porta que se abre. Um sorriso. Outro estacionamento. Um beijo. Um passeio à beira-mar. A esplanada de eleição. O guarda-sol. Dança de cadeiras. A conversa despretensiosa. A partilha de acontecimentos. Uma sandes americana com ovo estrelado. Batatas fritas congeladas. O mar.  As ondas. O mar. Um café. Um piropo da empregada de mesa. Um cigarro. Um novo passeia á beira-mar. Um desprendimento fingido. Uma verdade dita. Um arrufo encenado. A reconciliação. A luz do sol. Uma camisola cor-de-rosa. Beijos ao ar livre. Público a assistir. Um último beijo. Excesso de velocidade. Uma tarde a sorrir.

Psicose delirante

Nada como uma aula de Pilates para transformar um ruído ensurdecedor, num assobio distante.