quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Estrelas cadentes



(e estes também)

Arrepio na espinha

Condimentamos a vida quando aprendemos a escutar com mestria o que se diz nas "entre falas" e nos silêncios.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Kaffeehaus Cafe

Há homens assim... #2

Receber lições de psicanálise vindas de um engenheiro electrotécnico é algo capaz de lhe perturbar o sono, por dias e dias, com sonhos no mínimo entusiasmantes, principalmente quando os referidos ensinamentos permitem a integração estruturada da teoria psicanalítica no seio dos restantes conhecimentos de psicologia que possui.
Há homens assim e ela quer um só para si.

Não gosto dos U2, mas isso pouco interessa.

Sei. Já o sabia e o tempo continua a confirmar-me. E sabes como descobri? Ao observar a clarividência com que ainda compreendes que é hora de deter o desejo que te invade as mãos e, com os teus dedos enormes, e em gestos únicos, me alisas os cabelos para que se me encha o coração.

Quem disse que o Jesus tem sempre razão?

domingo, 27 de novembro de 2011

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Anticonceptivo

- O teu cabelo cheira mesmo bem hoje.
- É do champô para os piolhos...

A minha cidade é "cool"


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sou incapaz de me arrepender da minha vida.



(hoje soube-me tão bem ouvir isto dentro da cabeça)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Não tens emenda.

"- Apetecia-me beijá-la.
Rochela ficou calada, mas afastou-se um pouco.
- Já estragou tudo - disse ela. - É como todos os homens.
...
Rochela sentia uma vontade imensa de que Ana a beijasse, mas primeiro tinha que ensiná-lo. Não se pode deixá-los à vontade."

O Outono em Pequim. Boris Vian, pp. 75.
( a mesma página que eu acabei de descolar da capa do livro antigo que com tanto carinho me ofereceram...)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Plantas


(eu até poderia ensinar-lhes, mas a minha arrogância não me permite a maçada)

Depois do Inverno



domingo, 20 de novembro de 2011

Paradoxos

La perspective de ta bouche

Ta bouche tout près de l’oreiller
Loin et lointaine
À deux doigts de la mienne
Le rêve s’amuse
Et nous sépare
Avec les pas minutieux de l’oubli
Tes lèvres bougent à peine
J’ai le couteau qui brille
Propre à quelques millimètres
De ta joue sèche
Comme du papier
Prêt pour tuer
La perspective du pardon
Je voudrais l’enfoncer
Dans la chair de ta bouche
En biais dans la plénitude
Lente dans sa jouissance
Crève crève
Je susurre et ton bonheur endormi
Me rends jalouse
De la beauté de ton horizon vertical
Dans la perspective de ta langue.

Zoé Valdès
2008

Empire State

Foi-se aproximando, lentamente, com a discrição que o distingue do resto do mundo. Chegou à entrada da porta e, sem se fazer anunciar, esperou. Contra todas as probabilidades e para espanto de quem os rodeava, ela deixou-lhe a porta aberta para que entrasse quando fosse seu desejo. Durante algum tempo ele deambulou pelo átrio. Aos poucos, perdeu os receios e começou a ascender na escadaria, passo a passo, muito devagar, porque não é homem de pressas, parando em cada patamar para descansar, para a deixar descansar. Sem alarido ele foi subindo e ela, aventureira, foi acolhendo e reforçando cada um dos seus progressos.
Na última noite de tempestade resolveram aquecer-se com bebidas quentes, num local que ela há já muito queria dar-lhe a conhecer. E enquanto iam trocando entre si os sabores e brincavam aos fotógrafos com telefones móveis e riam à gargalhada captando a atenção e o espanto dos olhares indiscretos, ela compreendeu que, durante a viagem que demorou cerca de dez anos, ele se tinha instalado na penthouse do arranha-céus que ela usa para metaforizar a amizade e que, perto ou distante, já nada nem ninguém de lá o conseguirá desalojar.

sábado, 19 de novembro de 2011

Chá perfumado com cerejas



Porque as ideias também são como as cerejas.

"Tea for two and two for tea..."

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Desejo(s)

Liberta-te do casulo,
ainda larva
ou já borboleta.
Arregala os olhos,
para o céu
ou para os meu ser.
E se o sol,
com a sua intensidade,
te ferir as pupilas,
encerra as pálpebras,
e volta a ler-me,
em voz alta,
de olhos fechados,
com a ponta dos dedos.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Haveremos de dançar o Tango no seu país.



Roubado ao Vegan para oferecer à Su.

Era uma vez uma rapariga, era uma vez...

Já chamaram muita coisa ao meu mau feitio, mas "simpática directividade" é inédito.

E a ela também.



Um Postal de Lisboa 

Monumentos a eventos que nunca se deram: 

Às guerras sangrentas nunca travadas. 
Às grandes tiradas engolidas ao soar 
a voz da prisão. À consagrada união 
do corpo nu com o pinheiro anão 
que deu o São Sebastião. 
Aos aviadores que subiram às nuvens 
num piano alado. Ao inventor do motor 
que usa como carburante 
o lixo das recordações. À esposa do navegante 
ensimesmado sobre um solitário ovo em omoleta. 
Às Constituições desnudadas. Às independências 
de opulento seio. Aos cometas 
que à Terra passaram tangentes 
(perseguindo um infinito, cujos sinais 
são em parte os das nossas paisagens). 
Ao coito interrompido, nas barbas do preso, 
entre a ideia de autoridade 
e a vegetação. Ao achamento 
da Infártica, bairro ignoto 
do outro mundo. Ao cubista doidivanas 
que captava nos telhados o soprano 
do telégrafo. Ao suicídio do Tirano 
por amor não correspondido. 
Ao terramoto – sublinha um contemporâneo – 
com deleite pelo povo recebido. 
À mão que nunca pegou em dinheiro, 
para não falar em membro viril. 
Ao total de folhas verdes com direito 
inato a desprezar a sua diversidade. 
À felicidade. Aos sonhos que impuseram à realidade, 
à custa das pessoas, a sua própria arbitrariedade.

1988

Пейзаж с наводнением. Иосиф Бродский

A crise, senhores, a crise...

Trio assalta ourivesaria em Alcochete e foge a pé com vários artigos.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Lisboa outra vez




Os empréstimos que se tornam surpresas, as surpresas que se tornam presentes.

"...já temos uma rapariga, uma linda rapariga. Outras virão, e, em tais condições, nada há que possa durar.
Senão tudo isto seria sempre muito mais divertido; mas com as raparigas é preciso haver tristeza; não é que elas gostem do que é triste - pelo menos é isso que afirmam - mas é uma coisa que nasce com elas. Com as bonitas. Das feias pouco há para dizer: já basta que existam."

O Outono em Pequim. Boris Vian, pp. 57

Desta vez vens para ficar?

Duvido da minha capacidade para compreender o tempo, quando descubro que apesar da tua presença sempre se ter medido em dias, as tuas ausências continuam a medir-se em anos.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Há dias assim.

"Love, love will tear us appart again..."

A crueldade das certezas mais que absolutas reside na capacidade de, quando se instalam ou reinstalam, reduzirem ao relativo toda realidade que as rodeia.

domingo, 13 de novembro de 2011

Le désespoir

Escrevo, apago, volto a escrever e volto a apagar, escrevo de novo. Aproveito todas as desculpas para me distrair e não trabalhar: o gato que se deita ao meu lado e a quem emaranho as mãos no pêlo; a música francesa que toca no leitor de CD's e conduz a minha atenção para os poemas debitados pelos cantores; o Google Reader que teima em actualizar as minhas leituras de eleição quase ao minuto; a sede que, apesar de imaginária, me impele a levantar e reabastecer a caneca com chá conservado quente pelo termos de metal...
O tempo que me foi dado esgota-se e eu, que não sei senão cumprir prazos, continuo árida de ideias e palavras e intenções. Sei que sou a única responsável pelo atraso iminente, e ainda assim começo a distribuir culpas ao mundo e a ele, porque, apenas com o olhar, foi capaz de me lançar para cima o desesperante peso da perfeição.

Eu nem sou destas coisa, mas hoje apeteceu-me "repostar"

(as coisas em que me fazias pensar, mesmo antes de de eu sequer imaginar...)

Mode d'emploi

Queres mesmo saber? Tens a certeza? Então eu ensino-te.



Começas por dar-lhe um pedaço de atenção. Não poderá ser em excesso, mas terá que ser em dose suficiente para que repare em ti. Depois de te certificares que foste sinalizado, começas a distribuir atenção por outras, com grande alarido, mas aleatoriamente, para que não pense que desviaste o interesse. Assim captarás a sua atenção. De seguida, e agora que ela já te viu, necessitas de tomar medidas para te distanciares, de forma a que te vislumbre como uma figura misteriosa, quase inalcançável, montada num pedestal. Por breves segundos, e em momentos escolhidos criteriosamente, podes descer à terra e tornar-te quase acessível, quase corpóreo. Nesses instantes aproxima-te dela, até que ela sinta que quase pode tocar-te, e quando estiver quase a chegar a ti, sobes de novo as escadas e voltas à tua torre. Durante estas viagens mostra-lhe que, perto ou distante, a cordialidade é o fio condutor da tua conduta e que nada te desviará dela. Durante estas viagens estuda-a ao pormenor, aprende-lhe todas as vontades e propensões e depois de a saberes de cor, num dia escolhido através de cálculos matemáticos complexos, atira-lhe com um elogio à característica que ela mais valoriza, e depois ignora os agradecimentos dela. Desaparece de novo da sua vista, para que sinta a tua falta. Deixa-a a pensar que foi esquecida. Quando ela pensar que desististe, reaparece e volta a elogia-la e mais que isso, mostra-te interessado pelas suas coisas. Mantém a tua posição de inatingível, mas através de mensagens encriptadas, mostra-lhe que é apenas para o resto do mundo, porque para ela estás à distância de um toque. Basta, para isso, que ela te queira tocar. Deixa-a aproximar-se devagarinho. Deixa-a chegar até ti. Deixa-a sentir que não vais arredar pé dali. E pronto! Ela acabou de render-se e entrega-se a ti. Agora só terás que aprender a mantê-la...

De céu espantada? #3

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Na tua pele

O estafermo do inconsciente brinca às associações livres e, à revelia da sua vontade de ferro, cola as músicas que ela ouve, com super cola 3, àquilo que lhe vai acontecendo na vida. Com algumas faz um trabalho tão bom, que nem a famosa benzina com os seus poderes dissolventes consegue reparar.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

De céu espantada? #2

Eu não posso ir a lado nenhum.

Uma hora inteira de consulta com o pneumologista, dividida da seguinte forma: cinco minutos a auscultar e passar receita de remédios para a asma, para seis meses; cinquenta e cinco minutos a discutir a organização social do mundo ocidental e o colapso iminente dos mercados financeiros. E tudo isto por causa do Slavoj  Žižek.



segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Amizade?

Abro a caixa de correio electrónico de que me vou esquecendo amiúde. Dou de caras com mais um dos paradoxos da minha vida a encimar a tela verde. Sou, de novo, transportada para um quadro de Dali. E eu que só queria que me deixassem viver num Turner.


(imagem retirada daqui)

Sometimes...

domingo, 6 de novembro de 2011

Filósofos da vida # 6

"A razão e o amor falam línguas diferentes e que não são traduzidas com facilidade [...] O amor não se reconhece nas palavras, que parecem ser propriedade da razão, sendo um território estrangeiro e hostil ao amor. Como um réu no tribunal da razão, o amor está destinado a perder o caso, que na verdade já estava perdido antes de o julgamento começar. Como o herói de O processo de Kafka, o amor é culpado de ser acusado; e mesmo que possamos nos inocentar dos crimes de que somos acusados de cometer, não existe defesa contra a acusação de ser acusado."

A sociedade individualizada. Zygmunt Bauman.  pp. 205-206

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Where are you?

E não é que o cabrão do reader, com a mania das modernices, fez desaparecer o meu DJ favorito? Bem me parecia que me andava a faltar qualquer coisa...

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Restaurador Olex?

(Imagem retirada daqui)

Agora só falta o Moutinho aparecer de carapinha.

ah! o doce sentimento da sensatez...

Questiona-a ironicamente acerca da sua alma vadia. Ela, sempre possuída por um  espirito rebelde, reafirma-se totalmente nómada, alto e bom som. Mas internamente coloca uma questão silenciosa: - E se ela ficasse quieta, o que faria ele dela?

Porque deixaste de vir?

Ela, que as utiliza com mestria para obter toda a informação de que necessita, que as têm como ganha-pão, que com elas consegue manipular meio mundo, não lhes permite que saiam do reduto profissional a que as confinou, e recusa-se  a deixá-las corromper a imaculada rede de princípios que teceu para a sua vida privada. Ela engana-se a si própria quando diz que não faz perguntas porque é assim que as coisas devem ser. Até porque toda a gente sabe que o que a detém é apenas o medo do que lhe possam dizer as respostas.

– Meu corpo, que mais receias?
– Receio quem não escolhi.


– Na treva que as mãos repelem
os corpos crescem trementes.
Ao toque leve e ligeiro
o corpo torna-se inteiro,
todos os outros ausentes.


Os olhos olham no vago
das luzes brandas e alheias;
joelhos, dentes e dedos
se cravam por sobre os medos...
Meu corpo, que mais receias?


– Receio quem não escolhi,
quem pela escolha afastei.
De longe, os corpos que vi
me lembram quantos perdi
por este outro que terei.


Jorge de Sena - Pedra Filosofal, Poesia I

Baby

Com alguma falta de jeito, ele interpela-a e pergunta-lhe se gosta da música do seu país. Ela responde-lhe que sim, que gosta, mas que apenas conhece aqueles interpretes que correm o mundo, os mais evidentes, e começa a nomeá-los. Ele procura calmamente os auscultadores pendurados na gola da camisola, coloca um no seu ouvido e o outro no ouvido dela e programa o leitor de mp3 para que comece a libertar de dentro de si a voz rouca da cantora que ela prefere. Ela arregala os olhos, admirada. Ele arqueia as sobrancelhas, vaidoso. Ficam a sorrir um para o outro, enquanto se cantam beijos e carícias e desejos e delícias.