quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Tenho,

...gargalhadas a toda a hora, o melhor companheiro que existe, verão o ano inteiro e um castanheiro à janela.
Haverá melhor emprego no mundo?

 
(a fotografia não está grande coisa, mas foi o que se arranjou)

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Os inadaptados

Está a cortar as flores secas das alfazemas, para fazer aquilo que chama "um hospital de ervas curativas", enquanto eu arranco as ervas daninhas do jardim. De repente quebra o silêncio para me perguntar o que é uma metáfora. Páro uns segundos para pensar nas palavras que devo usar e respondo-lhe ilustrando com um ou dois exemplos, sem ficar com a certeza de que percebeu. Em jeito de pensamento em voz alta eu deixo sair: - Tenho que te mostrar o "carteiro"! Pergunta-me quem é o carteiro e eu trato de lhe explicar que é um personagem de um dos filmes mais bonitos que já vi, que um dia destes lhe mostrarei. Quer ver já. Resumo-lhe a história e resolvo mostrar-lhe um pedaço. Pergunta quem é o poeta. Digo-lhe que se chama Pablo Neruda e pergunto-lhe se quer ler um poema dele. Responde afirmativamente. Vou à estante, retiro uma antologia do chileno e escolho um poema para lhe dar a ler. Agarra no livro e segue lendo mais uns quantos com uma expressão de contentamento. Da ombreira da porta observo-a com um misto de orgulho e receio. Temo que ao satisfazer-lhe a curiosidade esteja também a fomentar a sua exclusão?


sábado, 26 de outubro de 2013

Isto tem chovido imenso, não tem?


 
 
Não sei muito bem como ou porquê, (embora suspeite que foi obra da passarada que invadiu o meu território e adjacentes), mas aqui há coisa de um mês começou a desenvolver-se no jardim cá de casa um rebento que eu achei por bem não arrancar quando fazia a limpeza periódica das ervas daninhas. Faço salvamentos destes amiúde, quando me parece que de um certo esboço de planta pode vir a desenvolver-se algo interessante. Com o crescimento desta, começaram-se a fazer apostas sobre a sua espécie. Eu afirmava que era uma aboboreira. O Sr. Fonseca, autodidacta da agricultura caseira, garantia que era um pepineiro. Andamos nesta discussão durante o mês, esgrimindo argumentos da mais diversa ordem e lógica, sem chegarmos a consenso, tendo até descoberto que a família, ao que parece é a mesma, a das Cucurbitáceas, o que legitimava qualquer das posições. Hoje de manhã, após quase uma semana sem aceder ao jardim, mal vi uns raios de sol tratei logo de ir inspecionar as culturas. Ficaram esclarecidas as dúvidas. Das flores amarelas que vão murchando brotam pequenos pepinos. O meu pai tinha razão.De acordo com o Google os pepinos estão a nascer completamente fora de tempo. Nada de estranho pois. Estas duas coisas já se tornaram uma constante na minha vida.

Original ou nem por isso.



Gosto muito dos senhores que criaram esta música, mas a voz de bagaço da Adele dá-lhe um encanto especial.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Vicio(s)*

Começou tudo porque eu resolvi oferecer o livro que andava a ler. Desengane-se quem pensar que foi um acto de altruísmo. A criatura presenteada confessou-me que nunca tinha lido o autor em causa, (um dos meus preferidos, por sinal), e eu já andava com urticária, só de  saber que existia alguém desconhecedor de (e resistente a ler) alguns dos melhores pedaços de prosa que por aí circulam. Vai daí, numa tentativa de reparar tal falha, não hesitei e impingi-lhe o livro que carregava na carteira. Chegada a casa, fui directa à estante à procura de um substituto à altura. Como um semáforo, vermelho e tudo, o último livro do David Lodge entrou-me pelos olhos dentro e foi imediatamente eleito. "Um homem em partes" já estava à espera desde março e, a bem da verdade, não havia titulo que melhor se adequasse ao momento actual. As quase seiscentas páginas de letra 11 a espaço e meio não foram elemento dissuasor, porque afinal, o David Lodge é outro dos meus preferidos. Em jeito de sinopse e sem estragar o suspense, posso desvendar que, aos poucos, vai sendo contada a história de Herbert George Wells. O crescimento, os casamentos, o activismo político, a vida social, os sucessivos casos amorosos... Tudo isto enquadrado num período tão conturbado política e socialmente como rico em criação literária, onde se passeiam Henry James, William James, Bernard Shaw e mais uns quantos de calibre igual. Li-o num ápice e fiquei certa de que a escolha não poderia ter sido melhor. Lodge apresentou-me Wells, criador brilhante, homem cheio de defeitos, mas com um magnetismo ao qual não apetece resistir. Ando fascinada  a descobrir-lhe a obra. A "Guerra dos mundos" está a torná-lo em mais um dos preferidos. Não consigo compreender como foi possível ignorá-lo por tanto tempo.

* ou "Como transformar um post sobre livros numa pescadinha de rabo na boca"

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O seu estado de espírito é definido pelas músicas que a atormentam #23



Ninguém me disse que ia ser fácil. Aliás, numa tentativa de me convencerem a não mudar de vida, todos me disseram que iria ser difícil, muito difícil. E eu, teimosa como sou, não ouvi quem me rodeava e saltei em frente. E eis-me agora aqui, com 16* equipas a cargo (compostas em média por 10 pessoas cada) quando ainda em Março deste ano andava na minha vidinha calma de psicóloga, e a bufar de ansiedade de cada vez que tinha que tomar decisões por conta própria. Soltei-me das amarras e comecei a voar sozinha. Foi a maior loucura que fiz. Mas apesar de todos os percalços e dificuldades, e do cansaço que me invade os ossos no final do dia, tenho dado conta do recado e feito um trabalho muito melhor que alguns que andam nisto há anos. Finalmente encontrei o meu caminho. Estou mais feliz do que nunca. Sou completamente louca.

*(no final do ano, a correr bem, o número já terá aumentado para 21. como dizia o outro, é só fazer as contas)

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

domingo, 13 de outubro de 2013

sábado, 12 de outubro de 2013

O seu estado de espirito é definido pelas músicas que a atormentam #22




Proverbial

Está finalmente declarado, publica e definitivamente, o meu azar ao amor. Acabei de constatar que ganhei o euromilhoes. Estou 3,93€ mais rica.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Segundas oportunidades

Recebo em casa um postal que me questiona sobre a qualidade da minha visão, e dirigindo-se a mim pelos meus dois nomes próprios, como se tivesse andado comigo na escola, me oferece descontos imperdíveis na compra de uns óculos novos. Nas letras pequenas, aquelas que lá os senhores que o mandaram pensam que eu não consigo ler, excluem uma série de situações nomeadamente protocolos convencionados. Ora, uma vez que os senhores me conhecem tão bem que quase me tratam por tu, seria de esperar, até porque tem lá a minha ficha, que eu usufruo de um protocolo convencionado e portanto que o papel que me enviaram serve apenas para dobrar e calçar uma mesa que esteja desequilibrada, porque para o resto é demasiado rijo. Sinto-me no dever, na próxima vez que os visitar, de informar que sou demasiado tinhosa e que este tipo de estratégia me dá urticária. Ah! Espera. Não vai haver próxima vez. Parece que vão ficar sem saber. Acabaram de perder um cliente.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Atrás de um dia vem outro

Saio de casa confiantemente pouco vestida para o vento que sopra agreste, mas a capa do amor próprio não me deixa sentir ponta de frio. Começo o dia segura de que sou imbatível só porque faço três coisas ao mesmo tempo. Viajo até ao Portugal que sinto profundo, mas que fica já ali, a meia hora da cidade quase grande. Transformo-me no Pai Natal que veio mais cedo e com uns fatos de trabalho e uns pares de botas faço a felicidade de vinte crianças crescidas. "Agora só falta o boné a condizer!". Prometo ver isso do boné. Dou duas ou três más notícias que roubam a alegria toda. "É a vida". Abandono o Portugal que sinto ainda mais profundo. Leio as notícias pelo caminho. Respondo ao jornal. "Não se pode assassinar o que já está morto". Volto à cidade e entrego mais uns presentes. Aqui a alegria é mais contida. A urbanidade impõe a maturidade artificial. Almoço. Tomo um comprimido para o cansaço disfarçado de enxaqueca. Bebo mais um café. Delego sem confiar.Transformo-me no padre da freguesia e dou um sermão. Não acredito em nada do que disse e portanto termino-o em quinze minutos para fugir de mim. Desmonto e monto um cronograma como se fosse uma construção de Legos. Não li as instruções. Não lhe reconheço estrutura. Vai desfazer-se não tarda nada. Penso em ti e faço-te saber. Refaço contas e percebo que fui enganada. Leio nas entrelinhas que não queres saber. São sessenta e não cinquenta. Já se desmontou. Perco horas ao telefone e nada se resolve. Bebo o terceiro café. Marco reuniões. Reformulo estratégias. Respondo ao correio. Reencaminho mensagens pela segunda e terceira vez. Olho pela janela e já é noite. É hora de regressar e ainda está metade por fazer. Penso em mim. Já passaram mais de doze horas quando entro de novo em casa. Foi o tempo necessário para sentir que me atraiçoei enquanto era traída. Sou demasiado egoísta. Perdi a fé em mim e na Humanidade. Em modo automático desço ao jardim, sem saber muito bem porquê ou para quê. A lua põe-se lá ao longe no mar. Enfeitiçada, espero que o quarto-crescente alaranjado desapareça e só depois olho em volta. Com surpresa adivinho uma tarde de trabalho. Está tudo tão bonito. Redescubro que sou excessivamente amada. Volto ao início. Está na hora de dormir. Confiantemente visto só metade do pijama. Já é quase amanhã. Não há ponta de frio que me pegue.

domingo, 6 de outubro de 2013

Descoberta musical



O resto da discografia do rapaz (giro que se farta), pelo menos a que me foi dada a conhecer, não tem nada de excitante, mas esta música é simplesmente arrepiante.

(não sejas teimoso. carrega lá no play. não te arrependes)

Constatações musicais

Entra pela porta adentro esbaforida e pronta a descrever o novo parque infantil que visitou com os avós. Passados alguns segundos de verborreia, cala-se e pergunta-me se estou a ouvir Leonard Cohen. Apanhou apenas alguns acordes de Darkness, que lhe permitiram imediatamente identificar o artista. Digo-lhe que sim, que estou, e pergunto-lhe como adivinhou. Responde-me com a firmeza de quem tudo sabe: - A voz dele é inconfundível! - e afasta-se, já esquecida da narrativa urgente, a trautear num inglês macarrónico e com um ar trocista de superioridade "so long, Marianne, it's time that we began to laugh and cry and cry and laugh about it all again".
E com isto fico a pensar que se há música que tem a capacidade de se nos entranhar no corpo e correr pelas veias, a do Leonard Cohen vai mais além, invade o núcleo celular, imprime-se no ADN. 

Eu, tu, ele...

Contrariamente aos últimos meses, acordo com a melhor das disposições. Nem a memória da provação a que fui sujeita poucas horas antes de adormecer, e que me deixou os nervos em franja, nem o facto de ter sido acordada por um telefonema perfeitamente inútil me conseguem alterar o humor eufórico e portanto trato logo de fazer uma ou duas travessuras pela manhã, ainda antes de abandonar o quente dos lençóis. Estou certa de que a inesperada exaltação que me invade é fruto dos psicotrópicos legais que médico-gnomo, que consultei durante um ataque de hipocondria, me receitou. Chamam-lhes pilulas da alegria. Merecem sem dúvida o epíteto. Decidi a partir de ontem que vale tudo, tudo o que me faça feliz.

He said "All men will be sailors then until the sea shall free them"


sábado, 5 de outubro de 2013

gladly keeping it spinning


E se um dia um desconhecido te oferecer um livro...

"Todas as conversas que desde então tivera com outras pessoas tinham-lhe parecido superficiais e banais, e desde aquele dia nunca mais tinha deixado de  se alimentar mentalmente das ideias e alusões que ele lançara para o ar com o mais espontâneo brilhantismo. Não suportava a ideia de que aquela experiência pudesse nunca mais se repetir, e escrevia para lhe perguntar, sem rodeios, se não podiam voltar a encontrar-se, só para conversar, como em Easton, antes que ele a esquecesse por completo."

David Lodge - Um homem de partes, pp.434

sexta-feira, 4 de outubro de 2013