domingo, 31 de agosto de 2014

sábado, 30 de agosto de 2014

terça-feira, 26 de agosto de 2014

domingo, 24 de agosto de 2014

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

20. before bedtime



Introduz a mão na gaveta que repousa debaixo da cama e retira os primeiros lençóis que a mão alcança. São brancos, de algodão, os únicos que o corpo aceita quando o verão se manifesta com vigor, quando o calor aperta e a cor se cola à pele suada deixando um rasto odorífero demasiado acre. No verão são sempre brancos, é ponto assente. Começa a estende-los na cama e apercebe-se que fazem parte do lote que lhe calhou em herança, há mais de 20 anos, aquando da morte dela, quando ele decidiu que tinha tralha a mais e que grande parte teria que ser despachada. Calharam-lhe em herança, sem que os tivesse pedido. Nem sequer se deu ao trabalho de participar na reunião familiar das partilhas. Qualquer coisa lhe servia. Desde que ficasse salvaguardado que a Nossa Senhora de Fátima e os pastorinhos seriam seus quando partissem ambos, tudo o resto era indiferente. Que ficassem com o que quisessem. Ninguém teve coragem de a contrariar. A Santa foi-lhe entregue poucos anos depois, quando chegou a vez dele de partir, e repousa sobre a cómoda do seu quarto, vigilante, a guardar-lhe as memórias de criança. Antes disso vieram as roupas de mesa e de cama e as joias que nunca usa. Vieram os lençóis com monograma bordado à mão, que estende na cama. Um monograma falsificado que necessitou de ser explicado quando lhe chegou às mãos. Então se o nome de ambos iniciava com a primeira letra do alfabeto, o que fazia ali um F, enleado no A? Diz-lhe a mãe, que percebe das artes da costura, que não fica bonito quando se junta a mesma letra duas vezes, que assim se distingue quem é quem, que o F é a inicial do segundo nome dele, que assim é muito mais bonito. Discorda, mas não discute. Percebe que ele não foi tido nem achado na decisão pouco democrática, já que nunca ninguém o chamou pelo segundo nome, que isto de bordar trapos é coisa de mulher, e que desde que estivessem limpos quando se deitava neles, tanto se lhe fazia se lá estava escrito AF ou caracóis com molho verde. Ou se calhar até se importava um bocadinho, às escondidas, sem que ninguém percebesse. E talvez por isso os tenha despachado à primeira oportunidade, porque já não aguentava mais ter o papel secundário na cama, na vida, nas letras tatuadas nos farrapos de tecido que ela trouxe como dote e que auguravam união para toda a vida.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

domingo, 17 de agosto de 2014

Literatura sem cordel

"Ela já não está a pairar, já não está a estender a capa cravejada de estrelas sobre os bosques noturnos; ainda está cheia de uma amálgama de magia, mas é também uma mulher de pé, em cima de um telhado, com um namorado muito mais novo do que ela, açoitada pela neve e o vento, uma cidadã do mundo, alguém capaz de dizer: Esta coisa do casamento é muito esquisita."
A rainha da neve - Michael Cunningham p. 73

17. dinner


16. clean


15. clouds


14. give


13. inside


12. gather


11. mirror


domingo, 10 de agosto de 2014

10.art


9. mix


8. pet pevee

 
(pessoas estúpidas, o acordo ortográfico, os melros que me comem as uvas e as framboesas, o corta-relva do meu vizinho de manhã, gente incompetente, chuva em tempo de férias, o benfica, viagens de carro, empatas, a interrupção sazonal das séries, as tuas indecisões, lençóis enrugados ao deitar)

sábado, 9 de agosto de 2014

O seu estado de espírito é definido pelas músicas que a atormentam #26




My gears they grind
More each day
And I feel like
They're gonna grind away

And the city blocks
They drive me wild
They're never ending
Mile after mile

I just don't know what to do
I'm too afraid to love you

It's heaven on earth
In her embrace
Her gentle touch
And her smiling face

I'm just one wishing
That I was a pair
With someone
Oh somewhere

I just don't know what to do
I'm too afraid to love you

All those sleepless nights
And all those wasted days
I wish loneliness would leave me
But I think it's here to stay
What more can I do
I'm wringing myself dry
And I can't afford to lose
One more teardrop from my eye

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Revelações

"Encontramos as chaves com a lanterna dela e, mal abria a porta e entrei em casa, acendi as luzes da sala de estar. Alma Grund entrou atrás de mim  - uma mulher de baixa estatura, entre os trinta e cinco e os quarenta, vestindo uma blusa de seda azul e umas elegantes calças cinzentas. Cabelo castanho, nem curto nem comprido, sapatos altos, bâton carmim e uma mala de cabedal, razoavelmente grande, dependurada do ombro. Quando se encaminhou para a luz, vi que tinha uma marca de nascença no lado esquerdo do rosto. Era um mancha púrpura mais ou menos do tamanho do punho de um homem, suficientemente comprida e larga para fazer lembrar o mapa de um qualquer país imaginário: uma sólida massa de descoloração que lhe cobria mais de metade da face esquerda, começando no canto do olho esquerdo e descendo até ao maxilar. O cabelo fora cortado e penteado de maneira a ocultar a maior parte da mancha e ela inclinava a cabeça de uma maneira perfeitamente postiça, a fim de impedir que o cabelo se movesse. Um gesto que há muito se entranhou nela, pensei eu, um hábito adquirido depois de toda uma vida de constrangimentos; dava-lhe um ar desajeitado e vulnerável, o ar de uma rapariga tímida que preferia mirar a alcatifa a olhar-nos nos olhos."

O livro das ilusões - Paul Auster, p. 88-89

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

terça-feira, 5 de agosto de 2014

5. pile


(totalmente previsível)

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Pecado(s)


4. In the middle


(não gosto de castanhas. no entanto encantam-me os ouriços. talvez seja esta afinidade. somos amiúde doces no meio, e para sempre espinhosos na superfície)

domingo, 3 de agosto de 2014