quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Não consigo dormir

Tenho sono.
Está muito calor.
Não consigo adormecer.
Estou deitada na cama.
Rebolo de um lado para o outro.
Não consigo adormecer.
Penso em tudo.
Ligo a televisão.
Desligo a televisão.
Não consigo adormecer
Ligo a luz.
Pego num livro.
Começo a ler.
Pouso o livro.
Apago a luz.
Não consigo adormecer.
A noite já arrefeceu.
Está menos calor.
Não consigo adormecer.
Penso noutra noite.
Não consigo adormecer.
Penso naquilo que escrevi.
A noite está mais fresca.
Fecho a janela.
Deito-me.
Não consigo adormecer.
Tudo são desculpas para não dormir.
Não quero dormir.
Quero pensar em ti.

domingo, 9 de agosto de 2009

Sorri amiga

sorri amiga!, só o teu sorriso já é uma alegria

- Onde vamos ver o futebol?
- A casa de um amigo.
- Quem?
- Não conheces.

Conheceram-se há mais ou menos 10 anos. Ela estava a passar um fim de semana na casa de uns amigos, no interior, com o namorado. Era dia de jogo de futebol importante. Talvez o FCPorto, talvez a selecção…
Perto da hora do jogo foram todos para a casa dele, para assistir na televisão. Ela nunca ligou muito a futebol. Gosta do Porto, gosta da selecção, mas gosta mais de fazer as suas coisas.
Chegaram a casa dele e foram apresentados. Quando o viu, ficou deslumbrada com a sua beleza. Pensou “Ele está para além do meu alcance.” Ele era um rapaz um pouco mais velho, mas certamente muito mais maduro. Ela era uma rapariga mais nova e muito parva. Ele sempre lhe pareceu estar muito embrenhado no seu mundo, distante, com um peso sobre a cabeça. Ela tinha a cabeça leve e uma auto-estima muito baixa. Viram o jogo de futebol. Ela andou a deambular pela casa, entre a sala, onde estava a televisão e o resto da casa, onde estava ele. No final da tarde foram todos jantar. Ela estava com o namorado, mas não deixava de pensar nele. Ele continuava a não lhe ligar. Ela pensava que ele era demasiado crescido, para se interessar por ela. Ele estava embrenhado nos seus pensamentos e dilemas. Ela sentiu sempre que para ele era invisível. Os anos foram passando. Foram-se encontrando com pouca frequência. Mantinham o contacto através dos amigos. Sempre com muita distância entre si. Um jantar aqui, uma ida à discoteca acolá. Ele pouco ou nada lhe falava. Ela pensava que ele era inatingível. Não o procurava, não tinha coragem para iniciar uma conversa. Pensava que ele a iria achar uma pessoa desinteressante. Achava-a uma pessoa interessante, mas continuava embrenhado nos seus pensamentos e dilemas.
Um dia, há cerca de um ano atrás, encontraram-se de novo. Já não se viam há algum tempo. Ele ficou sentado ao lado dela na mesa do jantar. Conversaram durante o tempo todo, quase ignorando todos os outros presentes. Falaram de muitas coisas. Ele expôs-se, contou alguns segredos, alguns fantasmas. Ela ouviu-o.
Ela já é mais madura e menos parva. Ele compreendeu isso. Ela valorizou-o. Ele gostou. Fez-lhe bem à auto-estima. Ele continua a considera-lo um homem muito belo. Continuam a encontrar-se. Ela deixou de se sentir invisível para ele. Ele deixou de ser distante. O peso sobre a cabeça desapareceu. São amigos.
Ontem ela estava triste, embora estivesse a rir. Sem saber disso, ele escreveu-lhe “sorri amiga!, só o teu sorriso já é uma alegria” Ele fez o mundo dela brilhar mais intensamente.