Da minha mãe veio o gene da generosidade, que nela se encontra exacerbado até ao infinito, de tal forma que a torna capaz de dar a camisa que traz vestida mesmo a quem não a trata com a cordialidade que merece. Do meu pai herdei a convicção arreigada de que acima do eu nada existe e que, lado a lado com ele, apenas convivem aqueles que por decreto ele jurou proteger. A mistura resultou num cocktail que não raras vezes consegue harmonizar-se com o mundo, e que propicia a aceitação de diversas posições face ao binómio altruísmo-egoísmo, desde que as mesmas comportem alguma flexibilidade e capacidade de escutar e aceitar o outro. Nesses casos, a herança materna salta para a arena e a capacidade de me dar torna-se quase inesgotável. Para os discursos fundamentalistas reservo a visão egotista que o meu pai tão carinhosamente me ofertou, coloco um sorriso nos lábios, mando o sujeito discursante para o "raio que o parta" e abandono a discussão.
Assim por assim, a tolerância às posições extremas está apenas reservada para os progenitores. Afinal, em última instância, foram eles os ilustres criadores.
* Modinha para Gabriela - Gal Costa
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