sábado, 15 de outubro de 2011

Conversas móveis

- Ó mãe, hoje a minha amiga explicou-me como é que os rapazes conquistam a rapariga de quem gostam. - conta-me ela toda entusiasmada
- Ai foi! Então explica-me lá isso a mim. - peço-lhe eu, temendo a resposta.
- Ela contou-me que eles lhes dizem o que sentem por ela e ela fica conquistada. - diz ela confiante nos ensinamentos da amiga.

Apeteceu-me refutar a teoria. Apeteceu-me dizer-lhe que só funciona assim para as distraídas, para aquelas que não conseguem de forma alguma ler sinais, para as que são completamente autistas para o amor. Apeteceu-me explicar-lhe que aqueles que nos interessam realmente não fazem assim, que o perigo não reside nas cordas vocais, mas nos olhos. Apeteceu-me ensinar-lhe que é com uma dança de olhares que eles nos queimam a pele, nos atordoam todos os outros sentidos e nos introduzem o desejo na corrente sanguínea, para o fazer circular a grande velocidade por todo o corpo até à mais distante terminação nervosa. E principalmente apeteceu-me confidenciar-lhe que nesta coisa das conquistas, a primeira e mais importante aprendizagem é que as narrativas verbais comportam todo o tipo de inverdades, enquanto que os olhos, os olhos nunca mentem.

Apeteceu-me, mas acabei apenas por sorrir, e continuei a conduzir em silêncio.

3 comentários:

  1. ainda bem que não contrariaste a fórmula mágica. Conheço uma que acabou de ser conquistada exactamente através desse método.

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  2. Queres com isso dizer que afinal a miúda de 6 anos é quem sabe?

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  3. :)
    Temo que, afinal, seja mesmo assim tão simples.

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