sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

ONDE A MULHER É SECRETA, O HOMEM É INUTIL - Paul Éluard

A indiferença radicalmente excluída
Tudo se jogava
Em torno do ventre louco e das palavras sem nexo
De uma mulher feita para si mesma
E mais bruma do que real

Tinha um encanto a mais
Do que essa de quem nascera
Pleno de virtualidades

Acolhia tantos prodígios
Todos os mistérios
Na luz aberta do atónito

Sob a sua imensa cabeleira
Debaixo das suas pálpebras descidas
Numa voz abafada entremeada de risos
Ela e seus lábios contavam
A vida
De outros lábios semelhantes aos seus
Procurando entre eles o seu prazer
Como sementes ao vento

A vida também
De homens tão pouco agarrados a ela
De mulheres com mágoas esquisitas
Que se pintam para se apagar

E ninguém compreendia sobre que fundo de delícias e de certezas
A memória vindoura e memória desconhecida
Faria melhor do que a esperança
Para ser implicada no vulgar, no habitual.

Últimos poemas de amor, Paul Éluard, pp. 29-31. Relógio D'Água.

Para a CS, uma mulher misteriosa, "feita para si mesma", com a esperança que nos deixe ler as suas palavras, pois os seus comentários indiciam que serão um deleite.

2 comentários:

  1. Fico à espera das letras no seu blog. (Estou a aproveitar-me do facto de estar derretida para pedinchar.)

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