Homem livre, tu sempre adorarás o mar!
O mar é o teu espelho; a tua alma contemplas
Na sua ondulação, no infinito vaivém,
E o teu espírito é fosso não menos amargo.
Gostas de mergulhar na tua própria imagem;
Chegas mesmo a beija-la, e o teu coração
Distrai-se algumas vezes do seu próprio som
Com o rumor dessa queixa indomável, selvagem.
Sois ambos, afinal, discretos, tenebrosos:
Homem, ninguém sondou os teus fundos abismos,
Ó mar, ninguém conhece os teus tesouros íntimos,
Tanto que sois dos vossos segredos ciosos!
E porém, desde sempre, há séculos inumeráveis,
Que os dois vos combateis sem piedade ou remorso,
De tal modo gostais da carnagem da morte,
Ó lutadores eternos, irmãos implacáveis.
As flores do mal - Charles Baudelaire, pp.75. Assírio e Alvim
Para o Pipoco mais salgado. Por ser um homem cheio de mar, por ser um homem de muitos mares.
Não só é um enorme poema, é Baudelaire e eu gosto.
ResponderEliminar(muito obrigado, muito obrigado mesmo)