sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

CLANDESTINO - Paul Auster

Recordem hoje comigo - a palavra
e contra-palavra
da evidência: a táctil aurora, amanhecendo
da minha mão cerrada: o aperto
ciliário do sol: o trecho de escuridão
que escrevi
na mesa do sono

Agora
é a hora.
Tudo aquilo de que
me vieram privar,
levem-no agora de mim. Não
se esqueçam
de esquecer. Encham
de terra os bolsos,
e selem a boca
da minha caverna.

Foi lá
que sonhei a minha vida
rumo a um sonho
de fogo.

Poemas escolhidos, Paul Auster, pp. 94. Edições Quasi.

Para o Pedro, que é uma pessoa cheia de sensibilidade, cuja escrita  nos faz sempre sorrir, quando não rir à gargalhada. Não lhe sei bem explicar porquê, mas este poema rima consigo.

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