A loiça do jantar está lavada e empilhada no escorredor. A areia do gato foi trocada. O saco de água quente está já colocado na cama. A chávena com a infusão de ervas calmantes está sobre a mesa-de-cabeceira, mesmo junto à pilha de remédios para a asma. A criança foi embalada com uma história e já dorme. A casa está em sossego absoluto.
E eis que chegas tu, com esse teu ar angelical. Sorris, dás as boas noites e qual dona de casa que se sabe traída pelo marido embora nunca o admita começas de imediato a refazer as tarefas domésticas que já estão concluídas, e soltas a língua num metralhar desenfreado de palavras ocas e ideias vazias. Precisas de ocupar as mãos e a cabeça. Só assim consegues sobreviver. Só assim consegues, com mestria, transformar o inferno ardente a que nos condenaste, numa sucessão de prados floridos aquecidos pelo sol da Primavera. Pena que, apesar do belo cenário, eu continue a sentir as labaredas que me queimam a pele e a ouvir os gritos agonizantes que me retalham os ouvidos.
a vida urbana é dura...
ResponderEliminar(mas dá "episódios" fantásticos) :-)