Em 1992, e após o retumbante êxito de More than words (devido em parte à bandeira portuguesa a decorar o fundo do teledisco), os Extreme lançaram um álbum duplo, que eu decidi imediatamente que tinha que comprar. O Nuno Bettencourt, com as unhas pintadas de negro, o cabelo comprido que atirava para trás com um meneio de cabeça e o ar de bad boy com um coração pronto a derreter-se pela primeira que lhe aparecesse, tinha-se tornado na minha paixão adolescente do momento. Era lindo de morrer e eu necessitava de o ter a cantar para mim. Não podia esperar. Portanto, tratei logo de contabilizar as minhas poupanças e de fazer uma ronda pelos avós e tios para arrecadar o que faltava para comprar o vinil. E mesmo sem saber muito bem o que estava a comprar, corri à loja de discos antes que esgotasse. Chegada a casa com o objecto mágico dentro de um saco, tratei logo de o abrir e pôr a tocar no gira-discos. A audição do tão desejado quase provocou a apoplexia geral de quem vivia lá em casa, eu incluída. Aquilo nada tinha a ver com o êxito anterior e era apenas uma colectânea com uns tipos aos gritos e guitarradas e bateria. Socorro! Meu rico dinheirinho. Com o tempo, fui ouvindo e aprendi a gostar moderadamente das músicas, quanto mais não fosse porque ia-me babando com enleio para cima das fotografias do guitarrista , e essa visão quase me faziam esquecer o escarcéu que ia sendo feito em fundo.
Um dia destes, numa visita à biblioteca da casa dos meus pais, e enquanto procurava um livro antigo, dei de caras com o vinil e resolvi dar uma espreitadela de novo nas fotos do fofinho do Nuno que, no final das contas já não me pareceu tão giro. A idade adulta provoca amiúde estas desilusões. Entretanto recordei-me que o disco tem um nome interessante, chama-se "III Sides to Every Story", e tem como subtítulo o fruto da divisão em três partes: 1. Yours, 2. Mine, 3. The truth.
Inconscientemente, sem me saber influenciada por uma banda moribunda, tenho tentado, nem sempre com êxito, confesso, fazer dessa frase uma máxima de vida. Não gosto de ver o mundo com linearidade. Tento procurar conhecer pelo menos três versões para cada história, a minha, a tua e uma intermédia, que é aquela que mais se aproxima da verdade.
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