sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Vicio(s)*

Começou tudo porque eu resolvi oferecer o livro que andava a ler. Desengane-se quem pensar que foi um acto de altruísmo. A criatura presenteada confessou-me que nunca tinha lido o autor em causa, (um dos meus preferidos, por sinal), e eu já andava com urticária, só de  saber que existia alguém desconhecedor de (e resistente a ler) alguns dos melhores pedaços de prosa que por aí circulam. Vai daí, numa tentativa de reparar tal falha, não hesitei e impingi-lhe o livro que carregava na carteira. Chegada a casa, fui directa à estante à procura de um substituto à altura. Como um semáforo, vermelho e tudo, o último livro do David Lodge entrou-me pelos olhos dentro e foi imediatamente eleito. "Um homem em partes" já estava à espera desde março e, a bem da verdade, não havia titulo que melhor se adequasse ao momento actual. As quase seiscentas páginas de letra 11 a espaço e meio não foram elemento dissuasor, porque afinal, o David Lodge é outro dos meus preferidos. Em jeito de sinopse e sem estragar o suspense, posso desvendar que, aos poucos, vai sendo contada a história de Herbert George Wells. O crescimento, os casamentos, o activismo político, a vida social, os sucessivos casos amorosos... Tudo isto enquadrado num período tão conturbado política e socialmente como rico em criação literária, onde se passeiam Henry James, William James, Bernard Shaw e mais uns quantos de calibre igual. Li-o num ápice e fiquei certa de que a escolha não poderia ter sido melhor. Lodge apresentou-me Wells, criador brilhante, homem cheio de defeitos, mas com um magnetismo ao qual não apetece resistir. Ando fascinada  a descobrir-lhe a obra. A "Guerra dos mundos" está a torná-lo em mais um dos preferidos. Não consigo compreender como foi possível ignorá-lo por tanto tempo.

* ou "Como transformar um post sobre livros numa pescadinha de rabo na boca"

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