terça-feira, 29 de outubro de 2013

Os inadaptados

Está a cortar as flores secas das alfazemas, para fazer aquilo que chama "um hospital de ervas curativas", enquanto eu arranco as ervas daninhas do jardim. De repente quebra o silêncio para me perguntar o que é uma metáfora. Páro uns segundos para pensar nas palavras que devo usar e respondo-lhe ilustrando com um ou dois exemplos, sem ficar com a certeza de que percebeu. Em jeito de pensamento em voz alta eu deixo sair: - Tenho que te mostrar o "carteiro"! Pergunta-me quem é o carteiro e eu trato de lhe explicar que é um personagem de um dos filmes mais bonitos que já vi, que um dia destes lhe mostrarei. Quer ver já. Resumo-lhe a história e resolvo mostrar-lhe um pedaço. Pergunta quem é o poeta. Digo-lhe que se chama Pablo Neruda e pergunto-lhe se quer ler um poema dele. Responde afirmativamente. Vou à estante, retiro uma antologia do chileno e escolho um poema para lhe dar a ler. Agarra no livro e segue lendo mais uns quantos com uma expressão de contentamento. Da ombreira da porta observo-a com um misto de orgulho e receio. Temo que ao satisfazer-lhe a curiosidade esteja também a fomentar a sua exclusão?


2 comentários:

  1. ... também vou de sair daqui inspirada... há anos que ando para ler o livro (que tenho) e desta acho que não vai passar, o filme virá depois (quantos anos já passaram do dia que convidei o meu pai para ir comigo ver este filme ao cinema e ele recusou por falta de tempo... aquilo magoou-me e depois até eu desisti de ir...

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    1. O filme é um dos pouco que bate o livro. É pura poesia. Recomendo-lhe vivamente.

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