segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Nem tudo o que reluz é de ouro

Há muito tempo que querias. Não sabes bem porquê, mas querias e querias muito. Procuravas, insinuavas o teu querer, entristecias-te com o silêncio que tinhas como resposta. Desististe. Não de querer, mas de ruidosamente mostrar que existias. Abandonaste-te ao silêncio do resignado, sentada com a cabeça apoiada na mão esquerda, à espera sem esperança.  
Um dia sem aviso, quando tu já quase tinhas desistido até de querer, ouves um ruído e vês que o esperado acaba de te cair no colo. A memória reaviva-se. Recordas-te de todas as penas por que te fizeste passar e abraças a sua chegada com toda a tua força. Na euforia do momento não sentes que os braços se vão soltando aos poucos, que o abraço se está a tornar lasso e que nada fazes para o voltar a apertar. Pensas que é um reflexo, mas não imaginas que é condicionado. Até que sentes que o sorriso começa a esmorecer nos teus lábios e que as tuas pernas querem caminhar para longe. Sentes vontade de fugir. Necessitas de te afastar o mais possível. Sentes-te a sufocar. Pensas que morres se não escapares. 
Sem aviso, tal como chegou, percebes que se prepara para de novo partir. Nada fazes para o deter. Tentas esboçar um sorriso para a despedida, mas apenas consegues um esgar. Acenas e respiras fundo assim que o vês dobrar a última esquina. 
Descobriste, tarde demais, que agora que se prepara para ser teu, afinal já não o queres.

1 comentário: