terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Quebra-cabeças

Ela gosta muito de resolver quebra-cabeças. Charadas, sopas de letras, sudoku, ... Um destes dias, entrou-lhe pela porta adentro um enigma em forma de puzzle. Uma pequena caixa, com umas centenas de peças, com não mais que 1 cm2 de área cada. As peças eram brancas, com uns riscos pretos. Na caixa, não vinha qualquer imagem de referência para a construção do referido puzzle.
Curiosa e aventureira como é, lá começou a tentar colocar as peças em posição, para que se formasse uma imagem lógica. Tarefa hercúlea, uma vez que nenhuma delas parecia encaixar na outra. Mas ela, com uma persistência que raia a teimosia, não se deixou vencer pela dificuldade e aos poucos foi conseguindo juntar algumas peças. Descobriu então, que se tratava de uma imagem composta por frases soltas espalhadas por uma folha de papel branco. Letras e palavras manuscritas a negro, numa caligrafia simétrica, mas não infantil. Frases espalhadas em diferentes direcções. Começou por ler Quer-se. Juntou mais algumas peças e apareceu Não devia ter sido. Após dias de tentativas e erros, de troca de lugar das peças, surgiu no papel Não se quer. Começou a ficar confusa. Nada daquilo fazia sentido. As frases eram ambíguas, sem um fio condutor, incongruentes, contraditórias. No entanto, continuou na sua tarefa. Pediu ajuda a alguns amigos para entender a possível lógica subjacente. Os amigos opinaram. As opiniões foram também divergentes. Esqueceu-as. Continuou a construir. Foram aparecendo mais frases. Não. Sim. Não é possível. Intervalo. A confusão era cada vez maior. Por várias vezes apeteceu-lhe desistir. Não se achava à altura do ofício. Mas aos poucos novas letras surgiam. Talvez. Hoje. Amanhã. Não se sabe. O número de peças começava a diminuir. Sentia que a sua vida estava suspensa até à resolução total da questão. Não via um fio condutor. Pensava que tinha perdido tempo inutilmente.
Finalmente terminou a construção. As peças acabaram. Foi composta a última frase. É melhor assim. Fez-se luz na sua mente. Aquela frase era a ponta da meada que unia toda a escrita. A mensagem foi compreendida, o quebra-cabeças resolvido. Uma sensação de alívio percorreu-a. Tudo começou a fazer sentido. Já poderia continuar a viver a sua vida. Poderia, agora que tinha compreendido a mensagem, actuar em conformidade.
No entanto, reparou em algo estranho. As bordas do Puzzle tinham saliências para encaixar novas peças. Não conseguia compreender porquê, uma vez que já não existiam peças para encaixar.
Ontem compreendeu. Chegou-lhe a casa mais uma caixa de peças, e apenas uma instrução.
"O puzzle tem três dimensões. Tem a forma de um cubo".
Esperam-na mais 5 lados. Está ansiosa por recomeçar a jogar.

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