domingo, 20 de dezembro de 2009

Desesperança

Estou no cimo da escadaria.
Vejo-te a abrir caminho por entre a multidão, em direcção à saída. Olhas em frente mas não vês o que te rodeia. Vês apenas o reflexo dos teus pensamentos, das cogitações que te põe a mente em rebuliço e que te absorvem os sentidos. Vais de encontro aos corpos que se movimentam ao som da música. Derramas um copo de cerveja sobre um homem vestido de azul. Ele olha-te com um ar furioso e ameaça-te. Não reages ao olhar, não ouves a ameaça. Continuas a andar e a chocar contra todos os que se intrometem entre ti o teu objectivo.
A meio caminho da porta, levantas o olhar. Algo te cativa a atenção. Talvez uma luz mais intensa, talvez o brilho de um par de brincos, talvez um top branco debaixo de uma luz roxa. Uma expressão de espanto estampa-se no teu rosto. Cruzas os teus olhos com os meus. Demoras o olhar. Percorres-me o corpo com as pupilas. Uma expressão simultaneamente doce e felina assoma-te ao rosto. Mudas de direcção. Começas a dirigir-te a mim.
De repente, uma mulher que te seguia puxa-te o braço. Faz-te voltar à tua realidade. Voltas a recordar-te do teu destino. A falta de convicção volta a apoderar-se do teu olhar. Desvias-te de novo em direcção à porta. O desânimo toma conta dos teus membros. A mulher que te acompanha, qual manipuladora de marionetas, guia-te a vontade. Deixas de controlar os teus movimentos, a orientação dos teus passos. Vais por onde te ordenam. Antes de desapareceres, cruzas de novo o olhar com o meu. Pedes-me desculpa pela falta de coragem. Abandonas a sala para sempre. Deixas ficar a esperança a pairar.

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