sábado, 21 de novembro de 2009

Amo-te

Amo-te não é apenas uma palavra difícil de dizer. É acima de tudo, uma palavra perigosa, capaz de originar verdadeiras catástrofes emocionais. Por isso, resolvi bani-la do meu vocabulário. Estou, aqui, hoje, a quebrar o exílio a que a confinei. Passo a explicar. Sou uma rapariga assertiva, que não tem medo de qualquer palavra. Quando sentia que estava na altura certa, não hesitava em dizer ao objecto do meu afecto “Amo-te”. Disse-o 4 vezes a quatro pessoas diferentes. E foi a desgraça.
O primeiro dos sujeitos, ficou branco como a cal, a primeira vez que a ouviu. Começou a gaguejar. Disse ser muito novo para essas coisas e acabou com o romance. Não valorizei. Afinal, o rapaz apenas tinha 15 anos, tal como eu. Pensei:
- Se calhar foi cedo demais.
Voltei a dizer amo-te, uma série de anos mais tarde. Tinha 20 anos. Namorava há 6 meses com um colega de faculdade. Um dia, enquanto víamos o pôr-do-sol, numa esplanada da Foz, disse-lhe carinhosamente: - Amo-te tanto. Ficou comovido. Com os olhos marejados de lágrimas. Respondeu-me que também me amava. Passados dois dias, apareceu-me com um anel de noivado. Já tinha tudo planeado. Iríamos casar daí a 3 meses. Viveríamos num anexo ao fundo da casa dos seus pais. Teríamos claro, que trabalhar a meio-tempo, deixando de dar prioridade à faculdade. Pouco a pouco fui-lhe mostrando que era um plano algo arriscado e que deveríamos ter alguma cautela. Entendeu-o como uma rejeição e acabou o namoro 15 dias depois. Obrigou-me a devolver-lhe o anel, com muita pena minha. Já me tinha afeiçoado.
A terceira pessoa a quem disse amo-te, entrou na minha vida por acidente. E quando digo por acidente, quero mesmo dizer que foi devido a um acidente. Pouco tempo depois de ter acabado o namoro com o senhor nº 2, tive um acidente de carro. O rapaz que conduzia o outro carro era lindíssimo. Foi um verdadeiro cavalheiro na condução das negociações face à participação às companhias de seguros. Trocamos contactos telefónicos. Resolvida a situação, telefonou-me e convidou-me para tomar um café. Acedi. Daí até começarmos a namorar, foi um passo rápido. Durante 3 meses vivemos dias de entendimento perfeito. Um dia, estávamos no cinema, e no meio de uma cena romântica disse-lhe em surdina, ao ouvido, a fatal palavra. Amo-te. Não me respondeu. Ficamos em silêncio o resto do filme. Em silêncio continuamos enquanto me levava a casa. Em silêncio nos despedimos. No dia seguinte recebi um e-mail, de conteúdo algo desagradável, no qual me chamava rapariga leviana. Ao que parece, o rapaz ficou zangado por considerar que não era aquele o local próprio para se dizer tal palavra. Acabou o namoro por e-mail e pediu-me que não mais o procurasse.
A última vez que  disse a trágica palavra, foi há muito pouco tempo. E desta vez, foi com um objectivo algo diabólico. Namorava com um rapaz há uns meses. Estava um bocado entediada e não via forma de me livrar do mesmo. O rapaz idolatrava-me cada poro da pele. Não me largava um só segundo. Sufocava-me com as suas atenções. Um dia, resolvi testar a hipótese que tinha desenvolvido já. A hipótese de que a palavra amo-te é catastrófica. Numa despedida ao final da noite lancei: –Amo-te. O pobre rapaz ficou tristíssimo. Não aceitava que tivesse sido eu a primeira a dizê-lo. Queria ter sido ele. Os sentimentos que tinha desenvolvido por mim eram de tal ordem, que procurava o conjunto de palavras certo para se declarar. Naquele momento eu tinha-lhe retirado tal oportunidade. Encetamos uma discussão acerca do assunto, que culminou com um: “-Assim não dá.”, da minha parte. Acabamos o namoro após 3 dias de reflexão.
Desde então, aboli a palavra amo-te do meu vocabulário. Não mais a usarei.
A versão te amo, em português do Brasil será uma experiência a considerar. Mas parece-me que o resultado será igualmente catastrófico.

1 comentário:

  1. Quando disse a palavra "amo-te" ao meu namorado (actual marido) ele ficou radiante, pois já a dizia há algum tempo na esperança que eu a dissesse também. E estamos juntos há 11 anos...

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