Foram-me necessários muitos anos e esforço para conseguir estruturar aquilo a que os psicólogos têm por hábito apelidar de auto-estima e que eu, que também pertenço à trupe mas não gosto do prefixo auto porque me lembra sempre algo mecânico, prefiro chamar de capacidade de amor próprio. Quando olho para trás vejo-me numa puberdade tardia e despojada de roupas de marca, a tentar capturar do ar partículas gasosas de gostar, tarefa que se revelava árdua para uma amadora, uma vez que as danadas das moléculas invariavelmente incolores e inodoras, à mais pequena distracção, aproveitavam para escapar do balão onde eu as guardava e, num ápice, misturavam-se com o resto do ar, exigindo que se começasse tudo de novo, desde o início, uma e outra vez. Com o tempo, e à custa de muita pesquisa, fui desenvolvendo habilidades de alquimista e aprendi a condensá-las, uma por uma, a torná-las palpáveis, quase sólidas. Hoje em dia é muito difícil deixar escapar uma que seja, tal é a forma como as consegui unir numa estrutura com magnetismo dinâmico, que se reestrutura a cada passo, reconfigurando-se sempre numa forma evolutivamente superior. Durante este caminho que fui percorrendo aprendi também que tudo isto apenas resulta se se centrar no nosso âmago e que os outros, na maior parte das vezes, só lá estão para estorvar. Por isso, carrego sempre comigo uma borracha e um cobertor. Quando sinto uma beliscadura trato logo de a apagar. Já os afagos, envolvo-os no cobertor e carrego-os no colo, sem nunca deixar de os mimar.
(E isto tudo para dizer que aquilo não passou de um embuste, que a minha mãe detesta flores de plástico e que há gente que, mesmo que tenha os dentes cheios de insectos, continua a ser a mais gira de todo o "meu" espaço virtual.)
Sem comentários:
Enviar um comentário