Resolvi fumar um cigarro nas escadas do jardim.
Tenho a companhia dos meus gatos. O meu gato preto e o gato branco que por vezes me visita.
Tenho a companhia do meu leitor de mp3.
Tenho a companhia deste lugar onde escrevo.
Podias cá estar tu, mas não queres. Já não me queres.
Começou a dar MGMT - Time to pretend. Nem de propósito.
Ouço
"sinto-me dura, sinto-me crua"..
"mas não há nada que realmente possamos fazer,
o amor deve ser esquecido a vida pode sempre começar de novo"
Vejo ao longe milhares de luzes.
Lembro-me que te disse "Vem cá, espreita. Da minha casa pode-se ver o mundo todo"
E tu sorriste. Não percebeste realmente o que te disse. Não percebeste grande parte das poucas coisas que te disse. Não percebeste que tens tanto para aprender e que eu poderia ser a tua mestra. Preferes guardar-te na tua simplicidade.
Olho para o prédio que detesto, porque me tapa o mar. Dezoito andares de vidas. Janelas com luzes, janelas com escuridão. Gente a comer, a ver televisão, a copular. Pessoas a amar e a odiar, Vidas sem sentido, para além do instinto de viver.
Vais crescer, vais perceber, vai ser tarde.
Ainda sinto o teu cheiro na minha pele. Quero libertar-me dele. Não consigo.
Apago o resto do cigarro no cinzeiro. Desligo o leitor de mp3. Levanto-me. Entro em casa. Fecho a porta.
Vou fechar este lugar onde escrevo. Vou pôr a minha vida em suspenso.
Quando assim se está, a dor deixa-se esquecer. Fica encerrada. À espera de ser libertada.
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