quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Era uma vez...

Há dias em que me parece que acabei de nascer.
Há dias em que me parece que estou quase a morrer.
Hoje é o dia do meu aniversário. Completo 79 anos. E, incrivelmente, tenho apenas uma histórias para contar.
Acabei com a minha vida no dia em que fiz 16 anos. Continuei a sobreviver, mas não mais me permiti viver.
Não acreditam? Eu conto.
Era uma adolescente comum. Tinha 15 anos. Estava quase a completar 16. Sentia-me como qualquer outra adolescente. Uns dias alegre, outros deprimida. A adolescência é por excelência, a idade maníaco-depressiva. Qualquer coisa nos faz a pessoa mais feliz do mundo, qualquer coisa nos faz sentir a criatura mais soturna e desgraçada na face da terra.
Naquele dia, estava à porta da escola que frequentava, quando, de repente, surgiu no horizonte um rapaz. Vestia um blusão de couro e trazia no braço um capacete para conduzir uma motorizada. Quando o vi, fiquei paralisada. Não porque fosse um rapaz muito bonito. Nem sequer era minimamente atraente. Fiquei paralisada, porque tinha no olhar uma luz que parecia querer incendiar tudo à sua volta. Nesse momento enamorei-me. Senti que esse seria o homem da minha vida. Que não poderia, alguma vez, amar outra pessoa.
Vim a saber, pouco depois, que se chamava Leonel. Soube-lhe o nome, porque se dirigiu a mim e me perguntou as horas. Não lhe consegui responder, não sabia identificar os números, ou o local onde os ponteiros do relógio se situavam. Tinha perdido a memória, e estava quase a perder os sentidos. Ele segurou-me evitando a queda desamparada...

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