domingo, 11 de outubro de 2009

Menino

Vês-me, ao longe, a aproximar. O teu sorriso ilumina-se.
Começas a procurar uma frase inteligente para me dizer. Pensas que é esse o caminho até mim.
O caminho até mim não existe.
Sorrio! Respondo-te qualquer coisa provocatória e continuo a andar. Por vezes paro. Dou-te alguma atenção. Depois continuo. Por vezes ignoro-te. Confundo-te.
Pões a língua de fora, em jeito de rebeldia. Fico desarmada. Rio à gargalhada. Incentivo-te.
És apenas um menino.
Encantas-te com a minha espontaneidade planeada. Vibras com a minha loucura sensata.
Eu sou o desafio que procuras.
Preocupas-te com o meu bem-estar. Guardas-me as costas. Cirandas à minha volta.
Queres-me com todo o teu ser. Desejas cada poro da minha pele. Procuras o meu cheiro, no ar que respiras. Anseias pelo som dos meus passos...
Não te aproximes mais. Luta. Foge. Afasta-te.
Não te deixes atrair pelas cores vivas, pelo brilho que liberto.
Eu sou a viúva negra, o escorpião, a louva-a-deus, a piton.
Sou desprovida de moral, de lealdade, de piedade.
Guio-me pelo princípio do prazer. Não olho a meios.
Uso os objectos do meu desejo como marionetas, e quando me canso, tranco-os no fundo de um baú velho.
Liberta-te de mim. Eu serei a tua perdição...

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