Na noite passada tive um sonho.
Estávamos sentados, lado a lado, num banco de madeira, ambos a olhar para o horizonte.
Tudo à nossa volta era púrpura. Um púrpura faiscante que me magoava os olhos. Um púrpura vazio de objectos.
Estavas calado, alheado. Com as costas muito direitas, as sobrancelhas carregadas, um olhar distante e frio.
E eu, sem compreender, falava em contínuo, sem sequer parar para respirar. Como se tivesse medo que os movimentos de inspiração e expiração, me desligassem. Como se temesse que o meu silêncio, pudesse fazer-me desaparecer.
Tu não ouvias, atentamente.
Cansei-me de falar. Calei-me de repente. Percebi que era inútil.
Levantei-me. Comecei a andar em direcção ao vazio púrpura. Não virei a cabeça para um último olhar.
Enquanto caminhava, também pairava sobre ti. Conseguia observar-te.
Não reagiste ao meu abandono. Não te moveste, nem um centímetro que fosse. Não tentaste deter-me.
Continuei a andar. Fundi-me na paisagem. Desapareci.
Continuei a pairar sobre ti. Aguardei um sinal. Permaneci.
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