Eu estava com um amigo. Tu chegaste e falaste com ele. Parecias ignorar a minha presença. Eu não conseguia desviar o olhar de ti.
Desmascaraste-me.
E a partir desse momento, foste tu quem não mais conseguiu desviar o olhar. Passaste a pousar demoradamente os olhos em mim, nos meus olhos.
Começamos a namorar-nos em silêncio.
Cruzávamo-nos por todo o lado, sem nunca proferir palavra. As palavras não seriam mais que um estorvo.
Comunicávamos com o corpo, com os olhos, com os gestos, com o sorriso. Contávamos um ao outro histórias infindáveis, inarráveis.
Todos à nossa volta nos conseguiam ler. Éramos transparentes. Negavamos sempre.
Viviamos em mundos paralelos, que seguiam mais ou menos juntos.Amávamos outras pessoas. Beijávamos outras bocas. Copulávamos com outros seres humanos. Mas sempre nos fomos leais. Sempre nos fomos fieis.
Houve um dia em que quase nos destruímos.
Cruzamo-nos por um acaso e falamos. Conversamos sobre banalidades. Trocamos contactos. Prometemos encontros. As palavras cumpriram o seu desígnio. Fizeram esmorecer o desejo.
Continuamos a encontrar-nos ora aqui, ora ali. Umas vezes propositadamente, outras por acidente. Continuamos a falar. Mas nunca mencionamos os gestos passados. Não são descritíveis, não são do domínio das palavras.
As palavras acabaram com o enamoramento.
A distância reacendeu a chama.
Já passaram quantos anos?15? 20? Mais? Menos?
Acabei de falar contigo. Uma pequena conversa à distância.
Chamaste-me para perto de ti. Recusei.
Brincamos a medo com as palavras. Reacendemos o romance. Retomamos o passado.
Continuamos a adiar novo encontro. Um adiar permanente da satisfação do desejo.
O prolongar da sedução...
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