Há pouco, num momento de insanidade temporária, resolvi assistir ao famoso programa Projecto Moda. Já tinha visto o primeiro episódio e considerado que não valeria a pena voltar a ver qualquer outro. Mas hoje, a curiosidade venceu e lá estive eu coladinha à televisão, enquanto passava alguma roupa a ferro.
Não vou falar da prestação da Nayma como apresentadora, porque sobre isso já muitos dissertaram, nem sequer das criações apresentadas, cuja caracterização implicaria um elevado gasto de vocabulário menos próprio.
O que me leva a escrever sobre este assunto, foi uma pequena conversa entre duas das participantes que ocorreu mesmo no final e que me catapultou para os meus anos de Faculdade.
Dizia uma das senhoras, que um dos rapazes apenas tinha conseguido qualificar-se graças à ajuda que a mesma lhe tinha dado. E continuava dizendo que se soubesse não o teria ajudado, porque ela mesma tinha corrido riscos de ser eliminada. Ao que parece, o trapinho do rapaz tinha obtido uma melhor classificação do que o da senhora que o ajudou a costurar, o que deixou a senhora em causa, bastante descontente e chorosa.
E esta conversa fez-me voltar aos meus 18 anos, altura em que frequentava a Faculdade. Eu era uma aluna excelente na Estatística, na Genética e nas Biologias. Mas quando se tratava de disciplinas de paleio, não tinha grande paciência, e sempre que podia baldava-me ou desviava a atenção nas aulas para outras coisas, e por isso não tirava grandes apontamentos. Ora, um belo dia, quando pedia a uma colega de curso que me emprestasse o caderno para fotocopiar e estudar para o exame, ela respondeu-me aos gritos e com as lágrimas nos olhos:
- Nem penses. Se eu te emprestar o caderno, tu ainda tiras outra vez melhor nota que eu.
Eu agradeci e assegurei-lhe que não voltaria a pedir.
Continuei, tal como até aí, a ajudar os colegas nas disciplinas que para mim eram mais fáceis, e encontrei forma de ter apontamentos das disciplinas menos agradáveis. Continuei a tirar melhores notas que a colega que me recusou os cadernos. Mas penso, que ainda hoje ela não compreendeu que as minhas notas se deviam ao facto de as possuir competências cognitivas superiores às suas. E quanto a isso, ela nada poderia ou pode fazer.
Moral da história: Passar roupa a ferro ininterruptamente faz mal ao cérebro e conduz a comportamentos desadequados. A melhor terapia é ver de seguida vários episódios da série Lie to me. Ainda por cima, se começarem com banda sonora do Leonard Cohen.
Fez lembrar-me o "meu" episódio da faculdade de mesquinhez e, até, má-criação.
ResponderEliminarO professor, irritado por quase todos os alunos terem tido más notas na sua disciplina, exceptuando 3 alunos - "infelizmente" eu era uma delas e era uma das alunas mais discretas da turma, já que havia algumas vedetas apoiantes da fama dos 15m - coloca-se à procura dos alunos; pede mesmo para levantarem a mão e eu continuo na minha cadeirinha tentada a afundar-me ainda mais, quando uma colega começa às cotoveladas e diz para me apresentar. Acenei-lhe que estava bem assim, como quem não precisa desse reconhecimento. Continuei em silêncio, mas a colega não. Na inocência e timidez dos meus 20 anos levei com uma resposta parva após os colegas me terem identificado por uma das alunas "vedetas": "professor, é melhor voltar a corrigir o meu exame, deve ter lá outro 17 certamente!". Eu fiquei envergonhada. Ela não. Hoje continuo a pensar que sou boa pessoa, apesar de ainda tímida, mas menos tímida e talvez mais assertiva. Ela não passa de uma senhora malcriada que tem um pai conhecido...só isso.
Gostei muito do seu blog! Fiz uma leitura rápida, mas estou certa que serei visita assídua.
Obrigada por me lembrar que sou boa pessoa acima de tudo. Parece que não há mesmo coincidências.
Beijinhos grandes.
BT
BT,
ResponderEliminarQuem agradece sou eu, as palavras simpáticas que me deixou e a paciência para ler os meus devaneios.
Vá aparecendo e comentando. As boas pessoas são sempre benvindas.
:-)