segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

"...pensava em ti e em que sorte era a tua..."

Quando a debilidade me invade, em noites solitárias,deixo-me vencer pelo cansaço e desisto de domar a psicose delirante que me assalta. Entrego-a si mesma, sem contudo a libertar completamente das barreiras que lhe imponho, porque nem a fraqueza extrema me priva da dose prescrita de bom senso. Numa atitude esquizofrénica de desapego aprisionante, ao género - não te quero lá grande coisa, mas também não te deixo ir,  permito-lhe que te leia com as lentes distorcidas do pensamento desejoso. [Pensamento desejoso soa-me a matéria que se cola às mãos exigindo urgência na higiene. A sensação de nojo incita a que renegue a língua mãe e promova o wishful thinking a anglicismo pretensioso. Desaprovarias certamente, tu que és tão zeloso do(s) teu(s) português(es). Tu que és tão simplesmente zeloso.] Sirvo-lhe em bandeja de banquete a criatividade que me transborda por todos os poros, e incito-a a que te torne em tudo o que jamais poderás ser. Ela, desejosa de me agradar, trata de escolher criteriosamente, de entre as palavras que usas, aquelas que me convencem que sou musa proibida; lê, no amor e no ódio que persegues dia após dia, um sucedâneo dos afectos que me recusas que desvele; gramatiza, na indiferença, no silêncio, a expressão do desejo sublimado pela razão. E consome horas nesta cruzada, afadigada, afadigando-me até ao limite das forças, até que o repouso chegue e o recobro do vigor me dote, de novo, do poder para a amordaçar.

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