À porta da livraria, na famosa Rua de Ceuta, lembrei-me da promessa e entrei. Fui direita à estante da ficção estrangeira traduzida, letra A. Espreitei e nada. Dirigi-me ao vendedor e perguntei se não haveria um exemplar escondido, na parte de trás da estante. O vendedor tirou alguns dos livros da frente para espreitar para trás e abanou com a cabeça. Ofereceu-se para ver se haveria algum exemplar numa outra das lojas da cadeia. Sentou-se ao computador e carregou nas teclas para efectuar a pesquisa. Para grande espanto meu, encontrou um exemplar perdido a cerca de mil metros daquele local. A meu pedido telefonou imediatamente aos colegas e pediu que me reservassem, referindo que "a senhora ainda hoje passaria lá para o levantar", conforme confirmado por mim. Agradeci, dei-lhe as boas tardes e saí da livraria.
À noite, passei pela outra livraria, aquela que dista um quilómetro da primeira, e pedi que me fossem buscar a encomenda. Entregaram-ma e perguntaram a medo se efectivamente pretendia ficar com ela. Percebi imediatamente porque me colocavam tal questão, e confirmei que sim. O rapaz atrás do balcão entregou-ma desconfiado. Peguei nela e informei-o que iria dar uma volta e regressaria depois para pagar.
Dirigi-me à secção de poesia e percorri a prateleira com os olhos. Nada de novo, nada de particularmente interessante. A não ser um livro fino, com uma lombada branca apenas manchada por uma pequena palavra escrita a negro, na zona inferior. Retirei-o da prateleira e tentei folheá-lo mas não consegui. As folhas estavam ainda presas entre si. Resolvi trazê-lo comigo. Paguei-o juntamente com a encomenda que tinha feito e regressei a casa.
Cabe agora fazer os esclarecimentos em falta.
A encomenda em causa é o Livro das Ilusões do Paul Auster. O único à venda em toda a cidade do Porto, com a capa em mau estado, e por isso comprado a preço de saldo, e por isso entregue a medo pelo rapaz da caixa. Não porque seja necessário, mas porque me apetece, vou escrever um e-mail a dar conta que já o tenho comigo e que o podem reclamar assim que queiram.
O outro livro, é uma colectânea de haikus, sobre as estações do ano, traduzida para francês. Certamente uma encomenda que alguém se esqueceu de levantar.
Acabei agora de lhe separar as páginas, enquanto bebia uma caneca de infusão de ervas digestivas. Vou já deitar-me e ler dois ou três dos poemas. Há que doseá-los, pois são preciosos.
E com tudo isto, resta-me apenas finalizar.
Ainda bem que eu cumpro as minhas promessas. Ainda bem que há pessoas que não gostam de livros com ar usado. Ainda bem que há criaturas que não levantam os livros que encomendam.
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