sábado, 26 de março de 2011

Sei do que falo...

...quando lhe digo o que é percorrer meia-hora de caminho a pé, até à escola, com seis anos de idade, fosse qual fosse o estado meteorológico, porque apesar de haver um carro velhinho à porta de casa, não havia dinheiro para a gasolina.
...quando lhes digo o que é nunca ter tido uma peça de roupa de marca durante a adolescência, e ser olhada pelos colegas como a extraterrestre do grupo.
...quando lhes digo que li todos os livros que existiam em casa, por várias vezes, incluindo entre eles os Lusíadas, porque não havia dinheiro para comprar outros.
...quando lhes digo o que é comer na pior cantina da faculdade, para ter mais tarde dinheiro para o café.
...quando lhes digo o que é um primeiro trabalho em que praticamente só se ganha para os transportes, mas do qual não se abdica porque é importante trabalhar.
...quando lhes digo o que é ter três trabalhos a recibos verdes em simultâneo, que nos ocupam todas as horas do dia, porque temos que amealhar por não sabermos como será o dia de amanhã.
...quando lhes digo que troquei um trabalho de sonho, pelo sonho da estabilidade que ameaça ruir todos os dias.
...quando lhes digo que conheço o valor do trabalho, quanto mais não seja, porque lido todos os dias com o desemprego.
...quando lhes digo que não há uma "geração à rasca". Há "pessoas à rasca", mas nem sequer são, na sua maioria, os jovens, mas sim os seniores que perderam o emprego e que embora sejam novos para a reforma, são considerados velhos demais para trabalhar.

(porque não gosto de deixar comentários pertinentes sem resposta e porque as minhas verdades são minhas e não têm que ir de encontro às verdades dos outros)

5 comentários:

  1. Sim, por pior que estejam as coisas para os mais novos o mais desesperante é a situação dos que perdem o emprego depois dos 45 anos. E a figura do emprego estável, seja ele onde for, também já não existe.

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  2. Até porque os estagiários da "geração mais qualificada de sempre" desses jornais fora irá certamente escrever que as próximas eleições serão as com maior "aderência" de sempre. ;)

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  3. Olha quem por aqui anda. É mesmo o patife, o único e verdadeiro. Benvindo!

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