sábado, 5 de março de 2011

As minhas verdades

Não sou exemplo para à geração “à rasca". Tenho um emprego estável, um vencimento razoável e a viagem entre casa e o trabalho demora-me, na pior das hipóteses 10 minutos. Não tenho dívidas. O que ganho permite-me sustentar-me e ainda juntar uns trocados para um luxo ocasional. Posso afirmar que tenho uma qualidade de vida muito boa.
Como disse, apesar de nem sempre ter tido estas condições de vida, não sou exemplo. Mas alguns dos meus amigos são. E posso falar-lhes daquele que deixou a família cá em Portugal e emigrou para África, para poder juntar algum dinheiro, uma vez que cá no país não conseguia as condições de emprego que pretendia. Ou posso falar-lhes de um outro que trabalha a cerca de 60 quilómetros de casa, e cuja quase metade do vencimento, por não ser tão elevado quanto isso, fica no caminho, em combustível e portagens. Isto porque os horários que tem nem sempre lhe permitem usar os transportes públicos. Ou a outra que trabalha em dois sítios, porque apesar de um deles lhe garantir o sustento, não quer que nenhuma porta se feche e portanto mantém um segundo emprego que lhe dá dores de cabeça e um lucro monetário quase nulo. Ou então posso falar-lhes de uma outra, que por amor veio do Leste, onde tinha um emprego relacionado com a sua formação e que lhe conferia elevado prestígio, e que chegada cá, porque queria contribuir para a economia doméstica, aceitou trabalhar como empregada de balcão até conseguir, à custa de muitas batalhas e enorme esforço, encontrar trabalho na sua área de formação de nível superior.
Estes são os meus amigos, que nunca se queixaram que estão à rasca, porque fazem pela vida. Não terão uma vida fácil, mas têm a dignidade de quem fez tudo o que estava ao alcance para não depender de terceiros.
Desculpem-me a sinceridade, mas em grande parte dos casos, neste momento, não me parece que estejamos perante uma geração "à rasca", mas sim perante uma geração de "atados", que pouco ou nada faz, para que a vida lhe corra melhor.

7 comentários:

  1. absolutamente de acordo. Sem dúvida que nada é fácil. Mas também nunca foi. Olho para a inércia de muito boa gente e ocorre-me que nem no reino das oportunidades deixariam de estar enrascados.

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  2. Sem dúvida que sou. Tenho amigos muito especiais.

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  3. Mas a geração "à rasca" é também isso: jovens que têm de fazer pela vida, arranjar um segundo emprego, abdicar de coisas que lhes são valiosas, correr atrás de oportunidades cada vez mais precárias para alcançar alguma dignidade. O facto de não se queixarem não significa que não estejam "à rasca". Ou que não tenham motivos para.

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  4. Em meu entender Valter, e respeitando a sua opinião, isso não é estar "à rasca", isso é viver, com todos os constrangimentos que a vida nos traz, e que apesar de tudo, se calhar são um bocadinho menos do que aqueles que os nossos antepassados, pais, avós,... tiveram que enfrentar.

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  5. Ah! Mas se quiser, podemos discutir isto mais a fundo na segunda-feira, antes ou depois da Fotografia Digital. ;-)

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  6. Eu sou daquelas que tem dois empregos e me esforço muito para poder ter um salário digno ao fim do mês, não é por isso, e por ter uma vida melhor que a dos meus antepassados que não me considero "à rasca". Geração à rasca sim! Sou licenciada e trabalho das 8h às 23h todos os dias, ah! e a recibos verdes, que também é sempre bom, não tenho luxos, muitas das vezes nem tempo tenho para luxos. A senhora tem muita sorte por ter emprego estável e portanto parece-me que não sabe do que fala.

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