Design_by_Postalfree_Isabel Pinto Coelho
Após mais um almoço na minha esplanada da praia, naquela em que os empregados já quase me conhecem pelo nome, e depois de esgotar todos os minutos que tinha à disposição, dirijo-me ao balcão para pagar a conta, de forma mais célere, na máquina do dinheiro. Enquanto espero que o aparelho me cuspa a tira de papel que me informa que estou uns euros mais pobre, olho distraidamente para um expositor que se encontra no fundo da sala. É um daqueles escaparates que alojam postais gratuitos. Embora nunca tenha tido grande interesse pelo conceito, não posso deixar de reparar num trio de manchas vermelhas que sobressaem no meio do conjunto de cartões. Ao longe, e devido à minha falta de visão, são apenas manchas. À medida que me vou aproximando, os borrões vão tomando a forma de coração. Estico o braço e recolho um dos postais e regresso ao balcão para receber o recibo comprovativo do pagamento. Carrego o postal na mão, sem voltar a olhá-lo. De volta ao carro, deposito-o em cima do tablier e regresso ao trabalho. Deixo-o no local onde o coloquei, durante dois dias. Ao terceiro, resolvo traze-lo para casa, sem saber muito bem porquê ou para quê. Coloco-o em cima da mesa do escritório. Olho-o através de diferentes ângulos. Estas composições gráficas de cariz algo abstracto, causam-me sempre uma sensação de angústia, pois por muito que consiga perceber o que significam para mim, nunca conseguirei ter a certeza do que pretendia o autor quando as desenhou. Sei os sentimentos que os seus estímulos me causam, os pensamentos que me fazem brotar na mente, mas interrogo-me sempre se a intenção do autor, aquela que ele tinha ao riscar o papel com lápis e tintas, seria a mesma que eu lhes atribuo. Chego a ir mais além e a questionar-me acerca das propriedades explicativas da realidade que emanarão destas imagens. E neste caso em particular pergunto-me: - Será que é nesta imagem que reside a prova final de que na disputa entre o amor e tudo o resto que o tenta aniquilar, o amor sai sempre vencedor?
Seria tão fácil se eu fosse supersticiosa e acreditasse que um ente superior nos vai colocando à frente dos olhos os mapas com os caminhos da vida, mas percebo que apenas consigo ser céptica e digo para mim mesma que o postal está muito bem desenhado.
Não me importa se a isso se chama superstição, mas eu gosto de pensar que é o destino a sintonizar connosco!
ResponderEliminarSó tu Su, para me fazeres voltar à terra.
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