segunda-feira, 28 de março de 2011

Pensamentos

Ouve o despertador a tocar e pensa que ainda é demasiado cedo, que não quer acordar, que não lhe apetece mais um dia de trabalho. Faz ronha debaixo dos lençóis deixando passar minutos preciosos que lhe irão fazer falta, quando a hora de entrada no trabalho se for aproximando. Dá um salto abrupto para fora da cama, pois essa é a única forma de os músculos contrariarem as células nervosas que comandam a vontade. Dirige-se para a banheira e pela primeira vez no dia pensa nele. Sente que um sorriso lhe irromper nos lábios, deixando à mostra os dentes irregulares. Recorda-se do sorriso dele. Recorda-se de como gosta de o ver sorrir, de como o seu rosto se torna luminoso e imaterial quando sorri.  Agarra com uma mão na torneira da água quente e com a outra na torneira da água fria. Começa a rodar ambas até que a  água atinja o ponto térmico adequado à sua pele. Entra na banheira e deixa a agua correr-lhe por si abaixo desde a raiz dos cabelos até à ponta dos dedos dos pés.  Pensa nele pela segunda vez no dia.  Lembra-se que ele deverá estar a deitar-se naquele momento, recorda-lhe o rosto ensonado de quem tem os horários trocados. Ensaboa-se com o gel de banho para bebés que partilha com a outra habitante da casa. Lentamente deixa de novo a agua correr-lhe pela pele para se livrar da espuma suave com que se cobriu. Pensa nele pela terceira vez no dia. Recorda-se das palavras que lhe escreveu na noite anterior e que jurou não lhe repetir "aprendi a gostar de ti com calma, com tranquilidade, sem pressas nem cobranças". Desliga ambas as torneiras, pega na toalha de banho e enrola-se nela. Procura o creme hidratante. Pensa nele pela quarta vez no dia. Percebe que é ele quem está a ensiná-la a gostar sem ansiedades, sem imposições, sem medos. Começa a espalhar o creme hidratante pela pele. Aspira o aroma que ele liberta. Pensa...

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