domingo, 11 de setembro de 2011

História(s) Urbana(s)

Pegou no telefone e com o dedo percorreu a lista avaliando as opções. Parou mais a menos a meio do alfabeto, onde encontrou uma garantia de sucesso com nome de antigo goleador. Carregou na tecla verde e aguardou pelo segundo toque, momento em que sabe é sempre atendida, tal é a pressa dele em falar-lhe. Convidou-o para ir ao cinema. Ele, tentando manter o orgulho de macho, disse-lhe que não sabe se poderá, que tem umas coisas mais ou menos marcadas. Ela, sabedora do seu poder sobre ele, disse-lhe desinteressadamente que não tem importância e começou a despedir-se. Ele voltou atrás e aceitou o convite. Ela despediu-se deixando no ar uma promessa dúbia. Ele desligou guardando dentro de si a esperança eterna. Ambos sabem que esta noite não será mais do que  um balão de oxido nitroso partilhado, cujo efeito acabará antes do tempo. Mas ela precisa de alguém que lhe segure na mão cada vez que o galã beijar a rapariga, de alguém que a afaste do fogo de artifício que irá cruzar o seu céu tarde na noite, de alguém que lhe recorde que está a aproximar-se perigosamente do ponto de não retorno na direcção do abismo. Ela necessita de alguém que a proteja de si própria, mais do que do mundo. E ele apenas necessita dela para se sentir vivo.

2 comentários:

  1. Psicologia (auto-)aplicada a si mesma? Já vi(vi) essa cena. Não dá resultado, precisamos de algo mais profundo que nos faça sentir(mo-nos) realmente vivos. Nem todas as mãos são "mãos". Sem abismos ;)

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  2. A psicologia auto-aplicada nunca tem efeito, e a realidade nem sempre imita a ficção. :-P
    Mas uma coisa é certa. Tem que haver sempre um abismo. Ela não sabe viver sem eles.
    (já tinha saudades)

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