sábado, 30 de outubro de 2010

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Leituras arbitrárias

Os primeiros que o leram pensaram: "É comigo que ela sonha"
Os segundos cogitam: "Ela sonha com um dos primeiros"
Os terceiros dizem em voz alta: "Ela não sonha. É tudo um embuste."
O último sorri e exclama para os seus botões: "Não é comigo que ela sonha"
Nenhum deles sabe do que fala. Nenhum deles acerta  no alvo.

Ao telefone

Estás a 100 metros de mim. Demasiado longe. Quase inatingivel.
Pego no auscultador do telefone e marco o dígito que me dá acesso à tua atenção. Atendes. Imediatamente dizes:
"- Já tinha saudades da tua voz doce. As outras sãos sempre tão rudes."
Apenas consigo responder-te um:
"Oh!" e enquanto sinto os músculos a derreter, esqueço-me da desculpa que arranjei para te ligar.

Até amanhã

Tem vontade de esperar mais um bocadinho, até que ele chegue.
Sabe que a recompensa virá em forma de sorriso aberto, daqueles que saem do interior. Sabe que o hipotálamo lhe será inundado de euforia.
Mas a pouco e pouco, começa a fechar os olhos. Sente que os ruídos-ambiente se tornam cada vez mais distantes. Tenta resistir, abrir os olhos. Não quer adormecer. Quer esperar e voltar a sentir a sua presença ali ao lado.
Fecha de novo os olhos. Curtas imagens oníricas povoam-lhe as células cerebrais. Aos poucos ele vai entrando nas imagens que o cérebro lhe transmite. Já o tem ali. Já não necessita de esperar. Deixa-se adormecer.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

domingo, 24 de outubro de 2010

Antecipação

Virei as folhas do poemário do Mário Cesariny, que está esquecido em cima da minha secretária, até ao dia de amanhã. Esperava, qual horóscopo uma previsão do futuro. Encontrei este desconcertante redemoinho.

"Todo o visível adere ao invisível, tudo o que pode estender-se ao que não pode estender-se, todo o sensível ao insensível. Talvez tudo o que pode pensar-se ao que não pode pensar-se."

Novalis (1772-1801), Fragmentos. (tradução de Mário Cesariny)

Quem diria.

É o meu maior aliado, este Outono disfarçado de Primavera, que não permite que as nuvens se instalem e obriga o sol a aquecer-me o corpo com o seu brilho.
E tu, começas a derrubar as paredes do iglu que ergueram em meu redor, usando apenas o olhar. E começas a aquecer-me a alma gelada usando apenas o sorriso.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Que tal te parece?

Chique não era bem a palavra que eu espera ouvir.
Chique não era a palavra que tu querias usar.
Mas a prudência meteu-se entre ti e mim.
Chique, dadas as circunstâncias, poderá ser um bom começo.

Os meus dias também são quadrados

Amaldiçoava o sistema. Invocava todas as instituições. Jurava a pés juntos que não lhe tinha sido enviada qualquer carta a convocar a sua presença. Afiançava, quando se colocou a hipótese de estravio, que recebia toda a correspondência que lhe era remetida. "- A culpa era daquela Senhora Doutora. De certeza que não tinha mandado a carta. - vociferava com ar furioso"
A Senhora Doutora, com toda a calma que lhe é inata, foi aos arquivos e encontrou o registo da missiva que tinha enviado. Mostrou-lhe as provas.
A criatura empalideceu. Tinha fornecido a morada de um familiar, que já não visitava há alguns 3 meses. Não conseguia compreender como tinha feito tal erro. Era efectivamente a sua caligrafia. Amansou de imediato.
A Senhora Doutora com a sua paciência, resolveu-lhe o problema e passou a ser a sua melhor amiga, uma alma a defender para todo o sempre.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Conquistas

No processo de conquista, o momento alto, para ela, é aquele em que o objecto a conquistar nega com todas as palavras e acções que está a sucumbir, para depois, apenas com um olhar, confirmar que acabou de se perder nela.
Ela é tão boa a ler os olhares!

Olhares

Há algumas semanas atrás, disse-te em tom de provocação que tinhas ficado com os olhos a piscar como uma slot machine, quando ela se cruzou contigo. Ripostaste, negando veementemente que tal fosse verdade. Os teus amigos vieram em teu auxílio, de imediato, confirmando a veracidade da tua posição e deixando no ar pistas misteriosas acerca do objecto da tua afeição.
Hoje, no final do dia, percebi que te tinha estado errada. Hoje, os teus olhos pararam no ar para fixarem um outro olhar. Hoje, os teus olhos pareciam um barco à deriva num mar revolto, ou assemelhavam-se a duas estrelas cadentes perdidas num universo imenso. Hoje, preferi calar-me e não te dizer palavra. Apenas te devolvi um olhar mascarado de timidez, como se estivesse a entreabrir uma porta. E quando te preparavas para me fazer responder a todas as dúvidas, virei costas e parti.

O rigor, a exactidão...

Ainda dizem que os nosso jornalistas não são rigorosos.

Informação de última hora (ou verdade de La Palisse)

A melancolia corrói a graça e o sentido de humor.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Adeus

Dei por mim a preparar criteriosamente a roupa que vou vestir amanhã. Cada pormenor foi escolhido com minucia para que, no final, o conjunto esteja a raiar o perfeito. Amanhã será a prova de fogo. Estarei, de novo, algumas horas à sua frente. E durante esse tempo, farei tudo para que ele me percorra com os olhos, e deseje cada pedaço de pele que calculadamente deixarei a descoberto. Vou sorrir-lhe, desafiá-lo com palavras enigmáticas, fixar-lhe o olhar até à exaustão, incentivar-lhe os gestos de aproximação. Vou aumentar exponencialmente o seu querer, provocar-lhe a reacção que me convêm.
Enquanto isso, tu vais estar a procurar-me. Sem saberes o que me faz ausentar, vais procurar-me, mais uma vez, apenas nos locais óbvios.  Nos locais onde eu não estarei.
Porque amanhã, vou estar a cumprir a promessa que te fiz. Vou colocar-me em cima do pedestal que ele me erguerá e trancar-te no baú da minha memória. Naquele de onde nunca deveria ter-te deixado sair.

Ouvir sem preconceitos

Causa-Efeito

Ele ameaçou.
Ela pediu-lhe que não concretizasse a ameaça.
Ele fez "orelhas moucas" e tratou de pôr em prática o plano.
Ela ficou triste, refugiou-se no casulo, e desta vez só sairá de lá borboleta.
Ele? Sabe-se lá. Já não se sabe há muito. E não tarda, não se quererá voltar a saber.

domingo, 17 de outubro de 2010

A casa dos homens maus

Já conhece os cantos à casa, mas cada vez que toca à campaínha da porta, fa-lo com um misto de excitação e curiosidade. Nunca sabe o que vai encontrar em cada visita. Já não fazia uma visita há cerca de 2 anos, mas ainda se recordavam do seu rosto. Esqueceu-se de que terá que passar

Segundas oportunidades

sábado, 16 de outubro de 2010

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Definições

"...ora mau é esse amante segundo o Eros vulgar, mais enamorado corpo do que da alma; é que não há nada nele de estável, visto que nada de estável é objecto do seu amor, e, desde que o corpo perdeu a flor da sua perfeição, "desprende-se e voa" renegando sem pudor tantas belas palavras tantos compromissos. Pelo contrário, aquele que está enamorado da beleza do carácter, assim fica toda a vida, visto que é à estabilidade que se agarra."

O Banquete, Platão. 380 a. C.

"O amor é uma entidade emotiva especifica, consistindo numa variação mais ou menos permanente do estado afectivo e mental de um individuo, na ocasião da realização - pela acção fortuita de um processo mental especializado - de uma sistematização exclusiva e consciente do seu instinto sexual, sobre um indivíduo do outro sexo. Na maioria das vezes, este fenómeno não se produz sem exaltação do desejo."

A psychologia do amôr, Gaston Danville. 1894

"É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É ter com quem nos mata lealdade"

Rimas, Luis de Camões. 1595

Em terras do Sul

O meu querido António e os seus companheiros estarão no próximo sábado em Santiago do Cacém, a fazer aquilo que melhor sabem.
Eu já vi o trabalho deles e adorei.
Vocês têm oportunidade de ver agora. Espreitem aqui e aqui.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Spider girl is having you for dinner tonight

Diálogos simples

-Tenho saudades tuas - digo eu.
-Eu também tenho saudades tuas - dizes tu.

(E é tão simples. Não é necessária uma equação de 3º grau como resposta. Um "idem aspas" é mais que suficiente.)

domingo, 10 de outubro de 2010

I went to Disneyland

















(É um exagero, eu sei, mas foi impossivel escolher)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Reunião de trabalho

Deixaram-na mais de meia hora à espera, pois foram almoçar não sei onde, local onde se comia muito bem. Ela já estava "a ferver" quanto baste, só por ter que estar presente, mas o atraso deixou-a furiosa. Entraram todos, com um ar algo comprometido. O mais próximo piscou-lhe o olho em sinal de cumplicidade. Ela atirou-lhe um sorriso entre o gélido e o "estás quase perdoado", mas manteve o semblante carregado. Sentaram-se frente-a-frente. O mais distante iniciou o seu discurso de pessoa que se julga sábia, mas cuja conversa é sempre a mesma. O mais próximo provocou-o com uma verdade inabalável que ele não refutou. Foram questionando os presentes e obtendo as respostas que pretendiam.
Por fim, o mais distante perguntou-lhe a opinião. Ela respondeu com segurança e exactidão, revelando elevado conhecimento e competência acima da média. Destacou-se dos outros. Brilhou.
O mais próximo sorriu embevecido.  O mais distante estacou entre a admiração e a incredulidade. Não estava à espera de tanto. As mulheres que os acompanhavam não abriram a boca. Depois de concluída a sua intervenção, foi feita a síntese e foram todos dispensados.
Ela saiu de cabeça erguida e com o mesmo ar zangado com que entrou.
Gostou da sua prestação, mas sabe que o brilho que emitiu lhe vai sair caro. É a deixa para que a sua vontade não seja satisfeita, a razão por que ele lhe vai dizer “nem penses mais nisso”. E ela vai ficar exactamente onde está, e vai continuar a perder a graça, em cada ser humano que por ela passa.

Será que vale a pena?

I'm going to Disneyland



Para cumprir a promessa feita.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Banda sonora


Beleza roubada - Bernardo Bertolucci

domingo, 3 de outubro de 2010

Do alto da minha torre

Vejo-te o revejo-te dia após dia.  Percorres incessantemente os caminhos que rodeiam as minhas propriedades. Procuras-me com afinco, mas sem eficácia.
Eu não quero que me encontres. Ou quererei? Enquanto decido, vou-me mantendo no esconderijo que elegi, atrás das cortinas que cobrem a janela. Meia escondida, meia descoberta.
Facilmente me encontrarias. Bastava que olhasses para cima. Mas continuas a olhar apenas em frente, vendo apenas aquilo que a cegueira te permite. E és (in)feliz assim.
E eu, enquanto brinco às escondidas, expulso do corpo o veneno que me faz arder as entranhas. O veneno com que me injectaste, quando de novo me procuraste.

sábado, 2 de outubro de 2010

A meio do caminho



Não é para todas,

e compreendo se me chamarem nomes feios, mas eu adoro fazer dieta.
É ver-me a comer lambarice atrás de lambarice, queijos e enchidos e massa e pão e outros alimentos ricos em hidratos de carbono e gordura.
Pois, porque a minha dieta é para engordar, claro.

Quem vem e atravessa a ponte

Maturidade?

Os cabelos brancos são como ervas daninhas. Aparece o primeiro e, por preguiça, não lhe ligamos muito. Um dia olhamos para o espelho e verificamos que se multiplicaram e tomaram conta do couro cabeludo.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Que bem que me soube.

A preguiça, mãe de todos os defeitos, quase não me deixou sair de casa. Aliás, nem sei muito bem como nem quando me decidi a sair, pois só dei conta que estava na rua quando já tinha o carro a trabalhar.
E já que estava na rua, lá fui eu.
O serão adivinhava-se simples, quase coisa de "cromos", mas acabou por ter muito interesse. Fui ouvir o João Tordo dissertar sobre o novo livro "O bom inverno", e a Maria do Rosário Pedreira anunciar as suas qualidades de escritor. O discurso de ambos foi inteligente, apurado, complexo, mas acessivel e humorístico, ao mesmo tempo. Soube-me bem ouvi-los. Assim como me sabe sempre bem lê-los.