domingo, 28 de março de 2010

Os livros da minha vida

Há algumas coisas na minha vida que são estruturantes e sem as quais eu seria uma rapariga muito infeliz. A leitura e os livros pertencem a esse conjunto de coisas.
Cada vez que entro numa livraria, sinto-me como fosse uma criança numa loja de doces. Percorro os corredores, observando atentamente os escaparates, procuro novos autores, folheio aquele livro que tinha uma crítica favorável naquela revista, tento descobrir alguma pechincha de um dos meus autores favoritos...e claro, na maioria das vezes não saio sem comprar algo. Há quem diga que eu tenho o vício de comprar livros. Eu não lhe chamaria vício, mas admito que está muito perto de o ser. E por isso, a minha biblioteca já tem alguma dificuldade em encaixar-se nas estantes cá de casa.
Durante a infância e adolescência devorava todos os livros que me apareciam à frente. Nunca saía de casa sem um livro, e sempre que tinha algum tempo livre, lá estava eu a ler. Agora que sou mais crescida, agora que tenho menos tempo livre, os meus hábitos de leitura modificaram-se. Dispenso menos tempo à leitura, e apenas leio apenas os livros que me conseguem prender a atenção.
Durante a minha vida, tive oportunidade de ler centenas de livros. Alguns muito bons, alguns medianos e outros tão fracos, que me pareceria impossível que alguém os tivesse escrito e que outro alguém os tivesse editado. E isto leva-me à questão pela qual este post surgiu. O que é que eu aprecio num livro, mais concretamente  num romance? O que é preciso para que um livro me prenda a atenção e me faça passar um noite sem dormir? Quais são os livros da minha vida?
Como resposta à primeira pergunta, poderia referir um série de factores; personagens fortes, um enredo dinâmico, acontecimentos imprevisíveis... Mas no fundo, aquilo que realmente me prende e torna um livro especial, é a capacidade do autor, com a sua escrita, para me transportar para o local, para o tempo que descreve, fazendo-me sentir parte daquela narrativa.
Quanto aos livros da minha vida, e quebrando as minhas próprias regras, refiro-lhes apenas três. Os dois que ficam a faltar, ainda não os li.
Os meus livros:

- Ensaio sobre a cegueira - José Saramago. Neste livro, o autor parte de uma situação hipotética, para nos convidar a analisar os vícios e  contradições da sociedade. E se, um dia, acontecesse num país qualquer uma epidemia de cegueira. Como reagiríamos? A narrativa é a resposta a esta questão. O final é inesperado. Tal como a maior parte dos livros do José Saramago, também este é um livro escuro, duro e pejado de crueldade. As suas personagens são imperfeitas, intensas e perturbadoras. A narrativa é tão minuciosa que, apesar de irreal, nos transporta para um mundo que poderia existir a seguir à porta da rua.

- O livro das ilusões - Paul Auster. Uma mulher atormentada mas poderosa transporta o narrador e os leitores para o mundo mágico de um actor de cinema mudo. Essa mulher chama-se Alma Grund. À boa moda do Paul Auster, este é um livro que conjuga um mundo real com um mundo paralelo, onde acontecem as situações mais inimagináveis. É impossível parar de o ler. E quando acaba, apenas desejamos que exista um segundo volume.

- Memórias de Adriano - Marguerite Yourcenar. Nada do que possa dizer faz justiça a este livro. Como indica o título, retrata as memórias do imperador romano Adriano. Se nos esquecermos que a autora é uma mulher, acreditamos que é uma autobiografia, escrita por um homem que conduziu um império e que amou intensamente. Os pormenores relatados transportam-nos para o local e o tempo onde viveu, fazendo-nos reviver os acontecimentos de forma intensa e arrebatadora.

E para rematar, queria apenas dizer-lhes que não consigo compreender as pessoas que dizem que não vale a pena ler um determinado livro, porque já   feito um filme baseado no mesmo. Quando leio um livro, o filme vai sendo feito ao mesmo tempo. Comigo, apenas tenho o guião, e sou livre para fazer o casting, escolher os actores, produzir a cenografia e o guarda-roupa, e realizar o filme. E o operador de câmara é o reduto da minha imaginação.

4 comentários:

  1. Devo ser das poucas pessoas que não comparam os filmes aos livros, respectivos - ou vice-versa...

    Atrasaste-te!;)

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  2. Atrasaste-te!

    Sou das poucoas pessoas que não comparam os livros com os 'respectivos' filmes. Duas linguagens diferentes...

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  3. Eu atrasei-me mais ainda :) e a culpa não é só do Alentejo, mas já lá estão, os fabulosos "Cinco"

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  4. Os livros de uma vida... aposto que para a semana, pensaria noutros.. mas, assim de repente,

    - "Reviver o passado em Brideshead", do Evelyn Waugh

    - "La verdad sobre el caso Savolta", do Eduardo Mendoza

    - "No Fio da Navalha", do Somerset Maugham

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