Da janela da minha casa vê-se o mar.
Há quem diga que eu estou a alucinar, quando afirmo tal coisa, e que não se vê mar nenhum. Há quem diga que eu vejo mesmo muito mal ao longe, e que aquilo que digo ser o mar, não é mais que uma sombra. Contra tais declarações, eu continuo a afirmar veementemente que, apesar dos cerca de 10 kms que separam a minha casa da linha costeira, da janela do meu quarto eu consigo ver uma nesga de mar. E é exactamente nessa pequena fatia de mar que eu vejo da janela do meu quarto, que nesta altura do ano, tempo em que o inverno começa a dar lugar à primavera, o sol se põe, enterrando-se e desaparecendo calmamente linha do horizonte.
E no momento exacto em que o sol se prepara para começar a descer sobre o lençol de água salgada, naquele momento em que o dia se transforma em noite, em que o céu azul se transforma num manto de ternura acobreada e laranja, em que as pequenas nuvens brancas se tingem de um degradé de vermelhos e amarelos, nesse exacto momento, o meu pedaço de mar dá lugar a um espelho dourado, que emana uma luz capaz de encandear as criaturas mais incautas, capaz de encher de alma um peito vazio. Se noutras alturas poderia ter dúvidas, nesses dias, afirmo convictamente:
- Da janela do meu quarto vê-se mesmo o mar.
São os privilégios de quem mora no topo do mundo.
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