quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Acordar

Sozinha em casa, oiço a chuva a cair lá fora. Sinto o cheiro dos primeiros pingos a cair na terra seca. Um odor familiar, a chuva de verão. Um odor de dias felizes.
Abro os olhos. Uma luz ténue entra pelos orifícios da portada.
Fecho de novo os olhos. O gato ronrona, abre os olhos e move-se para se enroscar de novo. Sinto o calor do seu corpo, junto aos meus pés. Ao longe toca uma música hipnotizante, música de carrossel, de feira de diversões.
Não me apetece acordar. Passam-me milhares de pensamentos pela cabeça. Quero deixar de pensar. Quero esvaziar o pensamento e flutuar no vácuo. Não consigo.
Abro de novo os olhos. Olho para o relógio. Ainda é madrugada. O novelo de pensamentos adensa-se. Quero voltar a dormir e não consigo. Recordações de momentos felizes flutuam na córnea. Quero esquecer a felicidade que já senti. Ou que julguei sentir. Não consigo esquecer. A dor torna-se ainda mais aguda.
Levanto-me da cama. Deambulo pela casa. O gato segue-me miando. Tem fome. Está a ordenar-me que lhe dê de comer. Despejo os biscoitos na taça. dou meia volta e regresso à cama.
O músculo cardíaco bate descompassado, a um ritmo ora lento, ora veloz. Sinto uma vertigem. O chão foge-me debaixo dos pés.

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