É o meio da tarde. Estou sozinha em casa. Tu estás do outro lado do Mundo.
Vêm-me à memória fragmentos de ti.
O primeiro encontro. Um rapaz tímido, mas com fogo nos olhos. Um sorriso avassalador, que enchia o horizonte.
O último encontro. Um estremecer, o arrepiar de todos os pelos do meu corpo. Um abraço. Os teus lábios junto ao meu ouvido. O teu nariz junto ao meu pescoço. E uma frase que acabou com qualquer resistência que eu ainda pudesse ter.
Um concerto de uma banda que já não ouves. As mãos dadas às escondidas. O roçagar clandestino dos nossos corpo, na escuridão.
Uma sessão fotográfica na cozinha. Um beicinho. Uma birra de menina que não queira ser fotografada.
Uma viagem à praia. As mentiras contadas, para te encontrar. Um beijo ao pé do mar. A satisfação do desejo que nos incendiava.
Os discos trocados. Os livros emprestados. As coisas que nos ensinávamos.
Um fim-de-semana no Minho. Os olhares que queimavam. A tensão que crescia, e que os outros não conseguiam ver.
Uma tarde de carícias com a tua mãe na sala ao lado.
Conversas trocadas durante tardes inteiras, em dias de trabalho. As vezes que te fui buscar à sexta, ao trabalho.
As confidências que me fizeste. As histórias negras que me contaste. A dor que tentava acalmar com as minhas carícias. Os teus fantasmas.
A tua cabeça deitada no meu colo. A tua expressão de criança abandonada.
A despedida. As lágrimas que a seguiram.
O desejo que sentia quando estavas longe. Os teus beijos.
Ontem voltei ao local do nosso último encontro. Procurei-te por todo o lado. Sabia que não te encontraria, mas não pude deixar de procurar. Queria um sinal da tua passagem por lá, um indício de que estavas perto. Sentei-me no banco onde te vi. Acariciei-o. Imaginei que te estava a tocar. Senti o frio da pedra.
Deixo escapar uma lágrima, que leva consigo a certeza de que nada voltará a ser igual.
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