terça-feira, 29 de setembro de 2009

Regressos

Encontrei-me de novo com o Mar.
Sentei-me virada para a praia. Observo.
A maré está vaza. O sol começa a pôr-se. Centenas de gaivotas deambulam por perto, em voos rasantes, preguiçando na areia, embalando as ondas...
Na mesa ao lado estão um homem e uma mulher. A mulher narra um drama.
Duas crianças brincam na areia, junto à linha de água. Correm na direcção da agua, fogem das ondas, riem, gritam.
Um baloiço abana com o vento. As correntes rangem ritmadamente.
A mulher na mesa ao lado continua a falar ininterruptamente. O homem mantém-se em silêncio fingindo estar atento ao seu discurso. Tem um ar cansado. Não quer ouvir mais. O som das palavras está a tortura-lo. Quer apenas leva-la para a cama.
Ouve-se ao longe um ruído abafado. Um grupo de gaivotas levanta voo. Dezenas de asas batem simetricamente. Num rádio perto toca uma música latina que faz recordar tardes de verão ao sol.
O sol põe-se. Anoitece. As sombras reduzem-se até ao nada.
A mulher calou-se finalmente. O homem suspirou, aliviado pelo silêncio. Levantam-se e saem.
Estou sozinha.
A maré começa a encher. O ruído das ondas relembra-me o sabor do Mar. Sabor a sal e a peixe.
Observo-o embevecida. Sinto o seu odor. Escuto as palavras doces que me murmura. Enalteço as suas virtudes. Esqueço as suas imperfeições.
Enamorei-me de novo pelo Mar. Voltei a senti-lo em mim.
Porque não consigo voltar a enamorar-me por ti?

Sem comentários:

Enviar um comentário