Ligo a televisão e sintonizo um daqueles canais de séries que não nos obrigam a movimentar qualquer sinapse para compreendermos o enredo. Circulo pela casa, sem ligar grande coisa ao que se passa no rectângulo, terminando a deambulação na cozinha. Enfio no microondas os despojos do empadão de alheira e espinafres que sobrou daquele jantar, aquele que quase fez vítimas, coloco o prato no tabuleiro e sento-me no sofá frente ao ecrã. Um hambúrguer aparece centrado na imagem e chama-me a atenção para a cena da minha vida que ali se reproduz com todo o pormenor. Antes de desligar a televisão e voltar ao "Russo na América", ainda me detenho a escutar por segundos, a ironia mascarada de banda sonora, que acompanha as imagens. Desligo os estímulos visuais e auditivos e abro o livro para me embrenhar na violência das máfias de leste. Visto de fora, parece-me ser este o melhor plano para apaziguar o arrepio indelével, que este reflexo de espelho colou na minha pele.
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