quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

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Durante meses estiveste à distância de dois cliques. Observava o circulo verde que te precedia o nome e amaldiçoava o mundo, o meu mundo, o teu mundo, o mundo que não é nosso. Não te queria ali. Não te queria tão próximo, tão acessível. Nos dias mais difíceis, recorrentemente aproximava a seta branca das letras. Colocava-a em cima delas. Aproximava o dedo indicador direito do botão mágico que me dava acesso a ti, e depois retrocedia e tentava ocupar a mente com alguma tarefa inútil, daquelas que me atribuem dia atrás de dia, atrás de dia, daquelas que me pagam a sobrevivência e os luxos. Nas poucas vezes em que empurrei o indicador, ou melhor, nas poucas vezes em que o indicador desrespeitou a minha vontade e autonomamente caiu sobre o botão, rapidamente percebi que a desobediência me sairia cara. Invariavelmente começava um intercâmbio de palavras com ilusão e euforia e terminava-o desconsolada e vazia. Aquilo que poderia ser a esperança da mudança, da resolução, rapidamente se diluía num confuso emaranhado de vocábulos inertes e desoladores. Aos poucos, aquilo que ansiava por construir, desmoronava-se. As palavras mágicas que poderiam mudar o mundo não eram escritas. Nada mudava, tudo voltava ao fim. E eu voltava a amaldiçoar a tua presença, e rogava aos céus para que levassem a bola verde para longe.
E agora os deuses fizeram-me a vontade. O círculo tornou-se cinzento. E eu, que desejei o teu desaparecimento no meio dos bits e dos bytes, só quero ter de volta a cor da esperança. Só quero saber-te de novo à distância de dois cliques. Nem que seja para voltar a desejar que te evapores para fora da minha atmosfera.

3 comentários:

  1. Temos de ter cuidado com aquilo que desejamos, porque só depois de se concretizar é que muitas vezes percebemos que não era bem aquilo que nos ía fazer bem. E se o verde sempre foi a côr da esperança... já o cinzento deixa um vazio dificil de entender e de preencher...principalmente nos dias maus.

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  2. Pois é...
    Parece que somos mesmo é muito ligados às indefinições.
    bjs

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  3. Agora é ir em frente e não olhar para trás, resistiu, já faltou mais.

    (não olhe para trás, não vale a pena)

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