domingo, 23 de fevereiro de 2014

Madrugada

Discutíamos as cantoras portuguesas. Ele apaixonado, eu desencantada.
 
- Mas ela escreve as letras. Ouve bem. É muito boa.
- Queres que te escreva uma. É já.
- Então escreve.
- Já está. (só falta alguém que a queira cantar)
 
 
Madrugada
 
Numa noite estrelada
Lá no meio do nada
Um cometa passou
E o desejo voou:
“Aquela boca beijar
E o tempo parar,
Com um olhar apagar
Toda a luz que restou”
 
 
No sossego do escuro
A guitarra tocou
Num disco que riscou,
O vento sem acalmar
A pele eriçou,
O peito quase a estoirar,
Um sufoco na alma,
O mundo que era calma
Para sempre mudou
Numa noite estrelada
Em que o cometa passou.

Esse cheiro de mar, insistente no ar
Arrepia-me, dobra-me, faz-me sonhar
Um delírio eterno, faz o mundo a girar
Esse abraço, para sempre, quero guardar
 
E quando o vento gelou,
E a paixão esmoreceu
No meu corpo e no teu,
Eu fiquei acordada
À espera, sentada
Que um milagre de santa
Numa nuvem montada,
Te fizesse voltar.
 
Mas a santa falhou
E o regresso tardou.
A paixão pereceu
Mas a promessa de amor
Num acto de teimar
Nunca se esgotou.
Para sempre ficou
Agarrada à carne
Que num dia de sol
Deste corpo brotou
 
Esse cheiro de mar, insistente no ar
Arrepia-me, dobra-me, faz-me sonhar
O delírio secou, e o mundo parou
O abraço desfez-se, o silêncio ficou.
 

1 comentário: